de BHAGAVAN SRI RAMANA MAHARSHI
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Comentário de "WHO" (K. LAKSHMANA SARMA)
Extrato:
Versículos Invocatórios
ॐ
INVOCAÇÃO - I
Pode haver um
sentimento (consciência) de existência, sem algo que é (existe)?
Pode
haver uma verdadeira consciência (Realidade) diferente de "Aquele que
é"?
Uma
vez que "Aquele que existe" habita, desprovido de pensamentos, no
Coração
-
Ele próprio se chama Coração -
Quem
é que pode meditar sobre "Aquele que é" (Satvastu) e Como
meditar?
Saiba
que para meditar sobre "Ele", é ser como "Aquele Satvastu é"
ॐ
Sri Bhagavan, que sempre permaneceu em Sahaja Samadhi - a experiência de união de Brahman e Atman - ensina neste Texto: REALIDADE EM QUARENTA VERSOS (ULLADU NARPADU) o caminho directo para o estado que ele tinha percebido como sendo a sua própria experiência constante, isto é, o Estado de Libertação, para que os devotos ou aspirantes possam procurar e permanecer nesse estado Imaculado de Atman Não-dual (este estado é diferente de qualquer outra coisa porque é um estado de não dualidade). Não há objecto a ser conhecido; nem há um sujeito, um conhecedor, a alma; portanto, não há conhecimento).
Comentário ao Versículo Invocatório 1
Apesar de haver três enunciados neste venba*, como o primeiro enunciado tem duas asserções diferentes, podemos considerar que este verso contém quatro enunciados. O tema fulcral do Texto, nomeadamente "Aquilo que é" (Satvastu), é também o fundamento da Invocação. Adicionalmente, é-nos dito que permanecer verdadeiramente como a substância desse Satvastu - e não como se estivéssemos permanentemente separados desse Vastu - constitui a Sua meditação. Como o próprio Bhagavan se encontra sempre estabelecido como a substância d'Aquilo, ele é par excellence o meditador incessante desse Vastu, e podemos considerar que este versículo é igualmente uma invocação a essa Forma de meditação (nomeadamente Bhagavan)!
1) Pode haver um sentimento (consciência) de existência, sem algo que é (existe)?
Aqui, é proposto que se considere a conclusão
de que existe um Satvastu (Aquilo que é). Considerando inevitável ou estabelecida a conclusão sobre a irrealidade da tríade aparentemente real - mundo, Deus e jiva, torna-se necessária a Verdade de um substrato que forneça a base para o seu aparecimento. Portanto, definitivamente existe um Satvastu - Aquilo que é - que nas Upanishads se chama de Brahman. Esse é o ensinamento aqui transmitido, e constitui a primeira das duas asserções do mesmo enunciado.
Bhagavan explicou este conteúdo da seguinte forma:
"Toda a gente percebe o mundo e a si mesmo, que percebe o mundo. E considera os dois como reais. Se eles são reais, eles devem continuar a brilhar ininterruptamente, sem desaparecer. Mas brilham apenas intermitentemente e não constantemente. Aparecendo em sonho e em estados de vigília, desaparecem em sono profundo. Por outras palavras, eles aparecem quando a mente se manifesta, e não aparecem quando a mente não se manifesta. Portanto, surgindo e desaparecendo com a mente, eles são co-extensivos com ela. Daí que, o jiva que percebe, e o espectáculo do mundo percebido, são apenas formas-pensamento da mente e não são reais. Aquilo a partir do qual os pensamentos da mente emanam e no qual eles desaparecem é o Verdadeiro Vastu que brilha ininterruptamente."
Um verso no capítulo II da Bhagavad Gita (Nunca há qualquer existência [real] para o irreal; nem há qualquer não-existência para o Real) certifica a verdade aqui declarada, ou seja, a distinção entre o Vastu Real e meras aparências irreais é que, o que aparece de forma intermitente é irreal e o que brilha ininterruptamente é real.** O mesmo conteúdo é ilucidado no Versículo 7 também:
Os dois, o mundo e a mente, surgem e desaparecem juntos simultaneamente; mas o mundo é iluminado apenas pela mente. A Eterna, Perfeita e Toda a Verdade é Aquela apenas, na qual o mundo e a mente surgem e desaparecem, e que por si só brilha sem se levantar nem se pôr.
