ॐ
EXCERTOS DE :
A Felicidade e a Arte de Ser
Introdução à filosofia e à prática
dos ensinamentos espirituais de
Bhagavan Sri Ramana
Autor: MICHAEL JAMES
ॐ
A ÚNICA VERDADE TOTAL, QUE INCLUI TUDO DENTRO DE SI MESMA, É O ESPÍRITO INFINITO, A ÚNICA CONSCIÊNCIA QUE TODOS CONHECEMOS COMO
<<EU SOU>>.
Tudo o que parece existir, existe só dentro desta consciência.
As múltiplas formas em que as coisas aparecem são irreais; a única substância real de todas as coisas é a consciência em que elas aparecem.
Portanto, a única verdade sobre a qual falam toda as religiões é o espírito único, omni-inclusivo e não-dual em que todas as coisas aparecem e desaparecem.
ॐ
Cristo não se tomou erradamente a si mesmo como meramente uma pessoa individual cuja vida estava limitada dentro de um certo âmbito de tempo e espaço. Ele conhecia a si mesmo como o espírito real e eterno <<eu sou>> que não está limitado pelo tempo nem espaço. Por isso é que disse <<Antes que Abraão existisse, eu sou>> (São João 8.58).
A pessoa que foi Jesus Cristo nasceu muito tempo depois de Abraão, mas o espírito que é Jesus Cristo existe sempre e em todo o lugar, transcendendo os limites do tempo e espaço. Dado que esse espírito é atemporal, ele não disse <<Antes que Abraão existisse, eu era>>, mas sim <<Antes que Abraão existisse, eu sou>>.
Assim, esse espírito atemporal <<eu sou>>, que Cristo sabia ser o seu próprio ser real, é o mesmo <<eu sou>> que Deus revelou como seu ser real quando disse a Moisés, <<EU SOU O QUE SOU>> (Êxodo 3.14). Portanto, ainda que Cristo nos pareça ser uma pessoa individual separada, ele e seu Deus Pai são de facto uma e a mesma realidade, o espírito que existe dentro de cada um de nós como a consciência fundamental <<eu sou>>. Por isso é que ele disse, <<Eu e o [meu] Pai somos um>> (São João 10.30).
Portanto, quando Cristo dizia, <<Eu sou o caminho, a verdade e a vida: ninguém chega ao Pai senão por mim>> (São João 14.6), pelas palavras <<eu sou>> e <<mim>> ele estava a referir-se não meramente ao indivíduo limitado pelo tempo chamado Jesus, mas sim ao espírito eterno <<eu sou>>, que ele sabia ser o seu ser real. O significado interno das suas palavras, portanto, pode ser expressado assim: <<O espírito "eu sou " é o caminho, a verdade e a vida: nenhum homem chega ao espírito "eu sou", que é o Pai ou fonte de todas as coisas, senão por este mesmo espírito>> .
O espírito <<eu sou>> não é só a verdade ou realidade de todas as coisas, a fonte de onde todas elas se originam, e a vida ou consciência que anima todo o ser senciente, mas é também o único caminho pelo qual podemos voltar à nossa fonte original, a que chamamos com diversos nomes tais como <<Deus>> ou o <<Pai>>. Excepto voltando a atenção para dentro, para o espírito, a consciência que cada um de nós experimenta como <<eu sou>>, não há nenhum outro caminho para voltar e tornar-se um com a nossa fonte. Portanto, a salvação só pode ser obtida não meramente através da pessoa que era Jesus Cristo, mas sim através do espírito que é Jesus Cristo - o espírito eterno <<eu sou>> que existe dentro de cada um de nós.
Cristo não só afirmou a sua unidade com Deus, seu Pai, ele também quis que nos tornássemos um com ele. Antes de ser preso e crucificado, Cristo orou por nós, <<Pai Santo, ... para que todos sejam um, Pai, como tu estás em mim e eu em ti. Que eles também estejam em nós... como nós somos um: eu neles, e tu em mim, para que sejam perfeitamente um>> (São João 17.11 e 21-23). Quer dizer, o propósito de Cristo era que deixássemos de tomar-nos erradamente como um indivíduo separado de Deus e que nos conhecêssemos como o único espírito indivisível, a pura consciência fundamental <<eu sou>>, que é a realidade de Deus. Assim, pois, a unidade ou não-dualidade é o propósito central dos ensinamentos espirituais de Jesus Cristo.
