ॐ
Fonte:
Michael James
http://happinessofbeing.blogspot.it/2014/04/scientific-research-on-consciousness.html
Sexta-feira, 25 Abril 2014
Primeira resposta:
Obrigado por este amável convite, mas não tenho a certeza se posso contribuir de alguma forma para a sua investigação, porque as perguntas que eu gostaria de fazer acerca da consciência e da experiência consciente talvez ultrapassem o âmbito do seu projecto.
Para lhe dar uma ideia do que quero dizer, começaria por lhe perguntar o significado da palavra "consciência", que acredito que é ambígua e usada de maneira diferente em diferentes contextos. Em face disso "consciência" significa tanto a qualidade como o estado de ser consciente, o que imediatamente levanta várias questões, como: O que é aquilo que é consciente? A consciência é uma qualidade inerente ou contingente dessa coisa? Por outras palavras, a consciência é um estado permanente ou temporário do que é consciente?
Outro significado de consciência, especialmente como é usado em traduções da filosofia oriental (e portanto em muita literatura espiritual moderna), é aquilo que é consciente. Assim como o significado original de realidade é a qualidade de ser real, mas por extensão também é usado como um substantivo abstracto significando "aquilo que é real", assim também o significado original de consciência é a qualidade de ser consciente, mas por extensão também pode ser usado como um substantivo abstracto significando "aquilo que é consciente".
Quer tomemos a consciência como significando uma qualidade ou como aquilo que tem essa qualidade, qualquer pesquisa sobre a consciência deve considerar as questões que eu mencionei acima: O que é aquilo que é consciente? A consciência é uma qualidade inerente ou contingente dessa coisa? A consciência é um estado permanente ou temporário do que é consciente?
O que quer que seja que é consciente, cada um de nós experiencia essa coisa como "eu", a primeira pessoa ou sujeito (o experienciador de tudo que é experienciado), por isso a pergunta "O que é aquilo que é consciente?" pode ser reformulada como "O que é que eu sou?" A consciência é uma qualidade inerente e portanto um estado permanente de "eu", ou é apenas uma qualidade contingente e portanto um estado temporário de "eu"?
Se a consciência é apenas uma qualidade contingente ou um estado temporário, o "eu" existe na sua ausência? Na ausência de consciência, não poderia haver nenhuma experiência do "eu" ou qualquer outra coisa, então a consciência é um ingrediente essencial tanto na nossa experiência fundamental "eu sou" como na nossa experiência de qualquer outra coisa.
Mas há algum estado no qual a consciência esteja na verdade ausente? Se houvesse, não o poderíamos experienciar, de modo que qualquer crença que possamos ter na existência de um estado não-consciente não seria baseada na experiência, mas apenas numa inferência indutiva feita por nós quando estamos conscientes. Portanto, assim como todas as crenças derivadas exclusivamente de uma inferência dedutiva, a nossa crença na existência de qualquer estado não-consciente está aberto à duvida e não é de forma adequada suportado pela experiencia.
O contra-argumento óbvio para isso é que nós experienciamos um estado não-consciente, nomeadamente o sono sem sonhos. Mas se experienciamos tal estado, ele não é completamente desprovido de consciência, porque na ausência de consciência não pode haver nenhuma experiência, e se ele é realmente um estado não-consciente, então não o experimentamos, e portanto só podemos inferir a sua existência.
Portanto, eu diria que, apesar de o sono poder ser descrito como um estado de inconscência relativa, não é um estado de absoluta inconsciência. Aquilo de que não estamos conscientes no sono é o nosso corpo, o mundo ou quaisquer pensamentos ou sentimentos: por outras palavras, não estamos conscientes de nada a não ser "eu". Assim, no sono estamos ou não estamos conscientes de que "eu sou"?
Se não fossemos conscientes da nossa existência, "eu sou", na ausência de qualquer outra experiência no sono, nós não estaríamos cientes de qualquer intervalo entre o fim de um estado de vigília ou de sono e o início do estado seguinte. Por outras palavras, estaríamos cientes da existência de apenas dois estados, vigília e sonho, um imediatamente a seguir ao outro, quando na realidade nós somos claramente conscientes destes três estados, de vigília, sonho e sono. Somos conscientes destes três estados porque experienciamos todos eles.
O que é comum na nossa experiência de todos estes três estados é apenas o facto de que em cada um deles estamos conscientes da nossa própria existência, "eu sou". No sono estamos conscientes apenas de "eu sou"; no estado de vigília estamos conscientes de "eu sou" e de outras coisas, inclusive um corpo físico e uma mente pensante (ambos os quais nós agora confundimos como sendo "eu"), um mundo e um fluxo em constante mudança de percepções, pensamentos e sentimentos; e no sonho estamos igualmente conscientes de "eu sou" e de outras coisas, incluindo um corpo físico diferente e uma mente pensante (ambos os quais nós então confundimos como sendo "eu"), um mundo e um fluxo em constante mudança de percepções, pensamentos e sentimentos.
Aquilo de que somos conscientes muda ao longo do tempo e de estado para estado, mas aquilo que é consciente de todas estas experiências de mudança é o mesmo "Eu" imutável. Porque experienciamos um corpo e mente como "eu", tanto na vigília como no sonho, e porque estes corpos e esta mente estão constantemente passando por mudanças, parece-nos que o "Eu" está mudando, mas na verdade o "Eu" é o único factor imutável em toda a nossa experiência, e portanto é o que dá à nossa experiência um sentido de continuidade e coerência, conectando cada experiência com cada outra experiência.