A afirmação de Sri Gaudapada de que "O que não tinha existência no início e não vai existir depois de algum tempo é não-existente, mesmo no período intermédio (durante o qual parece existir)" também vem corroborar esta verdade. Aqueles que aceitam esta definição da Verdade são Advaitinos; os outros são Dvaitinos. No entanto todos os credos são aceitáveis para Sri Bhagavan.
A analogia de uma corda que parece uma cobra é usada para explicar a afirmação aqui enunciada de que, embora o aparecimento do mundo seja irreal, existe um Satwastu como sua base ou substrato. Assim como a corda é real e a cobra uma falsa aparência, os elementos da tríade, o jiva (a alma individual), Deus e jagat*** (o mundo) são irreais, e apenas Brahman é a única Realidade.
Uma vez que nenhuma cobra pode aparecer na ausência de uma corda, a corda, a realidade de base, é chamada de adhisthana - substrato. Como uma cobra é uma mera aparência, imaginada e projectada, é chamada de aropitam - sobreposição. Da mesma forma Brahman - Aquele que é - é o Substrato. O jiva, Deus e o mundo são sobreposições imaginadas sobre Ele.
Esta analogia lança luz sobre uma outra verdade. A aparência da cobra imaginada obscurece a corda - o substrato - e a corda brilha como corda somente quando a cobra imaginada deixa de aparecer, provando assim que é da natureza da sobreposição (aropitam) esconder eficazmente a verdade do substrato (adhisthana). Uma vez que "o que é" é apenas "UM", a falsa aparência imaginada n'Ele apenas O pode velar. Da mesma forma, o mundo sobreposto obstrui e impede a verdade de Brahman (adhisthana) de brilhar. Embora o que é, é a única Realidade, Brahman, o Único, Ele aparece como o mundo e não como "Ele É", em seu Esplendor.
Enquanto Brahman é visto como o mundo, Brahman não brilhará como Brahman. Apenas no estado de Conhecimento, no estado de Experiência de ser o Ser, quando a aparência do mundo se desvanece, Brahman brilhará na sua verdadeira Forma - em todo o esplendor de Uma Realidade Ininterrupta - O Ser.
Esta natureza, de aparência e velamento é chamada de maya. A sua natureza inerente é fazer o real aparecer como irreal e o irreal aparecer como o real. Precisamente por causa desse poder de maya, o homem permanece em ilusão, tomando o mundo irreal pelo real, e ele próprio - um jiva - inextricavelmente aprisionado nele. Embora, na verdade, não exista tal coisa como maya, a pessoa torna-se consciente desta verdade somente após a Experiência de ser o Ser. No entanto, até ao despontar do Esclarecimento, durante o período em que o mundo parece real, a noção de que maya existe tem de ser aceite. Todos sabem por experiência própria comum que muitas vezes uma coisa parece ser outra coisa. Da mesma forma, apesar de Satvastu - "Aquilo que é" - permanecer sem nomes e formas, transcendendo tempo e espaço, com absoluta não-diferença, apenas Puro Ser e Consciência, nós O percebemos como o mundo. Ao discípulo que questiona a razão para essa distorção, o mestre lhe diz que é a função de maya conhecida como ignorância - a ignorância primordial - ou ajnana.
Mas "Aquilo que é", Satvastu, não sofre nenhuma alteração e permanece sempre o mesmo, nunca se desviando da Sua própria Natureza. Esta verdade é chamada Ajāta Siddhāntam (A Verdade de Não-Tornar-Se). Isto está em sintonia com a Verdade experienciada pelos sábios e pela lógica racional.
A ilusão mental do observador (jiva) é a causa da aparência de uma cobra numa corda. Sendo este observador senciente - com consciência - o aparecimento de uma cobra é devido à consciência errada gerada pela ilusão mental.
A Consciência necessária para Satvastu brilhar, tanto como Ele é na verdade ou como o mundo
irreal, não é outra senão o Próprio Satvastu.
"Aquilo que é", é Ele mesmo a forma da Consciência; uma massa sólida de jnana (Conhecimento), ou seja, jnana personificado. Na verdade não há outra consciência para além
d’Ele, para Ele brilhar, e Ele brilha por Sua própria luz de Consciência, em sua Refulgência
Auto-reveladora , ou seja, o Ser é Auto-revelado.