Toda a religião consta de um núcleo vital central de verdade não-dualista, expressada explícita ou implicitamente, e uma grossa couraça externa de crenças, práticas, doutrinas e dogmas dualistas. As diferenças que vemos entre uma religião e outra - as diferenças que ao longo de todos os tempos deram origem a tanto conflito, intolerância e cruel perseguição, e incluso a sangrentas guerras e terrorismo - estão só nas formas superficiais dessas religiões, as suas carapaças externas de crenças e práticas dualistas.
Toda a desarmonia, conflito e contenda que existe entre uma religião e outra surge devido a que a maioria dos seus seguidores está demasiado apegada a um ponto de vista dualista da realidade, que limita a sua visão e os impede de ver o que todas as religiões têm em comum, a saber, a única verdade da não-dualidade subjacente. Portanto, a verdadeira paz e harmonia prevaleceria entre os aderentes das diversas religiões, apenas se todos eles quisessem olhar para além das formas externas dessas religiões e ver a única verdade simples e comum da não-dualidade que reside no coração de todas elas.
Se aceitamos e compreendemos verdadeiramente a verdade da não-dualidade, não teremos motivo para criar desavenças ou lutar com alguém. Em vez disso, estaremos felizes desejando que cada pessoa acredite no que quiser acreditar, porque se uma pessoa está tão apegada à sua individualidade que não quer duvidar da realidade, nenhum tipo de raciocínio ou argumentação a convencerá da verdade da não-dualidade. Portanto, ninguém que verdadeiramente compreenda esta verdade tentará alguma vez convencer a quem não quer. Se alguém tentar forçar a verdade da não-dualidade sobre alguém que não a quer aceitar, só estará a mostrar a sua própria falta de compreensão correcta dessa verdade.
A não-dualidade não é uma religião que necessite de evangelistas para a propagar, ou convertidos que se juntem às suas fileiras. É a verdade e continuará a ser a verdade, tanto se alguém escolhe aceitá-la e compreendê-la, como se não. Portanto, não podemos nem devemos fazer mais do que tornar esta verdade disponível para quem quer que esta disposto a compreendê-la e a aplicá-la na prática.
Muitas pessoas religiosas crêem que é blasfémia ou sacrilégio dizer que somos um com Deus, devido a que entendem erradamente que esta declaração significa que um indivíduo está pretendendo que ele próprio é Deus. Mas quando dizemos que somos Deus, o que queremos dizer não é que como um indivíduo separado sejamos Deus, o que seria absurdo, mas sim que não somos um indivíduo separado de Deus. Ao negar assim que tenhamos alguma existência ou realidade separados de Deus, estamos afirmando que a realidade que chamamos Deus é una, total e indivisa.
Se em vez disso pretendêssemos que estamos na realidade separados de Deus, como a maioria das pessoas religiosas crê que estamos, isso seria blasfémia ou sacrilégio, devido a que implicaria que Deus não é a única realidade. Se tivéssemos alguma realidade nossa separada de Deus, então ele não seria a verdade total, mas apenas uma parte ou divisão de alguma verdade maior.
Se acreditarmos que a realidade que chamamos Deus é verdadeiramente a infinita <<plenitude de ser>>, o único todo ininterrupto, então devemos aceitar que não pode existir nada como algo diferente dele ou separado dele. Só ele existe verdadeiramente, e tudo o mais que parece existir como separado dele, de facto não é senão uma ilusão ou aparência falsa cuja realidade subjacente é Deus. Somente no estado de não-dualidade perfeita está a perfeita glória, totalidade e plenitude de Deus revelado. Enquanto experimentarmos um estado de aparente dualidade tomando-nos erradamente como um indivíduo separado de Deus, estamos a rebaixá-lo, a desonrá-lo, negando a sua unidade, totalidade e infinitude indivisíveis, e convertendo-o em algo menos que a única realidade existente que Ele é verdadeiramente.