Uma vez que este "Eu" é o experienciador consciente de todas as experiências, não podemos compreender a consciência correctamente sem correctamente experienciar o que este "Eu" realmente é. Por isso a pesquisa sobre a consciência é incompleta se não incluir a investigação sobre o "Eu" que é consciente de todas a experiência: o que é este "Eu"?
Por favor diga-me se algumas destas perguntas e argumentos são de alguma forma relevantes para a pesquisa que está a fazer, e se assim é, se tem quaisquer perguntas sobre o que escrevi.
Segunda resposta:
Você diz que associa certas características ou comportamentos com ser consciente, mas não é possível ser consciente sem características ou comportamentos? Características ou comportamentos são sinais externos, mas para saber "eu sou consciente" não precisamos de nenhuns sinais exteriores.
Sinais exteriores tornam-se relevantes apenas quando estamos a tentar avaliar se alguém está consciente, mas logo de seguida nos deparamos com o problema filosófico de outras mentes. Poderemos saber com certeza se qualquer outra pessoa (ou qualquer animal humano ou não-humano) é consciente? Nós não experienciamos directamente qualquer consciência diferente da nossa, mas podemos inferir a existência da consciência em outros com base no seu comportamento.
Porque somos conscientes e nos experienciamos a nós mesmos como um corpo, associamos o comportamento do nosso corpo com o nosso ser consciente. Ou seja, o nosso corpo comporta-se de determinadas maneiras, e parece-nos que o seu comportamento é em grande parte causado por decisões conscientes que tomamos, por isso assumimos que o comportamento semelhante de outros corpos é igualmente causado por decisões conscientes tomadas pelas mentes que acreditamos que estão operando nesses outros corpos. Mas nós não temos meios pelos quais podemos provar a nós mesmos que esta suposição é verdadeira. As suas mentes (ou corpos) poderiam estar a tomar decisões como um computador, sem qualquer consciência das decisões que estão a ser tomadas.
No sonho vemos e falamos com outras pessoas, e enquanto estamos a sonhar assumimos que cada uma dessas outras pessoas tem uma mente consciente que opera no seu corpo. No entanto, depois de acordarmos desse sonho, compreendemos que essas outras pessoas e as mentes conscientes que nós acreditámos que cada uma tinha eram apenas fruto da nossa imaginação ao sonhar. Como podemos então ter certeza de que o nosso estado actual não é apenas outro sonho e que as pessoas que vemos e com quem falamos não são da mesma forma apenas fruto da nossa imaginação no sonho?
O comportamento e as características de outras pessoas podem dizer-nos muito sobre o funcionamento das suas mentes, mas não provam que há qualquer experimentador consciente dessas funções mentais, porque não há nenhuma conexão necessária quer entre o comportamento exterior ou características e a consciência, quer mesmo entre a funcionalidade mental e a consciência. Não parece haver nenhuma razão particular para supor que a mente não poderia funcionar como um computador sem qualquer consciência sendo envolvida.
Quando reflectimos desta maneira, isso ajuda-nos a separar conceptualmente a consciência (aquilo que está a experienciar) de todas as funções mentais (que são coisas que ela experimenta). Por que deveríamos supor que qualquer uma implica a outra? Existe alguma conexão necessária entre elas?
Nós agora experimentamos conscientemente o nosso próprio pensamento, sentimento, percepção e outras funções mentais, por isso estas estão em nós actualmente ligadas com a nossa consciência, mas esta ligação é contingente e não necessária. A Psicologia postula alguns processos mentais inconscientes, por isso se alguns processos mentais podem ocorrer sem serem experimentados conscientemente, por que não poderiam todos os processos mentais numa pessoa ocorrer sem serem experimentados conscientemente? E como argumentei no meu e-mail anterior, no sono sem sonhos nós não estamos absolutamente inconscientes, mas somos conscientes da nossa própria existência, "eu sou", portanto o sono é um exemplo de um estado no qual a consciência não está ligada com quaisquer processos mentais.
As perguntas que estou a levantar podem ser de maior interesse para um filósofo do que um psicólogo, e não são certamente questões que podem ser respondidas pelos métodos empíricos normais da ciência. No entanto, penso que estas são questões que qualquer psicólogo e pesquisador deve considerar, porque colocam os limites da pesquisa científica em perspectiva, e porque ao considerá-las os psicólogos podem não só evitar chegar a conclusões filosoficamente injustificadas, mas também podem evitar enveredar por linhas de pesquisa que podem vir a revelar-se infrutíferas.
O facto é que cada um de nós tem experiência directa e certo conhecimento de apenas uma consciência, nomeadamente a nossa própria. Outras consciências podem ou não existir, mas mesmo que existam, só podemos inferir a sua existência sem qualquer certeza (e mesmo sem qualquer grau mensurável ou quantificável de probabilidade), mas nunca podemos experimentá-las directamente. Portanto, se quisermos pesquisar a consciência, devemos investigar a nossa própria consciência, em vez de os sinais exteriores incertos (tais como comportamentos e características) de outras supostas consciências.
Quanto ao seu capítulo sobre "testemunhando a consciência", nos textos filosóficos e espirituais Hindus a consciência é por vezes descrita como saksi ( "testemunha", "observador" ou "espectador"), mas este é um termo que muitas vezes leva a mal-entendidos, porque o termo testemunha ou observador pode implicar a existência de algo que é testemunhado ou observado, e este não é o significado de saksi pretendido neste contexto. Uma analogia que é frequentemente utilizada para o saksi é o sol, em cuja mera presença todos os eventos na terra acontecem, portanto neste contexto saksi pretende significar uma presença destacada e impassível.