É claro o facto de que apenas Brahman, a forma da Consciência, permanece como a luz
reveladora, tanto quando Brahman aparece como o mundo durante o período de
ignorância, como quando Brahman brilha como Ele é - como O Ser - simplesmente
como Ser Consciência.****
Um outro significado que é recolhido nesta frase é que, como não existe Verdadeira Consciência separada de Brahman, aquele que é chamado de jiva, que não tem existência real aparecendo como se fosse diferente de Brahman, é uma consciência espúria. Aquele que, como observador contempla o espectáculo do mundo, é essa consciência espúria, o jiva. Bhagavan explicou que este jiva, o observador, também é uma parte da aparência do mundo, e este tema é clarificado a seguir, no mesmo verso.
Bhagavan dá a este jiva o nome de poliuyir - alma espúria ou irreal ou alma de imitação, num dos versículos suplementares (versículo 17). Cidabhasa - a consciência reflectida ou consciência espúria, de que falam os Textos do Vedanta, é este jiva. Homens sob a influência da ignorância, consideram-no como o 'Ser' ou Atman, dão-lhe o nome de jivatman e a Deus de paramatman, e falam como se houvesse dois Atmans!! A instrução outorgada é que, além de Brahman, Ulladu (Aquilo que é) não há nenhum outro como jiva. Esta é a doutrina da união de Atman e Brahman, o ensinamento central das Upanishads e acolhido por Sri Sankara também. Esta é a Verdade Transcendental que brilha em todo o seu esplendor no Estado de Conhecimento ou no estado de Experiência de ser o Ser, mas nós, na densa escuridão da ignorância, incapazes de compreender esta Verdade, tomamos o jiva espúrio pelo Ser, e tudo o mais como diferente dele.
Do acima exposto claramente resulta que Brahman, Ulladu (Aquilo que é) é a única verdade e é também a Consciência que se revela a Si mesma; apenas Brahman é o Ser (Atman); e não existe nada, senciente ou insenciente, diferente Daquilo. Aquilo permanece sem qualquer tipo de distinção tal como a testemunha e o espectáculo percebido. Esta é de facto a doutrina do Advaita. Advaita significa o Um sem um segundo.
Aqui não está a ser transmitido que Brahman é Um com Consciência ou Sabedoria ou Conhecimento, mas sim que Ele próprio é Consciência. Qual é então o significado? Aquele que tem consciência ou conhecimento como sua função ou atributo é simplesmente o intelecto, que não é nada mais do que a mente. Consciência ou Conhecimento não é a natureza inata da mente, mas é a sua propriedade ou função. Portanto, este conhecimento da mente é inconstante e impermanente. No estado de sono sem sonhos a consciência da mente desaparece. Ao contrário desta, a Consciência que é a natureza e forma de Brahman é Eterna e imutável porque a Consciência não é Sua função. A Consciência inalienável, a própria forma de Brahman, é imperecível, ao contrário da mente que perde a consciência e se extingue quando mergulha no desfalecimento ou durante o sono. A forma da Sua Consciência é inviolável e não afectada pelo Tempo, espaço ou por qualquer outro factor. Ela permanece por si só, em absoluta 'solidão', mesmo quando todos os mundos se tornam nada, se extinguem.
Embora a afirmação de que "Brahman é a própria forma da Consciência ou Conhecimento" tenha o direito de ser aceite por nós pela pura força do próprio ensinamento, também pode ser verificada através de raciocínio lógico suportado pelo método de inferência. A primeira das duas asserções do primeiro enunciado contém esse tipo de raciocínio, em que percebemos que Brahman é realmente a origem de onde a mente e os pensamentos surgem, e na qual desaparecem. A mente é senciente ou um objecto com consciência, o que implica que o objecto de onde surge, ou é com consciência ou é a própria Consciência. Se for meramente com consciência, torna-se apenas um outro objecto como a mente e não pode ser Sat ou uma entidade permanente, ou "Aquilo que Sempre é". Portanto, "Aquilo que é" nem é insenciente (jada) nem com Consciência. Então o que é? Então, na verdade é Consciência ou Chit ou Chaitanya, é a Própria Senciência. A doutrina conclusiva da totalidade do Vedanta é que o Ser que é Brahman não é Um com Consciência, mas é sim Chaitanya, a Própria Senciência. Por isso é chamado de Sat-Chit.