Ainda que o propósito interior de todas as religiões seja ensinar-nos a verdade da não-dualidade, nas suas escrituras muitas vezes esta verdade é expressada apenas de uma maneira oblíqua, e só pode ser discernida por pessoas capazes de ler nas entrelinhas com verdadeiro entendimento e compreensão. A razão pela qual a verdade não é expressada mais abertamente, de forma clara e simples, em muitas das escrituras das diversas religiões, é que em qualquer ponto do tempo, a maioria das pessoas não alcançou ainda a maturidade espiritual suficiente para ser capaz de digeri-la e assimilá-la, por assim dizer. Essa é a razão por que Cristo disse, <<Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de as compreender agora>> (São João 16.12). Contudo, ainda que a maioria de nós possa ser incapaz de suportar e aceitar a verdade nua e crua da não-dualidade agora, com o passar do tempo alcançaremos finalmente a maturidade espiritual requerida para compreender e aceitar a verdade como ela é, e não meramente como agora gostaríamos que fosse.
Até que despertemos deste sono profundo do auto-esquecimento, recobrando o nosso estado de auto-conhecimento verdadeiro e natural, sonhos tais como a vida presente continuarão a ocorrer um após outro. Quando este presente corpo <<morrer>>, quer dizer, quando deixarmos de nos identificar com este corpo, que, pelo nosso formidável poder de imaginação projectámos agora como <<eu>>, e pelo qual vemos o mundo presente, nos submergiremos no sono do auto-esquecimento, mas mais cedo ou mais tarde surgirá de novo para projectar outro corpo sonhado como sendo nós e ver através dele outro mundo sonhado. Este processo de passar de um sonho para outro, no grande sono profundo do auto-esquecimento, é o que se chama <<renascimento>>.
Ao passar assim por uma vida sonhada após outra, sofremos muitas experiências que acendem em nós uma clareza de discriminação espiritual pela qual podemos compreender que a vida como um indivíduo separado é um fluxo constantemente flutuante de experiências agradáveis e penosas, e que, portanto, só podemos experimentar a felicidade perfeita e verdadeira conhecendo o nosso ser real e destruindo assim o engano que nos faz sentir como um indivíduo separado. Assim, pois, a verdade da não-dualidade é a verdade última que todos e cada um de nós virá finalmente a compreender e aceitar.
Vim a saber acerca do ensinamento espiritual de Bhagavan em 1976, enquanto viajava pela Índia em busca de algo que desse um significado e propósito à minha vida. O pouco que ouvi pela primeira vez sobre a sua vida e ensinamentos despertou o meu interesse, e foi assim que decidi visitar Tiruvannamalai (a cidade no sul da Índia onde Sri Ramana viveu durante cinquenta e quatro anos) com o fim de aprender mais, e acabei por viver lá durante os vinte anos seguintes.
O primeiro livro de Sri Ramana que li foi uma tradução inglesa do seu breve tratado Nan Yar? - Quem sou eu?, que me atraiu de imediato pela simples, clara e contudo muito profunda verdade nele expressa. Ainda que a minha compreensão inicial tenha sido bastante limitada e superficial, foi suficiente para me convencer de que o que Sri Ramana dizia neste pequeno livro era a verdade última.
Portanto, comecei a ler todos os livros disponíveis sobre os ensinamento de Sri Ramana. Em particular, eu quis compreender claramente a maneira de praticar atma-vichara ou <<auto-investigação>>, que Sri Ramana ensinava como o meio directo para obter o auto-conhecimento verdadeiro.
Lamentavelmente, contudo, a maioria das pessoas que haviam registado ou traduzido os ensinamentos de Sri Ramana em inglês, ou que haviam escrito livros em inglês sobre os seus ensinamentos, parecia não ter uma compreensão muito clara, tanto da filosofia como da prática que ele ensinou. De facto, alguns dos mais populares livros em inglês que então estavam disponíveis, davam explicações confusas e erradas sobre a prática da <<auto-investigação>>, de modo que incluso depois da leitura de vários desses livros, ainda não estava seguro sobre o <<método>> ou <<técnica>> exactos para praticar a <<auto-investigação>>.
Afortunadamente, cerca de duas semanas depois de estar em Tiruvannamalai, emprestaram-me um livro The Path of Sri Ramana de Sri Sadhu Om. Neste livro, Sri Sadhu Om explicava claramente que
Tão clara e convincente era esta explicação de Sri Sadhu Om, que não ficou em mim qualquer dúvida de que esse era o significado real do termo atma-vichara ou <<auto-investigação>> usado por Sri Ramana.