Assim como os acontecimentos ocorrem na terra na mera presença do sol sem o afectarem de qualquer forma, assim todas as experiências conscientes acontecem na mera presença da consciência sem a afectarem de forma alguma. É só neste sentido que se diz que a consciência é saksi ou "testemunha". Por isso esta palavra saksi pretende transmitir a ideia de que a própria consciência é totalmente destacada e não afectada por quaisquer experiências que parecem ocorrer na sua presença.
Quando a consciência é experimentada como saksi, não é de todo ciente de qualquer coisa diferente de si mesma, "eu sou". Por outras palavras, é uma experiência absolutamente não-dual, em que o experienciador, o experienciado e o acto de experienciar são todos um e o mesmo. É portanto uma experiência inefável - que nunca pode ser adequadamente expressa em palavras.
Para a conhecer, é preciso experimentá-la, e uma vez que é uma experiência de auto-consciência não-dual, o único meio pelo qual a podemos experienciar é estando cientes de nada mais além de nós mesmos. Esta é a prática de auto-atenção não-dual que Sri Ramana chamou de ātma-vicāra: auto-investigação ou auto-inquirição. Uma vez que esta é a prática da consciência (quer dizer, aquilo que é consciente) investigando a si própria, é o único meio directo pelo qual podemos investigar empiricamente a consciência.
Terceira resposta:
Se realizarmos a pesquisa sobre as pessoas que afirmam ser "iluminadas", estamos em território muito incerto, porque não podemos avaliar com precisão o estado interior de qualquer outra pessoa, e entre aqueles que afirmam ser "iluminados" parece existirem muitas ideias diferentes sobre o que é que "iluminação" na verdade é.
Pessoalmente, sou muito céptico sobre as pessoas que fazem tais afirmações, e parece-me óbvio que não podemos compreender o que "iluminação" é a menos que nós mesmos a experimentemos. Por isso acredito que precisamos primeiro fazer a pesquise sobre nós mesmos para descobrir o que é que somos (o que é que, ou quem sou eu).
Você diz: "O que as pessoas não-duais descrevem é que elas têm AMBOS, o Ser Cognitivo & o Ser Não-conceptual activos ao mesmo tempo", mas se elas têm duas coisas activas ao mesmo tempo, como pode o estado delas ser "não-dual"? No estado de absoluta não-dualidade que Bhagavan Ramana fala, só há uma coisa, "eu sou", então o "eu" que experiencia esse estado é o mesmo "eu" que nele é experienciado. Por outras palavras, é o estado no qual o "eu" experiencia nada mais do que a si mesmo.
Uma vez que é um estado de absoluta não-dualidade, qualquer tentativa que seja feita para a expressar em palavras vai falhar, porque as palavras só conseguem descrever distinções, e não um estado desprovido de todas as distinções. Como Ramana diz (no versículo 31 de Uḷḷadu Nāṟpadu) acerca daqueles que perderam a si mesmos nesse estado:
[...] தன்னையலா
தன்னிய மொன்று மறியா ரவர்நிலைமை
யின்னதென் றுன்ன லெவன்.
[...] taṉṉaiyalā
taṉṉiya moṉḏṟu maṟiyā ravarnilaimai
yiṉṉadeṉ ḏṟuṉṉa levaṉ.
பதச்சேதம்: [...] தன்னை அலாது அன்னியம் ஒன்றும் அறியார்; அவர்
நிலைமை இன்னது என்று உன்னல் எவன்?
Padacchēdam (separação das palavras): [...] taṉṉai alādu aṉṉiyam oṉḏṟum aṟiyār;
avar nilaimai iṉṉadu eṉḏṟu uṉṉal evaṉ?
Tradução: [...] Eles não conhecem outra coisa senão a eles mesmos, [então] quem
pode [ou como] conceber o seu estado como "é tal"?
As diferenças que você observou entre o "ser cognitivo" e o "ser não-conceptual" só podem ser verdadeiras num estado de dualidade - um estado experimentado pela mente - assim, dado que "iluminação" ou nirvana (cujo significado literal é "extinto") é um estado no qual toda a experiência mental se extinguiu na perfeita clareza da auto-experiência não-dual, é um estado no qual tais distinções não podem permanecer.
A psicologia é a ciência da mente, enquanto a espiritualidade é a ciência do "espírito" ou da consciência "eu sou", que é a fonte da qual a mente (e tudo o que ela experimenta) aparece e na qual deve finalmente desaparecer (como faz temporariamente em cada dia no sono profundo). Portanto distinções que se mantêm verdadeiras na psicologia irão dissolver-se e desaparecer quando penetramos mais fundo dentro de nós mesmos, no âmago do nosso ser, onde apenas a consciência não-dual "eu sou" brilha.
Quarta resposta:
A dúvida e a incerteza são a base de qualquer pesquisa que possamos empreender, mas a maioria das pesquisas é de âmbito limitado porque se concentra numa pequena área de dúvida contra um fundo de crenças que são assumidas como verdade.
Por exemplo, na mecânica quântica um pesquisador vai concentrar-se numa área particular de dúvida, mas essa dúvida será definida no contexto da teoria quântica e todo o conjunto de sub-teorias geralmente aceites e que estão relacionadas com ela e a determinam. Tais teorias, que formam o paradigma sobre o qual são conduzidas todas as pesquisas nesse campo, são todas as crenças que a maioria dos pesquisadores nesse campo tomarão como certas. Esta é a natureza da investigação científica, e não é errado nesse contexto, porque a ciência pode avançar apenas na suposição de que a maioria das suas teorias actualmente aceites são verdadeiras.