Existem ainda outros argumentos, e o raciocínio lógico é o seguinte: uma vez que não se pode dizer de Brahman que é Um com consciência, Ele ou é jada - insenciente, ou chaitanya - senciente. Se não é jada, pode inferir-se que Ele é senciente. Não pode ser chamado de insenciente, porque isso implicaria que Ele não é Auto-refulgente, pois tudo o que é jada ou insenciente, não sendo Auto-revelador, brilha com a luz de alguma outra consciência. Então surge a pergunta "por qual luz de consciência Brahman brilha?"; à qual o indagador responderá "por uma senciência ou consciência que é diferente de Aquilo. "De imediato seria perguntado se esse Chit ou consciência é Sat ou Asat (O teste da Realidade é a continuidade de existência sem mudança - deve ser sempre real; estar presente em todos os tempos; não confinada por nomes e formas ou outras limitações). Não se pode presumir que é asat porque nada pode brilhar pela luz de 'asat'. Se for dito que é 'sat', então Aquilo terá que ser necessariamente sat e chit, o que significa que o mesmo vastu pode ser ambos, sat e chit. Este raciocínio foi aceite e nada nos impede de concluir que o referido sat - Brahman - é também chit. Esta é a conclusão mais lógica. Que Sat, que é o substrato do mundo, é Auto-revelador na Sua própria Auto-refulgência, não necessitando de qualquer outra consciência para O revelar. Se este raciocínio for rejeitado, alegando que esse Sat é não-Auto-refulgente, pela mesma lógica também não se pode presumir que o 'Chit' é Auto-refulgente, e necessitará assim de outro Chit para o iluminar e revelar o chit anterior. Deste modo, a projecção de incontáveis chits não-Auto-refulgentes terá de continuar ad infinitum, e o argumento iria sofrer da falácia de anavasta dosam, de o tornar interminável. Por tudo isto, Brahman, o Satvastu, Aquilo que é, é por si só Chit, é a conclusão justa e lógica, e qualquer coisa em contrário deve ser considerada falaciosa.
Vemos assim de forma conclusiva que a natureza de Brahman possui dois aspectos: nomeadamente 'Existência' (Sat) e 'Consciência' (Chit), vindo desse modo a ser conhecida como Sat-Chit.
Sat significa 'Aquilo que é' e Chit significa 'O Sentimento de Existência' ou 'Consciência' ou Jnana ou Senciência.
Não se deve ceder à ilusão, perguntando: "Isso é tudo Svarupa - a natureza e forma de Brahman?" O que se tem tentado revelar é que a natureza de Brahman é diferente do mundo irreal e da mente, e não é de modo algum uma descrição integral do Svarupa ou da natureza real de Brahman que só pode ser conhecida pela mais directa e imediata experiência e não por qualquer outro modo, lógico ou não.
O facto de que Brahman é a forma de Chit não significa de modo algum que a mente, que é aparentemente senciente, seja na verdade Chit. Que ela é jada ou insenciente, tal como o mundo, é o que é afirmado e melhor explicado no Versículo 22 do Texto (Ulladu Narpadu):
O Ser - o Senhor, Que é Pura Consciência, empresta a luz da Consciência à mente e brilha dentro da mente (no Coração). Como podemos então conhecê-Lo pela mente, excepto voltando a mente para o interior, para longe dos fenómenos objectivos do mundo, e unificando-a com o Senhor?
Se nós somos, em Verdade, esse Sat-Chit-Ananda, Brahman, por outras palavras, se Aquilo é o nosso Ser, então porque não percebemos a nossa verdadeira Realidade? Por que nos consideramos estes jivas maldosos, ou estes corpos, ou estas pessoas mundanas expostas às amarras do samsara? A frase seguinte fornece a resposta a esta pergunta.
no Coração - Ele próprio se chama Coração -
Quem é que pode meditar sobre "Aquele que é" (Satvastu) e Como meditar?
O próprio Bhagavan graciosamente explicou que, nesta frase, a palavra evan, no original Tamil, deve ser tomada em dois sentidos, como "Quem" e "Como".
Este enunciado afirma que Brahman é sem mente e sempre tranquilo. Reside no 'Coração', chamado ullam ou hrdayam. Esse Brahman, "Aquilo que é", brilha como Ele é, apenas no Coração, onde a mente está extinta. Numa mente exteriorizada e activa (numa mente extrovertida), Ele não brilhará como Ele é verdadeiramente, o que significa que Ele aparecerá somente como a alma individual, Deus e o mundo. Esta é uma das muitas razões por que Brahman está além da contemplação pela mente.