Pouco depois de ler o seu livro, encontrei-me com Sri Sadhu Om, e pareceu-me que estava em condições de responder de uma maneira extremamente clara, simples e convincente a todas as perguntas que lhe fiz sobre a filosofia e prática dos ensinamentos de Sri Ramana. Durante os oito anos e meio seguintes, até ao seu falecimento em Março de 1985, tive a fortuna de poder passar a maior parte da minha vida de vigília na companhia de Sri Sadhu Om, e de adquirir através dele uma compreensão clara da filosofia, da ciência e da arte do auto-conhecimento verdadeiro como é ensinado por Sri Ramana.
Durante esses anos que passei na companhia de Sri Sadhu Om, sob a sua esclarecida orientação, pude estudar os textos originais em Tamil escritos por Sri Ramana, e outras obras importantes tais como Guru Vachaka Kovai, que é a colecção mais completa e fiável das palavras de Sri Ramana, registadas em versos em Tamil pelo seu principal discípulo, Sri Muruganar. Assim, tive a oportunidade única de obter um profundo conhecimento sobre o ensinamento de Sri Ramana, aprendendo directamente dos textos-fonte, na sua língua original Tamil, com a ajuda e guia pessoal de um dos seus discípulos mais próximos (não simplesmente aqueles que foram abençoados por viverem fisicamente perto dele, mas aqueles que seguiram os seus ensinamentos estreita e fielmente).
Não obstante, ainda que não tenha tido a mesma oportunidade que Sri Muruganar de gozar exteriormente de uma estreita e íntima relação com Sri Ramana, interiormente Sri Sadhu Om entregou-se inteiramente a ele, voltando a sua mente para si mesmo para se submergir na clara luz da auto-consciência pura, que é a forma verdadeira de Sri Ramana. Assim, a sua vida é um bom exemplo para aqueles de nós que nunca tiveram a oportunidade de conviver com a forma física de Sri Ramana. Como Sri Ramana ensinou,
A clareza de entendimento única de Sri Sadhu Om, que brilhava através de todas as suas palavras faladas e escritas, brotava tanto da sua devoção sincera e incondicional a Sri Ramana e seus ensinamentos, como da sua própria experiência espiritual profunda, que resultava de tal devoção. Dado que havia apagado inteiramente o seu próprio ego ou sentido de individualidade, ele era como uma lente clara através da qual os ensinamentos de Sri Ramana brilhavam sem obstrução como a perfeita clareza do conhecimento verdadeiro.
Até que nos entreguemos completamente a ele, permitindo que a nossa mente finita seja consumida inteiramente na clareza infinita da auto-consciência pura, que está sempre brilhando no núcleo íntimo do nosso ser, mas que nós escolhemos ignorar devido ao forte apego ao nosso falso sentido de individualidade e a tudo o que surge dele, nunca poderemos ter uma compreensão dos seus ensinamentos verdadeiramente perfeita.
Não só não se consideravam como o guru de ninguém, mas também desanimavam activamente a quem quer que fosse de considerá-los como tal, dizendo que se desejamos praticar sinceramente os ensinamentos de Sri Ramana, ele mesmo actuará directamente como nosso guru, proporcionando-nos toda a ajuda e orientação de que necessitemos para voltar a nossa mente para dentro e desse modo submergir e perder a nossa individualidade separada na luz clara do auto-conhecimento verdadeiro, que é a natureza essencial e real do guru.
Esse espírito infinito e eterno apareceu na forma física de Sri Ramana para ensinar-nos que nós não somos este corpo mortal que agora tomamos erradamente por nós mesmos, e que para nos conhecermos como realmente somos, devemos retirar a nossa atenção de todos os objectos externos e focalizá-la inteira e exclusivamente no nosso verdadeiro eu ou ser essencial. Tendo-nos dado este ensinamento, a forma física de Sri Ramana serviu ao seu propósito como a manifestação externa do guru eterno, de modo que agora a nossa meta não deve ser encontrar outro <<guru vivo>> (um termo que a maioria das pessoas compreende como uma <<pessoa iluminada>> cujo corpo ainda vive), mas sim encontrar o guru interior real, que é o nosso verdadeiro eu e que está sempre esperando atrair a nossa mente para dentro, para que se submerja e se funda na clareza do auto-conhecimento verdadeiro.