No entanto, como cada filósofo e historiador da ciência sabe, as teorias mudam com o tempo, e teorias ou paradigmas inteiros que antes eram universalmente aceites como verdadeiros são mais tarde desacreditados e substituídos por outras teorias ou paradigmas. Portanto, embora uma mais ou menos inquestionável crença em teorias e paradigmas actuais seja uma base necessária para toda a investigação científica, isto coloca sérias limitações no âmbito da pesquisa, de qual pesquisa vai actualmente ser considerada apropriada ou aceitável dentro de qualquer campo particular da ciência.
De que forma isto é relevante para o que estamos discutindo, é que em ciência qualquer dúvida que seja considerada aceitável não será uma dúvida abrangente ou universal mas será muito limitada no seu âmbito. Portanto, eu não tenho nenhum problema com o facto de que a ciência implica uma enorme quantidade de crenças (conhecidas como teorias), e que a dúvida é considerada aceitável apenas se for baseada nessas crenças que são correntemente aceites pela maioria das pessoas dentro da área relevante da comunidade científica, mas isto não significa que temos de manter uma atitude céptica em relação a todas as teorias científicas: podemos aceitá-las provisoriamente como explicações provisórias que servem a uma função temporária e limitada, mas não devemos esperar que seja explicações finais ou correctas de nada.
Para podermos encontrar uma explicação definitiva e correcta para qualquer coisa, precisamos de duvidar e questionar cada explicação existente da mesma e também toda a crença na qual se baseiam tais explicações. Por exemplo, uma crença na qual quase todas as teorias científicas são em última análise baseadas, mas que nenhum cientista (a menos que tenha uma mente filosófica) é provável que questione e que nenhuma ciência objectiva pode fornecer qualquer meio para testar ou provar se é verdadeira ou falsa, é a crença num mundo externo: quer dizer, a crença na existência de um mundo físico "lá fora" que é independente da nossa experiência dele.
A nossa crença num mundo externo tem sido questionada por muito filósofos, e os motivos para o cepticismo sobre um mundo externo são considerados como um dos maiores problemas da epistemologia, mas a maioria os filósofos sente-se desconfortável com tal cepticismo, e apressam-se a aceitar razões fracas para acreditar na existência de um mundo externo, tais como as chamadas IBE ou "inferência para a melhor explicação". Embora a IBE seja a justificação mais popular para essa crença entre os epistemólogos modernos e filósofos da ciência, é uma justificação extremamente fraca, porque o único meio pelo qual podemos decidir o que é a "melhor explicação" é o nosso próprio julgamento subjectivo. Quer dizer, o que parecer a cada um de nós ser a "melhor explicação" é determinado por quaisquer outras crenças que abraçamos, por isso quando a maioria das nossa crenças implica a existência de um mundo externo, todas essas crenças vão levar-nos a acreditar que esta crença é a "melhor explicação" para toda a nossa experiência do que nos parece ser um mundo externo. Assim, esta justificação é do tipo circular, sendo baseada apenas em crenças que por sua vez são baseadas na conclusão à qual está a tentar chegar.
Ao contrário de todas as formas de ciência objectiva, que são baseadas na crença num mundo externo e sobre inúmeras outras crenças assim duvidosas, e que não duvidam ou questionam a base para tais crenças, a ciência de ātma-vicāra ou auto-investigação ensinada por Bhagavan Sri Ramana é baseada na crença de apenas uma coisa, ou seja, o facto de que "eu sou", e implica duvidar de todas as outras coisas, incluindo a realidade do corpo e da mente que agora parecemos experimentar como "eu".
Se esta mente não é real mas é só um fantasma ilusório, o que quer que ela experiencia ou acredita (diferente de "eu sou") também deve ser irreal. Assim como as ciências objectivas determinam a crença na existência de um mundo exterior (independente da mente), elas também determinam a crença na realidade da mente, que experimenta o que parece ser um mundo assim. Por isso, a dúvida sobre a qual a ciência de ātma-vicāra se baseia é muito mais radical e universal do que qualquer dúvida que é tomada em consideração por qualquer uma das ciências objectivas.
Além disso, a crença na qual ātma-vicāra se baseia, nomeadamente a crença de que "eu sou", é a única crença da qual não podemos razoavelmente duvidar, porque para duvidar de qualquer coisa devemos existir. Por isso do que podemos razoavelmente duvidar é de qualquer outra coisa diferente da nossa própria existência, a qual nós experienciamos como "eu sou". Portanto, embora possamos razoavelmente duvidar se a mente é real ou se é de facto "eu", e embora possamos razoavelmente duvidar do que é o "eu", não podemos razoavelmente duvidar de que ele é.
Esta mente é real? Agora no nosso presente estado de vigília, e também em qualquer estado de sonho, experimentamos a nós mesmos como esta mente, por isso parece-nos real. Mas a mente é uma coisa temporária, que aparece no estado de vigília e no sono com sonho e desaparece no sono profundo, então isso nos dá razão para duvidar de quão real ela realmente será. Além disso, temos experiência da sua aparição não só nos estados de vigília e sono com sonho, mas também da sua não aparição no sono profundo, por isso como pode ela na verdade ser nós mesmos?