Uma delas está exposta no Versículo 22 acima transcrito - transmitindo a luz da Consciência à mente. Duas razões são aqui postuladas. Uma delas é que a natureza da mente é sobrepor, no Imaculado Brahman Não-dual, diferenças imaginadas e venerá-las como sendo a Realidade. A outra é que um ser senciente - um jiva - não existe separado de Brahman, para O poder contemplar.
Analisemos a primeira. A mente cria um imaginário "dentro" e um imaginário "fora" e ainda cria, no imaginário fora, muitos mundos, os outros jivas ou almas individuais, e Deus. Esta é a natureza inata da mente. Já vimos que Brahman é a única Verdade de base como o substrato para todas essas projecções imaginárias, e como tal elas são meras sobreposições no Brahman. Pela lógica de que as sobreposições imaginadas escondem e impedem a Verdade fundamental da realidade do terreno subjacente brilhar tal como realmente é, percebemos que o mundo projectado e outros adjuntos externos impedem o Adhisthana - Brahman - de brilhar como Ele é. Enquanto a mente se mantiver exteriorizada, Brahman aparecerá como o mundo, a alma individual e Deus, e não como Brahman. Mas se a mente se volta para dentro, unindo-se com o Coração - o local da sua origem - dissipa-se a sua natureza como mente. Então, desaparecendo a tríade imaginada, Brahman brilha como o Ser, sem qualquer impedimento; embora a mente não consiga saber nem percepcionar isso.
Embora se fale aqui do "Coração" - ullam - como sendo a morada de Brahman, dado que na verdade Ele não é diferente de Brahman, não é nem um local ou uma morada, nem é Brahman confinado a apenas um lugar específico. Diz-se que o Coração é a morada de Brahman para sublinhar a necessidade de o aspirante desejar a Experiência de Ser o Ser, de se voltar para dentro, abandonando a tendência da mente de ser exteriorizada. Esse ullam, o Coração, que é o próprio Brahman e Brahman é o Coração, é elucidado pelas palavras ullamenum ulla porul - o Satvastu que é ullam.
Dizer que Brahman está no Coração, significa que Ele brilha como Ele é com a submersão da mente, e não brilhará quando a mente exteriorizada se entrega a actividade intensa. Então, a tríade imaginada irá velar Brahman: assim compreende-se que Brahman não poderá ser conhecido por quem tem apegos exteriores.
A outra razão avançada é que não há nenhum Ser senciente que não seja Brahman, que seja separado d'Ele, para O contemplar. O jiva que se orgulha de ser conhecedor de outros objectos, já vimos isso, é um jiva espúrio - poliuyir. Quando a mente está voltada para fora, tal pessoa aparecerá como real; mas se a mente, voltada para dentro, desaparece no Coração, ela extingue-se. Sendo uma entidade imaginada, não existe ninguém para contemplar Brahman. Diz-se que Brahman não pode ser contemplado.
Mas então, existe ou não uma forma de meditar (ulluvadarku) no Ser ou Brahman? O quarto enunciado deste venba dá uma resposta que vem ao encontro desta pergunta.
4) Saiba que para meditar sobre "Ele", é ser como "Aquele Satvastu é".
É permanecer no Coração sem pensamentos.
O significado desta frase é que a verdadeira meditação sobre a Realidade Suprema (Brahman) é ser como Esse Brahman (Ser) é, no estado livre de pensamentos.
A mente mergulhada interiormente, tornando-se unida como um só com Brahman que não é senão o Coração, perdendo a sua natureza como mente e permanecendo como Ser, 'sem-movimento' e Paz Quiescente, é meditação verdadeira. Este é chamado o Estado de Experiência do Auto-Conhecimento.
Embora seja descrito como 'meditação', não é conduzido pela mente. A contemplação pela mente é acompanhada pela tríade de meditador, objecto de meditação, e a meditação. Mas este estado é desprovido de um triputi. Além disso, como nenhuma outra forma de meditação é aceitável, esta em si mesma é chamada de 'meditação'. Bhagavan costumava dizer, Puja, Visão, Devoção e Conhecimento todos são apenas isto. Todos eles estão contidos neste. Este estado é chamado de Libertação e Turiya. O caminho directo para a mente se tornar voltada para dentro e se afundar no Coração - a Sadhana - é elucidado no Versículo 28 e em alguns outros também.