Porque ele nunca foi a forma física que parecia ser, mas foi sempre e será sempre o espírito infinito, que é o nosso verdadeiro eu, o guia de ajuda ou a <<graça>> de Sri Ramana nunca pode ser diminuída de forma alguma, e, portanto, não é menos poderosa agora do que o era quando ele parecia estar vivendo numa forma física. Toda a ajuda e orientação de que necessitamos para obter o auto-conhecimento verdadeiro estão disponíveis para nós exteriormente na forma dos ensinamentos de Sri Ramana, e interiormente como <<eu sou>> (a verdadeira forma de Deus e do guru), de modo que tudo o que necessitamos fazer é voltar a nossa atenção para nós mesmos a fim de experimentar a natureza verdadeira desta consciência <<eu sou>>.
Toda a religião consta de um núcleo vital central de verdade não-dualista, expressada explícita ou implicitamente, e uma grossa couraça externa de crenças, práticas, doutrinas e dogmas dualistas. As diferenças que vemos entre uma religião e outra - as diferenças que ao longo de todos os tempos deram origem a tanto conflito, intolerância e cruel perseguição, e incluso a sangrentas guerras e terrorismo - estão só nas formas superficiais dessas religiões, as suas carapaças externas de crenças e práticas dualistas.
Toda a desarmonia, conflito e contenda que existe entre uma religião e outra surge devido a que a maioria dos seus seguidores está demasiado apegada a um ponto de vista dualista da realidade, que limita a sua visão e os impede de ver o que todas as religiões têm em comum, a saber, a única verdade da não-dualidade subjacente. Portanto, a verdadeira paz e harmonia prevaleceria entre os aderentes das diversas religiões, apenas se todos eles quisessem olhar para além das formas externas dessas religiões e ver a única verdade simples e comum da não-dualidade que reside no coração de todas elas.
Se aceitamos e compreendemos verdadeiramente a verdade da não-dualidade, não teremos motivo para criar desavenças ou lutar com alguém. Em vez disso, estaremos felizes desejando que cada pessoa acredite no que quiser acreditar, porque se uma pessoa está tão apegada à sua individualidade que não quer duvidar da realidade, nenhum tipo de raciocínio ou argumentação a convencerá da verdade da não-dualidade. Portanto, ninguém que verdadeiramente compreenda esta verdade tentará alguma vez convencer a quem não quer. Se alguém tentar forçar a verdade da não-dualidade sobre alguém que não a quer aceitar, só estará a mostrar a sua própria falta de compreensão correcta dessa verdade.
A não-dualidade não é uma religião que necessite de evangelistas para a propagar, ou convertidos que se juntem às suas fileiras. É a verdade e continuará a ser a verdade, tanto se alguém escolhe aceitá-la e compreendê-la, como se não. Portanto, não podemos nem devemos fazer mais do que tornar esta verdade disponível para quem quer que esta disposto a compreendê-la e a aplicá-la na prática.
Muitas pessoas religiosas crêem que é blasfémia ou sacrilégio dizer que somos um com Deus, devido a que entendem erradamente que esta declaração significa que um indivíduo está pretendendo que ele próprio é Deus. Mas quando dizemos que somos Deus, o que queremos dizer não é que como um indivíduo separado sejamos Deus, o que seria absurdo, mas sim que não somos um indivíduo separado de Deus. Ao negar assim que tenhamos alguma existência ou realidade separados de Deus, estamos afirmando que a realidade que chamamos Deus é una, total e indivisa.
Se em vez disso pretendêssemos que estamos na realidade separados de Deus, como a maioria das pessoas religiosas crê que estamos, isso seria blasfémia ou sacrilégio, devido a que implicaria que Deus não é a única realidade. Se tivéssemos alguma realidade nossa separada de Deus, então ele não seria a verdade total, mas apenas uma parte ou divisão de alguma verdade maior.
Se acreditarmos que a realidade que chamamos Deus é verdadeiramente a infinita <<plenitude de ser>>, o único todo ininterrupto, então devemos aceitar que não pode existir nada como algo diferente dele ou separado dele. Só ele existe verdadeiramente, e tudo o mais que parece existir como separado dele, de facto não é senão uma ilusão ou aparência falsa cuja realidade subjacente é Deus. Somente no estado de não-dualidade perfeita está a perfeita glória, totalidade e plenitude de Deus revelado. Enquanto experimentarmos um estado de aparente dualidade tomando-nos erradamente como um indivíduo separado de Deus, estamos a rebaixá-lo, a desonrá-lo, negando a sua unidade, totalidade e infinitude indivisíveis, e convertendo-o em algo menos que a única realidade existente que Ele é verdadeiramente.