Se a mente fosse nós mesmos, nós não poderíamos estar cientes da sua ausência no sono, e nem sequer experimentaríamos o sono, porque não podíamos experimentar um estado no qual não existíamos ou do qual não estávamos conscientes. No entanto, quando acordamos do sono, nós sabemos que "eu dormi", e sabemos isto não só por mera inferência mas porque realmente experimentámos esse estado no qual a mente está ausente.
Algumas pessoas assumem que nós realmente não experienciamos o sono, porque acreditam que não podemos experienciar nada quando a nossa mente não está a funcionar, mas se nós realmente não experienciássemos o sono não estaríamos conscientes de qualquer lacuna entre dois estados sucessivos de vigília ou sonho, e portanto iria parecer-nos que estes eram apenas dois estados. Por isso de facto experienciamos o sono, e no sono experienciamos a ausência não só da mente mas também de tudo que ela experiencia, incluindo os vários corpos e mundos que ela experimenta nos estados de vigília e de sonho. Uma vez que experienciamos a não-existência de todas essas coisas no sono, obviamente somos algo distinto de todas elas.
Neste estado de vigília nós experimentamos um corpo e uma mente como "eu", e no sonho experimentamos outro corpo como "eu", mas também experimentamos um terceiro estado chamado sono no qual não experienciamos qualquer corpo nem qualquer mente. Uma vez que assim experimentamos "eu" mesmo quando não experimentamos nenhum corpo ou mente, o "eu" deve ser algo distinto do corpo e da mente.
A mente parece existir só quando a experienciamos como "eu", mas ao analisar a experiência de nós mesmos no sono podemos entender que a nossa experiência actual da mente como "eu" é uma ilusão. Portanto, temos muito boas razões para suspeitar que a mente não é real mas apenas uma aparência ilusória.
No entanto, para raciocinar assim e para duvidar da realidade da nossa mente, devemos usar a nossa mente, de modo que tal raciocínio não pode dar-nos conhecimento certo sobre se a mente é de facto real ou apenas ilusória. A fim de obter algum conhecimento sobre isto, temos de investigar o que é que este "eu" é na verdade.
Uma vez que nunca experienciamos a mente sem a experienciar como "eu", e uma vez que experienciamos "eu" sem experienciar a mente como "eu" no sono, o nosso conhecimento actual sobre o que eu sou é claramente confuso. Sabemos com certeza que eu sou, mas não sabemos ao certo o que eu sou.
Uma vez que o nosso suposto "conhecimento" de outras coisas é baseado na experiência duvidosa de "eu sou esta mente", antes de podermos estar certos sobre qualquer outra coisa que parecemos saber ou experienciar, é preciso primeiro investigar e saber o que este "eu" (o experienciador ou conhecedor) realmente é. Portanto ātma-vicāra (auto-investigação: examinar o que sou eu?) é a pesquisa mais radical e fundamental que podemos empreender, e é a única investigação científica que nos oferece qualquer esperança de ganhar um certo conhecimento sobre qualquer coisa.
Você pergunta: "Ramana foi um grande homem, agora é hora de ir mais longe, estamos em 2013, então, por que não abandonar os velhos costumes e abraçar o novo, levando mais por diante o seu paradigma, não ficar preso neles?" e eu concordo que devemos abandonar os nossos velhos hábitos. Na verdade, isto é precisamente o que o próprio Ramana recomendou. Os nossos velhos hábitos são o nosso hábito há muito enraizado de acreditar em muitas outras coisas além da única coisa que por si só é de facto certa, ou seja, "eu sou". Ramana costumava dizer: "Não acredite no que você não conhece", e a única coisa que realmente sabemos e não meramente acreditamos é "eu sou". Portanto, devemos abandonar os nossos velhos modos de pensar e acreditar, e em vez disso dedicar-nos exclusivamente a investigar o que este "eu" realmente é.
Todos os paradigmas em que agora acreditamos, ou que já acreditámos no passado, implicam a nossa crença de que "eu sou esta mente" e "eu sou este corpo", e também a nossa crença num mundo externo que existe independente da nossa experiência dele. Estas são todas crenças duvidosas, por isso devemos estar prontos a abandoná-las e a investigar a realidade do "eu" que até agora as manteve.
Quer pareça que existimos no tempo de Buddha ou no tempo de Jesus, no tempo de Sankara ou no tempo de Ramana, em 2013 ou 2500, só há uma coisa que é certamente verdadeira, e que é "eu sou".O que quer que experimenta qualquer momento, ou qualquer lugar, ou qualquer outra coisa, deve existir a fim de os experienciar. Aquilo que experiencia todas estas coisas experiencia a sua própria existência como "eu sou", de modo que embora tudo o que ele experimenta possa ser uma ilusão, a sua experiência fundamental "eu sou" deve ser real. O que quer que este "eu" agora parece ser também pode ser uma ilusão, mas, seja qual for a ilusão que pareça ser, o facto de que "eu" existe é indubitável.
Portanto, vamos agora tentar descobrir o que este "eu" realmente é. Isto é tudo o que Sri Ramana nos aconselha a fazer. Ele não nos pede para acreditar em qualquer coisa que não seja "eu sou", e na verdade ele pede-nos para duvidar da realidade de tudo que não seja "eu sou".