Este enunciado afirma que Brahman é sem mente e sempre tranquilo. Reside no 'Coração', chamado ullam ou hrdayam. Esse Brahman, "Aquilo que é", brilha como Ele é, apenas no Coração, onde a mente está extinta. Numa mente exteriorizada e activa (numa mente extrovertida), Ele não brilhará como Ele é verdadeiramente, o que significa que Ele aparecerá somente como a alma individual, Deus e o mundo. Esta é uma das muitas razões por que Brahman está além da contemplação pela mente.
Uma delas está exposta no Versículo 22 acima transcrito - transmitindo a luz da Consciência à mente. Duas razões são aqui postuladas. Uma delas é que a natureza da mente é sobrepor, no Imaculado Brahman Não-dual, diferenças imaginadas e venerá-las como sendo a Realidade. A outra é que um ser senciente - um jiva - não existe separado de Brahman, para O poder contemplar.
Analisemos a primeira. A mente cria um imaginário "dentro" e um imaginário "fora" e ainda cria, no imaginário fora, muitos mundos, os outros jivas ou almas individuais, e Deus. Esta é a natureza inata da mente. Já vimos que Brahman é a única Verdade de base como o substrato para todas essas projecções imaginárias, e como tal elas são meras sobreposições no Brahman. Pela lógica de que as sobreposições imaginadas escondem e impedem a Verdade fundamental da realidade do terreno subjacente brilhar tal como realmente é, percebemos que o mundo projectado e outros adjuntos externos impedem o Adhisthana - Brahman - de brilhar como Ele é. Enquanto a mente se mantiver exteriorizada, Brahman aparecerá como o mundo, a alma individual e Deus, e não como Brahman. Mas se a mente se volta para dentro, unindo-se com o Coração - o local da sua origem - dissipa-se a sua natureza como mente. Então, desaparecendo a tríade imaginada, Brahman brilha como o Ser, sem qualquer impedimento; embora a mente não consiga saber nem percepcionar isso.
Embora se fale aqui do "Coração" - ullam - como sendo a morada de Brahman, dado que na verdade Ele não é diferente de Brahman, não é nem um local ou uma morada, nem é Brahman confinado a apenas um lugar específico. Diz-se que o Coração é a morada de Brahman para sublinhar a necessidade de o aspirante desejar a Experiência de Ser o Ser, de se voltar para dentro, abandonando a tendência da mente de ser exteriorizada. Esse ullam, o Coração, que é o próprio Brahman e Brahman é o Coração, é elucidado pelas palavras ullamenum ulla porul - o Satvastu que é ullam.
Dizer que Brahman está no Coração, significa que Ele brilha como Ele é com a submersão da mente, e não brilhará quando a mente exteriorizada se entrega a actividade intensa. Então, a tríade imaginada irá velar Brahman: assim compreende-se que Brahman não poderá ser conhecido por quem tem apegos exteriores.
A outra razão avançada é que não há nenhum Ser senciente que não seja Brahman, que seja separado d'Ele, para O contemplar. O jiva que se orgulha de ser conhecedor de outros objectos, já vimos isso, é um jiva espúrio - poliuyir. Quando a mente está voltada para fora, tal pessoa aparecerá como real; mas se a mente, voltada para dentro, desaparece no Coração, ela extingue-se. Sendo uma entidade imaginada, não existe ninguém para contemplar Brahman. Diz-se que Brahman não pode ser contemplado.
Mas então, existe ou não uma forma de meditar (ulluvadarku) no Ser ou Brahman? O quarto enunciado deste venba dá uma resposta que vem ao encontro desta pergunta.
É permanecer no Coração sem pensamentos.
O significado desta frase é que a verdadeira meditação sobre a Realidade Suprema (Brahman) é ser como Esse Brahman (Ser) é, no estado livre de pensamentos.
A mente mergulhada interiormente, tornando-se unida como um só com Brahman que não é senão o Coração, perdendo a sua natureza como mente e permanecendo como Ser, 'sem-movimento' e Paz Quiescente, é meditação verdadeira. Este é chamado o Estado de Experiência do Auto-Conhecimento.
Embora seja descrito como 'meditação', não é conduzido pela mente. A contemplação pela mente é acompanhada pela tríade de meditador, objecto de meditação, e a meditação. Mas este estado é desprovido de um triputi. Além disso, como nenhuma outra forma de meditação é aceitável, esta em si mesma é chamada de 'meditação'. Bhagavan costumava dizer, Puja, Visão, Devoção e Conhecimento todos são apenas isto. Todos eles estão contidos neste. Este estado é chamado de Libertação e Turiya. O caminho directo para a mente se tornar voltada para dentro e se afundar no Coração - a Sadhana - é elucidado no Versículo 28 e em alguns outros também.