Ainda que o propósito interior de todas as religiões seja ensinar-nos a verdade da não-dualidade, nas suas escrituras muitas vezes esta verdade é expressada apenas de uma maneira oblíqua, e só pode ser discernida por pessoas capazes de ler nas entrelinhas com verdadeiro entendimento e compreensão. A razão pela qual a verdade não é expressada mais abertamente, de forma clara e simples, em muitas das escrituras das diversas religiões, é que em qualquer ponto do tempo, a maioria das pessoas não alcançou ainda a maturidade espiritual suficiente para ser capaz de digeri-la e assimilá-la, por assim dizer. Essa é a razão por que Cristo disse, <<Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de as compreender agora>> (São João 16.12). Contudo, ainda que a maioria de nós possa ser incapaz de suportar e aceitar a verdade nua e crua da não-dualidade agora, com o passar do tempo alcançaremos finalmente a maturidade espiritual requerida para compreender e aceitar a verdade como ela é, e não meramente como agora gostaríamos que fosse.
A VIDA NESTE MUNDO É UM SONHO QUE ESTÁ OCORRENDO NO GRANDE SONO PROFUNDO DO AUTO-ESQUECIMENTO - ESQUECIMENTO OU IGNORÂNCIA DO NOSSO VERDADEIRO ESTADO DE PURA
AUTO-CONSCIÊNCIA NÃO DUAL.
Até que despertemos deste sono profundo do auto-esquecimento, recobrando o nosso estado de auto-conhecimento verdadeiro e natural, sonhos tais como a vida presente continuarão a ocorrer um após outro. Quando este presente corpo <<morrer>>, quer dizer, quando deixarmos de nos identificar com este corpo, que, pelo nosso formidável poder de imaginação projectámos agora como <<eu>>, e pelo qual vemos o mundo presente, nos submergiremos no sono do auto-esquecimento, mas mais cedo ou mais tarde surgirá de novo para projectar outro corpo sonhado como sendo nós e ver através dele outro mundo sonhado. Este processo de passar de um sonho para outro, no grande sono profundo do auto-esquecimento, é o que se chama <<renascimento>>.
Ao passar assim por uma vida sonhada após outra, sofremos muitas experiências que acendem em nós uma clareza de discriminação espiritual pela qual podemos compreender que a vida como um indivíduo separado é um fluxo constantemente flutuante de experiências agradáveis e penosas, e que, portanto, só podemos experimentar a felicidade perfeita e verdadeira conhecendo o nosso ser real e destruindo assim o engano que nos faz sentir como um indivíduo separado. Assim, pois, a verdade da não-dualidade é a verdade última que todos e cada um de nós virá finalmente a compreender e aceitar.
Contudo, uma mera compreensão e aceitação teórica da verdade da não-dualidade não tem nenhum valor para nós em si mesma, devido a que não eliminará o auto-esquecimento ou a auto-ignorância básica que subjaz ao engano da individualidade.
A aceitação da verdade da não-dualidade só é de utilidade se nos impulsiona a dirigir a atenção para o nosso ser real - A CONSCIÊNCIA FUNDAMENTAL DE SER, que cada um de nós experimenta como <<EU SOU>>
ॐ
Vim a saber acerca do ensinamento espiritual de Bhagavan em 1976, enquanto viajava pela Índia em busca de algo que desse um significado e propósito à minha vida. O pouco que ouvi pela primeira vez sobre a sua vida e ensinamentos despertou o meu interesse, e foi assim que decidi visitar Tiruvannamalai (a cidade no sul da Índia onde Sri Ramana viveu durante cinquenta e quatro anos) com o fim de aprender mais, e acabei por viver lá durante os vinte anos seguintes.
O primeiro livro de Sri Ramana que li foi uma tradução inglesa do seu breve tratado Nan Yar? - Quem sou eu?, que me atraiu de imediato pela simples, clara e contudo muito profunda verdade nele expressa. Ainda que a minha compreensão inicial tenha sido bastante limitada e superficial, foi suficiente para me convencer de que o que Sri Ramana dizia neste pequeno livro era a verdade última.
Portanto, comecei a ler todos os livros disponíveis sobre os ensinamento de Sri Ramana. Em particular, eu quis compreender claramente a maneira de praticar atma-vichara ou <<auto-investigação>>, que Sri Ramana ensinava como o meio directo para obter o auto-conhecimento verdadeiro.