No versículo 26 de Ulladu Nārpadu, ele diz que investigar o que é esse "eu" é abandonar tudo ([...] யாது இது என்று நாடலே ஓவுதல் யாவும் [...]: [...] yādu idu endru nādal-ē ōvudal yāvum [...]), porque tudo parece existir apenas quando a mente ou o ego parecem existir, e a mente ou o ego é apenas um conhecimento equivocado do que eu sou. Se investigar e experienciar o que eu realmente sou, a mente ou o ego se dissolverá e deixará de aparecer (tal como uma cobra ilusória se dissolveria e deixaria de aparecer quando é reconhecida que não é nada mais do que uma corda), e quando a mente assim deixa de aparecer, tudo o que foi experimentado por ela também deixará de aparecer.
Mas mesmo isto é adiantar-nos a nós mesmos. Não há necessidade até de que acreditemos no que Sri Ramana nos diz que vamos sentir quando investigamos e experimentamos a nós mesmos como realmente somos. Acreditar no que ele diz pode encorajar-nos em nosso esforço para experimentar a nós mesmos como realmente somos, mas não é essencial, desde que estejamos prontos para duvidar de tudo o mais e acreditar apenas "eu sou", e portanto investigar o que este "eu" realmente é. .
Quinta resposta:
Eu não digo que "eu sou" não é uma experiência, porque é obviamente a nossa experiência primária e a base de todas as outras experiências, como defendo num artigo que escrevi ontem, Apenas "eu sou" é certo e auto-evidente.
Quanto à sua estrutura, eu não acho que seja significativo dizer que tem alguma estrutura. É aquilo que experiencia todas as estruturas, mas é a própria consciência pura e portanto desprovida de qualquer estrutura.
Qualquer coisa em que podemos acreditar acerca dos seres humanos há 50.000 anos ou no futuro é apenas especulação. Tudo o que sabemos com certeza é que eu sou agora, por isso é melhor concentrar a nossa pesquisa neste "eu sou" a fim de saber o que ele realmente é. Agora confundimos "eu sou" com um corpo e mente, mas no sono nós experienciamos "eu sou" sem experimentar qualquer corpo ou mente, por isso não pode ser idêntico a qualquer um destes dois fenómenos. Por isso, antes de podermos atingir um certo conhecimento sobre qualquer outra coisa, primeiro precisamos experienciar o que este "eu sou" realmente é.
Não podemos experimentar isso por meio do raciocínio ou lógica, mas apenas pela pesquisa empírica: ao focar toda a nossa atenção em "eu sou", excluindo assim tudo o resto da nossa consciência.
Sexta resposta:
Como a mente está em constante mudança, ela nunca fica parada no aqui e agora, mas em vez disso apanhada no fluxo constante de mudança, que está sempre em movimento do passado para o futuro. A única coisa que está sempre no aqui e agora é "eu sou", porque ele nunca muda.
Portanto se queremos estar no aqui e agora temos de prestar atenção só ao "eu sou", porque se em vez disso prestamos atenção à constante actividade ou reactividade da mente, vamos ficar presos no fluxo de constante mudança do tempo do passado para o futuro.
Na realidade nunca experimentamos o tempo como tal, mas sim apenas experimentamos a mudança (contra o fundo estático do sempre-presente e imutável "eu sou", e a nossa experiência da mudança cria a aparência de tempo. Portanto enquanto experienciarmos mudança estaremos enredados no tempo, e por isso a única maneira de transcender ou tornar-se livre do tempo é prestar atenção apenas a "eu sou".
Em Tamil, a primeira frase deste versículo claramente implica que só nós na realidade existimos, e que não existe tempo ou outra coisa qualquer. Contudo, quando não investigamos a nós mesmos (isto é, quando não prestamos atenção apenas ao "eu"), o tempo vai engolir-nos, mas se investigamos a nós mesmos, vamos descobrir que só nós existimos, e portanto teremos engolido o tempo.
Como você diz, "a mente não pode reconhecer uma realidade material se a sua natureza é diferente dessa realidade", ou melhor, não poderia reconhecer o que parece ser uma realidade material se a sua natureza fosse diferente dessa realidade aparente. Isto é expresso por Sri Ramana no versículo 4 de Uḷḷadu Nāṟpadu:
Portanto, a fim de experimentar algo diferente de si mesma, a primeira pessoa (a mente ou ego) deve primeiro experimentar-se como uma forma, o que ela faz ao confundir-se a ela própria como sendo um corpo físico. Contudo, embora ela agora se experimente a si própria como a forma de um corpo, este ego na verdade não tem forma própria, por isso depende de formas para a sua existência aparente. Como Sri Ramana diz no versículo 25 de Uḷḷadu Nāṟpadu:
Portanto, para destruir a nossa presente ilusão de que somos a forma deste corpo, devemos examinar a nós mesmos e assim descobrir o que este "eu" realmente é. Se fizermos isso, este ego, o que agora parece ser "eu", vai "levantar voo" e deixar de existir, após o que só aquilo que realmente é "eu" permanecerá.
Tradução: Blog Texto Meditativo
Se não fossemos conscientes da nossa existência, "eu sou", na ausência de qualquer outra experiência no sono, nós não estaríamos cientes de qualquer intervalo entre o fim de um estado de vigília ou de sono e o início do estado seguinte. Por outras palavras, estaríamos cientes da existência de apenas dois estados, vigília e sonho, um imediatamente a seguir ao outro, quando na realidade nós somos claramente conscientes destes três estados, de vigília, sonho e sono. Somos conscientes destes três estados porque experienciamos todos eles.