Assim como uma pessoa mergulha profundamente na água contendo a respiração e a fala para recuperar um objecto caído nela, assim também deve um buscador, com a firme determinação de encontrar a origem de onde surge o ego como "eu", mergulhar fundo no Coração com uma mente aguda e uni-direccionada, controlando o pensamento e a respiração, e conhecê-l'O.
ॐ
ॐ
Exegese: Brahman, na sua forma nirguna - sem atributos - foi realçado no primeiro Versículo invocatório, mas aparece também com forma e atributos - saguna, em favor de outros devotos. Quando a mente muda para o Estado Sem-Ego, Brahman é nirguna - sem atributos, e é saguna - com atributos, quando a mente é funcional. Então é chamado de Isvara ou Deus. Aqueles que amam a Deus com devoção pura, finalmente oferecem-Lhe o seu próprio ser (o seu ego), tornando-se assim o adequado recipiente da Sua Graça, e obtêm a mesma Experiência Não-dual de Ser o Ser. A demonstração desta verdade forma o conteúdo do segundo versículo invocatório.
ॐ
INVOCAÇÃO - II
Pessoas virtuosas, tomadas por intenso
medo da morte, para afastar esse medo,
procuram
o Senhor como refúgio e rendem-se a Ele, Que é livre de nascimento e morte.
Assim, o seu ego ('eu'), juntamente com os seus apegos (meu), é destruído.
Tendo-se
tornado imortais, irão entreter o pensamento da morte?.
ॐ
Comentário ao Versículo Invocatório 2
O medo da morte assalta todos em algum momento no tempo, mas passa logo depois sem que o choque tenha tido qualquer impacto significativo. Os sentimentos desencadeados por encontros imediatos com a morte são de curta duração e extinguem-se pelo usufruto de objectos de prazer, como boa comida, etc. Mas os homens de maior calibre e feitos de material mais resistente, não permitem que o impacto da morte sobre eles se desvaneça, mas que sempre os lembre de buscar imediatamente um esclarecimento e alcançar uma meta sublime.
Para os homens enredados na maya do mundo e escravizados pela ignorância, os problemas dolorosos da vida do samsara são apenas degraus que conduzem à porta da Libertação. Bhagavan diz:
"Quando alguém sonha durante o sono, enquanto os sonhos são agradáveis e felizes, não acordará do sono, mas visões dolorosas ou assustadoras vão sacudi-lo e acordá-lo. Enquanto o mundo aparentar ser uma extensão de prazer plácido, a pessoa mundana (mergulhada no samsara) não acordará do mundo de maya para a sua própria Verdade. Só os encontros com o aspecto trágico de maya, ou o medo da morte, podem conduzi-la para a Libertação."
Embora se tenha conhecimento da certeza da morte, o medo da morte não surge intensamente até que se fique cara a cara com ela. O conhecimento nascido da experiência pessoal de que a vida terrena é cheia de sofrimento, leva, através do desapego, em direcção a nivritti marga, o caminho do afastamento da actividade, ou da renúncia. Alguns personagens altamente ilustres, pelo mero pensamento da própria morte, ou por reflectirem sobre ela, voltam-se para o caminho do conhecimento e obtêm a Libertação. O Senhor Buddha e Bhagavan Sri Ramana, que concedeu este Texto, são pessoas assim.
A mente que assim se afastou do mundo mundano e seu cativeiro enleante, caminha sob a influência da Graça do Senhor Mahesa, que é livre de nascimento e morte. Esta descida da Graça volta a mente para o interior e unifica-a com a Realidade Suprema. Quando o sentimento do ego - o "eu" que surge relacionado com o corpo - em conjunto com as vasanas de várias vidas, é impregnado dessa Realidade Suprema, fica aniquilado. O que permanece é o sem-morte Ser Imortal.
Ahamkara ou o senso-do-ego é a consciência errada de que o próprio corpo é o Ser. Enquanto persistir esta noção errada, a morte do corpo é considerada a nossa própria morte. E o que é aqui revelado, é que o próprio pensamento da morte é destruído com a aniquilação desta consciência errada,
O coração do ensinamento deste Texto é a investigação do Ser - Atma Vicara - a sadhana cuja meta é a Libertação. Isso que ajuda, prepara e orienta a sadhana é satyasatya vivekam, o conhecimento discriminativo entre Sat e asat ou comprovação através de discriminação do que é real e irreal. A Busca do Ser confere àquele que busca a realização da experiência do Ser.