Lamentavelmente, contudo, a maioria das pessoas que haviam registado ou traduzido os ensinamentos de Sri Ramana em inglês, ou que haviam escrito livros em inglês sobre os seus ensinamentos, parecia não ter uma compreensão muito clara, tanto da filosofia como da prática que ele ensinou. De facto, alguns dos mais populares livros em inglês que então estavam disponíveis, davam explicações confusas e erradas sobre a prática da <<auto-investigação>>, de modo que incluso depois da leitura de vários desses livros, ainda não estava seguro sobre o <<método>> ou <<técnica>> exactos para praticar a <<auto-investigação>>.
Afortunadamente, cerca de duas semanas depois de estar em Tiruvannamalai, emprestaram-me um livro The Path of Sri Ramana de Sri Sadhu Om. Neste livro, Sri Sadhu Om explicava claramente que
"A <<auto-investigação>> é simplesmente a prática da auto-atenção, quer dizer, a prática de retirar a nossa atenção ou poder de conhecer, de todos os pensamentos e objectos, e voltá-la para a consciência fundamental do nosso próprio ser, que experimentamos sempre como <<eu sou>>"
Tão clara e convincente era esta explicação de Sri Sadhu Om, que não ficou em mim qualquer dúvida de que esse era o significado real do termo atma-vichara ou <<auto-investigação>> usado por Sri Ramana.
Pouco depois de ler o seu livro, encontrei-me com Sri Sadhu Om, e pareceu-me que estava em condições de responder de uma maneira extremamente clara, simples e convincente a todas as perguntas que lhe fiz sobre a filosofia e prática dos ensinamentos de Sri Ramana. Durante os oito anos e meio seguintes, até ao seu falecimento em Março de 1985, tive a fortuna de poder passar a maior parte da minha vida de vigília na companhia de Sri Sadhu Om, e de adquirir através dele uma compreensão clara da filosofia, da ciência e da arte do auto-conhecimento verdadeiro como é ensinado por Sri Ramana.
Sri Sadhu Om (1922-1985)
Durante esses anos que passei na companhia de Sri Sadhu Om, sob a sua esclarecida orientação, pude estudar os textos originais em Tamil escritos por Sri Ramana, e outras obras importantes tais como Guru Vachaka Kovai, que é a colecção mais completa e fiável das palavras de Sri Ramana, registadas em versos em Tamil pelo seu principal discípulo, Sri Muruganar. Assim, tive a oportunidade única de obter um profundo conhecimento sobre o ensinamento de Sri Ramana, aprendendo directamente dos textos-fonte, na sua língua original Tamil, com a ajuda e guia pessoal de um dos seus discípulos mais próximos (não simplesmente aqueles que foram abençoados por viverem fisicamente perto dele, mas aqueles que seguiram os seus ensinamentos estreita e fielmente).
Sri Muruganar (1893-1973) |
Sri Muruganar |
Como Sri Muruganar, Sri Sadhu Om era um inspirado poeta Tamil que dedicou o seu talento e a sua vida inteira a Sri Ramana. Contudo, enquanto Sri Muruganar viveu com Sri Ramana cerca de vinte e sete anos, e desempenhou um papel íntimo e importante na sua vida, obtendo dele muitas das suas obras mais importantes, tais como Upadesa Undiyar, Ulladu Narpadu, e Anma-Viddai, Sri Sadhu Om viveu com Sri Ramana menos de cinco anos, e portanto não desempenhou nenhum papel significativo na sua vida exterior.
Não obstante, ainda que não tenha tido a mesma oportunidade que Sri Muruganar de gozar exteriormente de uma estreita e íntima relação com Sri Ramana, interiormente Sri Sadhu Om entregou-se inteiramente a ele, voltando a sua mente para si mesmo para se submergir na clara luz da auto-consciência pura, que é a forma verdadeira de Sri Ramana. Assim, a sua vida é um bom exemplo para aqueles de nós que nunca tiveram a oportunidade de conviver com a forma física de Sri Ramana. Como Sri Ramana ensinou,
O verdadeiro sat-sanga ou associação com o guru não é meramente a associação com a sua forma física, mas sim a associação (sanga) com a sua forma verdadeira, que é o nosso verdadeiro eu real ou ser essencial (sat), a realidade infinita, indivisível, não-dual e absoluta.