O que é comum na nossa experiência de todos estes três estados é apenas o facto de que em cada um deles estamos conscientes da nossa própria existência, "eu sou". No sono estamos conscientes apenas de "eu sou"; no estado de vigília estamos conscientes de "eu sou" e de outras coisas, inclusive um corpo físico e uma mente pensante (ambos os quais nós agora confundimos como sendo "eu"), um mundo e um fluxo em constante mudança de percepções, pensamentos e sentimentos; e no sonho estamos igualmente conscientes de "eu sou" e de outras coisas, incluindo um corpo físico diferente e uma mente pensante (ambos os quais nós então confundimos como sendo "eu"), um mundo e um fluxo em constante mudança de percepções, pensamentos e sentimentos.
Aquilo de que somos conscientes muda ao longo do tempo e de estado para estado, mas aquilo que é consciente de todas estas experiências de mudança é o mesmo "Eu" imutável. Porque experienciamos um corpo e mente como "eu", tanto na vigília como no sonho, e porque estes corpos e esta mente estão constantemente passando por mudanças, parece-nos que o "Eu" está mudando, mas na verdade o "Eu" é o único factor imutável em toda a nossa experiência, e portanto é o que dá à nossa experiência um sentido de continuidade e coerência, conectando cada experiência com cada outra experiência.
Uma vez que este "Eu" é o experienciador consciente de todas as experiências, não podemos compreender a consciência correctamente sem correctamente experienciar o que este "Eu" realmente é. Por isso a pesquisa sobre a consciência é incompleta se não incluir a investigação sobre o "Eu" que é consciente de todas a experiência: o que é este "Eu"?
Por favor diga-me se algumas destas perguntas e argumentos são de alguma forma relevantes para a pesquisa que está a fazer, e se assim é, se tem quaisquer perguntas sobre o que escrevi.
Segunda resposta:
Sinais exteriores tornam-se relevantes apenas quando estamos a tentar avaliar se alguém está consciente, mas logo de seguida nos deparamos com o problema filosófico de outras mentes. Poderemos saber com certeza se qualquer outra pessoa (ou qualquer animal humano ou não-humano) é consciente? Nós não experienciamos directamente qualquer consciência diferente da nossa, mas podemos inferir a existência da consciência em outros com base no seu comportamento.
Porque somos conscientes e nos experienciamos a nós mesmos como um corpo, associamos o comportamento do nosso corpo com o nosso ser consciente. Ou seja, o nosso corpo comporta-se de determinadas maneiras, e parece-nos que o seu comportamento é em grande parte causado por decisões conscientes que tomamos, por isso assumimos que o comportamento semelhante de outros corpos é igualmente causado por decisões conscientes tomadas pelas mentes que acreditamos que estão operando nesses outros corpos. Mas nós não temos meios pelos quais podemos provar a nós mesmos que esta suposição é verdadeira. As suas mentes (ou corpos) poderiam estar a tomar decisões como um computador, sem qualquer consciência das decisões que estão a ser tomadas.
No sonho vemos e falamos com outras pessoas, e enquanto estamos a sonhar assumimos que cada uma dessas outras pessoas tem uma mente consciente que opera no seu corpo. No entanto, depois de acordarmos desse sonho, compreendemos que essas outras pessoas e as mentes conscientes que nós acreditámos que cada uma tinha eram apenas fruto da nossa imaginação ao sonhar. Como podemos então ter certeza de que o nosso estado actual não é apenas outro sonho e que as pessoas que vemos e com quem falamos não são da mesma forma apenas fruto da nossa imaginação no sonho?
O comportamento e as características de outras pessoas podem dizer-nos muito sobre o funcionamento das suas mentes, mas não provam que há qualquer experimentador consciente dessas funções mentais, porque não há nenhuma conexão necessária quer entre o comportamento exterior ou características e a consciência, quer mesmo entre a funcionalidade mental e a consciência. Não parece haver nenhuma razão particular para supor que a mente não poderia funcionar como um computador sem qualquer consciência sendo envolvida.
Quando reflectimos desta maneira, isso ajuda-nos a separar conceptualmente a consciência (aquilo que está a experienciar) de todas as funções mentais (que são coisas que ela experimenta). Por que deveríamos supor que qualquer uma implica a outra? Existe alguma conexão necessária entre elas?
Nós agora experimentamos conscientemente o nosso próprio pensamento, sentimento, percepção e outras funções mentais, por isso estas estão em nós actualmente ligadas com a nossa consciência, mas esta ligação é contingente e não necessária. A Psicologia postula alguns processos mentais inconscientes, por isso se alguns processos mentais podem ocorrer sem serem experimentados conscientemente, por que não poderiam todos os processos mentais numa pessoa ocorrer sem serem experimentados conscientemente? E como argumentei no meu e-mail anterior, no sono sem sonhos nós não estamos absolutamente inconscientes, mas somos conscientes da nossa própria existência, "eu sou", portanto o sono é um exemplo de um estado no qual a consciência não está ligada com quaisquer processos mentais.
As perguntas que estou a levantar podem ser de maior interesse para um filósofo do que um psicólogo, e não são certamente questões que podem ser respondidas pelos métodos empíricos normais da ciência. No entanto, penso que estas são questões que qualquer psicólogo e pesquisador deve considerar, porque colocam os limites da pesquisa científica em perspectiva, e porque ao considerá-las os psicólogos podem não só evitar chegar a conclusões filosoficamente injustificadas, mas também podem evitar enveredar por linhas de pesquisa que podem vir a revelar-se infrutíferas.