Uma análise detalhada do que significa Discriminação, Investigação e Experiência encontra-se em quase todos os versículos. No entanto, a ordem de seriação no Texto, a um olhar mais atento, revela que os versículos que se detêm na Discriminação ocupam o primeiro lugar, aqueles que elucidam sobre a Vicara ou Investigação vêm a seguir, e finalmente vêm aqueles que descrevem a Experiência. Por essa razão, este comentário foi dividido em três grandes títulos, ou seja, Viveka - Discriminação, Vicara - A Busca e Anubhava - A Experiência, a fim de facilitar uma compreensão fácil, em profundidade e abrangente de todas as três componentes deste Texto.
ॐ
ॐ
* Venba - Uma forma de poesia Tamil clássica.
O Tamil é uma língua dravídica falada no sul da Índia, Sri Lanka, Myanmar, Malásia,
Indonésia, Vietname, Singapura.
** O teste da Realidade é a continuidade de existência sem modificação, o que é a evidência de transcendência do tempo e outros elementos da relatividade.
*** Embora o mundo seja um elemento da tríade, na ausência do mundo, os outros dois deixam de existir. Eles existem apenas quando o mundo existe. Portanto, sempre que o mundo é referido, deve inferir-se que inclui os outros dois.
**** A Refulgência de Brahman é na verdade a razão para o aparecimento do mundo. Não é totalmente velado pelo mundo. A Total consciência ininterrupta de Brahman contrai-se em sentimento de ego e revela o mundo.
ॐ
Advaita: "Não dois", não dual; é um sistema filosófico que sustenta a não realidade, ou
ilusão, de tudo aquilo que não seja a Consciência Suprema, Eterna e Infinita
(Brahman).
O Vedanta caracteriza Brahman como a Realidade (Sat), Consciência (Chit) e
Beatitude (Ananda).
Ahamkara: Ego. O "eu" e suas diversas manifestações, identificando-se com elas.
Atman: É o mais elevado princípio humano, a Essência divina, sem forma e indivisível.
Brahman: A Realidade Suprema, O Absoluto, O Espírito Divino e Infinito.
Jiva: Alma individual, considerada como uma manifestação particular de Atman.
Jivatman: Ser Central, ou Porção do Divino que suporta o Ser individual.
Jnana: Conhecimento.
"o Destruidor ou Transformador"; Brahma "o Criador"; Vishnu "o Preservador".
Maya: Termo filosófico que se refere ao conceito da ilusão que constitui a natureza do
universo.
Paramatman: Atman Absoluto, ou Alma Suprema.
Sahaja: Espontâneo, natural.
Sadhana: Prática espiritual para levar à meta do Yoga.
Sahaja Samadhi: Perfeito estado natural da consciência, de absorção no Eu superior.
Samsara: Perambulação. Fluxo incessante de renascimentos através dos mundos.
Vasanas: Tendências latentes.
Arte da ciência da arquitectura e construção em harmonioso fluxo de energia,
em integração com a natureza e crenças hindus antigas que utilizam padrões
geométricos perfeitos (Yantras), simetria e alinhamentos direccionais.
Toda a Criação é um Vastu.
Gaudapada: Sábio (Séc.VI), uma das figuras mais importantes na Linhagem dos Mestres
do Não-dualismo. Foi o autor-compilador da obra Mandukya Karika, um
tratado sistemático, quintessencial, que contém os termos filosóficos que
delineiam a filosofia do Advaita Vedanta.
Shankara: (788-820) foi um monge errante indiano. Foi o principal formulador doutrinal do
Vedanta não dualista. Foi uma das almas mais excelsas que já encarnaram
neste planeta, chegando a ser considerado uma encarnação do deus Hindu
Shiva. A sua vida encontra-se envolta em mistérios e prodígios que a tornam
semelhante às de outros insignes mestres espirituais da humanidade, como
Jesus, Moisés e Buda.
A sua teologia sustenta que a ignorância espiritual (avidya) é causada pela
visão de um eu onde não existe eu algum.
ॐ
Tradução: Blog Texto Meditativo
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