A clareza de entendimento única de Sri Sadhu Om, que brilhava através de todas as suas palavras faladas e escritas, brotava tanto da sua devoção sincera e incondicional a Sri Ramana e seus ensinamentos, como da sua própria experiência espiritual profunda, que resultava de tal devoção. Dado que havia apagado inteiramente o seu próprio ego ou sentido de individualidade, ele era como uma lente clara através da qual os ensinamentos de Sri Ramana brilhavam sem obstrução como a perfeita clareza do conhecimento verdadeiro.
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Até que nos entreguemos completamente a ele, permitindo que a nossa mente finita seja consumida inteiramente na clareza infinita da auto-consciência pura, que está sempre brilhando no núcleo íntimo do nosso ser, mas que nós escolhemos ignorar devido ao forte apego ao nosso falso sentido de individualidade e a tudo o que surge dele, nunca poderemos ter uma compreensão dos seus ensinamentos verdadeiramente perfeita.
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Algumas pessoas que não conheciam de perto qualquer um deles costumavam dizer que Sri Sadhu Om era discípulo de Sri Muruganar. Da mesma forma, muitas pessoas que não o compreendiam correctamente acreditavam que Sri Sadhu Om estava actuando como um guru, e que eu era seu discípulo. Contudo, nem Sri Muruganar nem Sri Sadhu Om se consideraram nunca como um guru, porque sabiam pela sua própria experiência directa que não é necessário nunca nenhum intermediário entre Sri Ramana e qualquer dos seus seguidores ou devotos.Não só não se consideravam como o guru de ninguém, mas também desanimavam activamente a quem quer que fosse de considerá-los como tal, dizendo que se desejamos praticar sinceramente os ensinamentos de Sri Ramana, ele mesmo actuará directamente como nosso guru, proporcionando-nos toda a ajuda e orientação de que necessitemos para voltar a nossa mente para dentro e desse modo submergir e perder a nossa individualidade separada na luz clara do auto-conhecimento verdadeiro, que é a natureza essencial e real do guru.
ॐ
Sri Sadhu Om dizia muitas vezes que nenhum discípulo verdadeiro de Sri Ramana pode ser um guru, porque só Sri Ramana é o guru de todos aqueles que são atraídos pelos seus ensinamentos. Sempre que alguém lhe perguntava se não é necessário para nós ter um <<guru vivo>>, Sri Sadhu Om costumava rir e dizer, <<só o guru está vivo, e todos nós estamos mortos>>, e explicava que o guru real não é um corpo físico, mas o espírito sempre-vivo, a consciência de ser infinita que existe dentro de cada um de nós como o nosso verdadeiro eu.Esse espírito infinito e eterno apareceu na forma física de Sri Ramana para ensinar-nos que nós não somos este corpo mortal que agora tomamos erradamente por nós mesmos, e que para nos conhecermos como realmente somos, devemos retirar a nossa atenção de todos os objectos externos e focalizá-la inteira e exclusivamente no nosso verdadeiro eu ou ser essencial. Tendo-nos dado este ensinamento, a forma física de Sri Ramana serviu ao seu propósito como a manifestação externa do guru eterno, de modo que agora a nossa meta não deve ser encontrar outro <<guru vivo>> (um termo que a maioria das pessoas compreende como uma <<pessoa iluminada>> cujo corpo ainda vive), mas sim encontrar o guru interior real, que é o nosso verdadeiro eu e que está sempre esperando atrair a nossa mente para dentro, para que se submerja e se funda na clareza do auto-conhecimento verdadeiro.
Porque ele nunca foi a forma física que parecia ser, mas foi sempre e será sempre o espírito infinito, que é o nosso verdadeiro eu, o guia de ajuda ou a <<graça>> de Sri Ramana nunca pode ser diminuída de forma alguma, e, portanto, não é menos poderosa agora do que o era quando ele parecia estar vivendo numa forma física. Toda a ajuda e orientação de que necessitamos para obter o auto-conhecimento verdadeiro estão disponíveis para nós exteriormente na forma dos ensinamentos de Sri Ramana, e interiormente como <<eu sou>> (a verdadeira forma de Deus e do guru), de modo que tudo o que necessitamos fazer é voltar a nossa atenção para nós mesmos a fim de experimentar a natureza verdadeira desta consciência <<eu sou>>.
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Michael James |
ॐ
Tradução da versão em espanhol
por 'Blog Texto Meditativo'
ॐ
É uma bênção termos Michael James como nosso guia no caminho de Bhagavan Ramana.
Pranams
ॐ
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