O facto é que cada um de nós tem experiência directa e certo conhecimento de apenas uma consciência, nomeadamente a nossa própria. Outras consciências podem ou não existir, mas mesmo que existam, só podemos inferir a sua existência sem qualquer certeza (e mesmo sem qualquer grau mensurável ou quantificável de probabilidade), mas nunca podemos experimentá-las directamente. Portanto, se quisermos pesquisar a consciência, devemos investigar a nossa própria consciência, em vez de os sinais exteriores incertos (tais como comportamentos e características) de outras supostas consciências.
Quanto ao seu capítulo sobre "testemunhando a consciência", nos textos filosóficos e espirituais Hindus a consciência é por vezes descrita como saksi ( "testemunha", "observador" ou "espectador"), mas este é um termo que muitas vezes leva a mal-entendidos, porque o termo testemunha ou observador pode implicar a existência de algo que é testemunhado ou observado, e este não é o significado de saksi pretendido neste contexto. Uma analogia que é frequentemente utilizada para o saksi é o sol, em cuja mera presença todos os eventos na terra acontecem, portanto neste contexto saksi pretende significar uma presença destacada e impassível.
Assim como os acontecimentos ocorrem na terra na mera presença do sol sem o afectarem de qualquer forma, assim todas as experiências conscientes acontecem na mera presença da consciência sem a afectarem de forma alguma. É só neste sentido que se diz que a consciência é saksi ou "testemunha". Por isso esta palavra saksi pretende transmitir a ideia de que a própria consciência é totalmente destacada e não afectada por quaisquer experiências que parecem ocorrer na sua presença.
Quando a consciência é experimentada como saksi, não é de todo ciente de qualquer coisa diferente de si mesma, "eu sou". Por outras palavras, é uma experiência absolutamente não-dual, em que o experienciador, o experienciado e o acto de experienciar são todos um e o mesmo. É portanto uma experiência inefável - que nunca pode ser adequadamente expressa em palavras.
Para a conhecer, é preciso experimentá-la, e uma vez que é uma experiência de auto-consciência não-dual, o único meio pelo qual a podemos experienciar é estando cientes de nada mais além de nós mesmos. Esta é a prática de auto-atenção não-dual que Sri Ramana chamou de ātma-vicāra: auto-investigação ou auto-inquirição. Uma vez que esta é a prática da consciência (quer dizer, aquilo que é consciente) investigando a si própria, é o único meio directo pelo qual podemos investigar empiricamente a consciência.
Terceira resposta:
Pessoalmente, sou muito céptico sobre as pessoas que fazem tais afirmações, e parece-me óbvio que não podemos compreender o que "iluminação" é a menos que nós mesmos a experimentemos. Por isso acredito que precisamos primeiro fazer a pesquise sobre nós mesmos para descobrir o que é que somos (o que é que, ou quem sou eu).
Você diz: "O que as pessoas não-duais descrevem é que elas têm AMBOS, o Ser Cognitivo & o Ser Não-conceptual activos ao mesmo tempo", mas se elas têm duas coisas activas ao mesmo tempo, como pode o estado delas ser "não-dual"? No estado de absoluta não-dualidade que Bhagavan Ramana fala, só há uma coisa, "eu sou", então o "eu" que experiencia esse estado é o mesmo "eu" que nele é experienciado. Por outras palavras, é o estado no qual o "eu" experiencia nada mais do que a si mesmo.
Uma vez que é um estado de absoluta não-dualidade, qualquer tentativa que seja feita para a expressar em palavras vai falhar, porque as palavras só conseguem descrever distinções, e não um estado desprovido de todas as distinções. Como Ramana diz (no versículo 31 de Uḷḷadu Nāṟpadu) acerca daqueles que perderam a si mesmos nesse estado:
[...] தன்னையலா
தன்னிய மொன்று மறியா ரவர்நிலைமை
யின்னதென் றுன்ன லெவன்.
[...] taṉṉaiyalā
taṉṉiya moṉḏṟu maṟiyā ravarnilaimai
yiṉṉadeṉ ḏṟuṉṉa levaṉ.
பதச்சேதம்: [...] தன்னை அலாது அன்னியம் ஒன்றும் அறியார்; அவர்
நிலைமை இன்னது என்று உன்னல் எவன்?
Padacchēdam (separação das palavras): [...] taṉṉai alādu aṉṉiyam oṉḏṟum aṟiyār;
avar nilaimai iṉṉadu eṉḏṟu uṉṉal evaṉ?
Tradução: [...] Eles não conhecem outra coisa senão a eles mesmos, [então] quem
pode [ou como] conceber o seu estado como "é tal"?
As diferenças que você observou entre o "ser cognitivo" e o "ser não-conceptual" só podem ser verdadeiras num estado de dualidade - um estado experimentado pela mente - assim, dado que "iluminação" ou nirvana (cujo significado literal é "extinto") é um estado no qual toda a experiência mental se extinguiu na perfeita clareza da auto-experiência não-dual, é um estado no qual tais distinções não podem permanecer.
A psicologia é a ciência da mente, enquanto a espiritualidade é a ciência do "espírito" ou da consciência "eu sou", que é a fonte da qual a mente (e tudo o que ela experimenta) aparece e na qual deve finalmente desaparecer (como faz temporariamente em cada dia no sono profundo). Portanto distinções que se mantêm verdadeiras na psicologia irão dissolver-se e desaparecer quando penetramos mais fundo dentro de nós mesmos, no âmago do nosso ser, onde apenas a consciência não-dual "eu sou" brilha.
Quarta resposta:
Por exemplo, na mecânica quântica um pesquisador vai concentrar-se numa área particular de dúvida, mas essa dúvida será definida no contexto da teoria quântica e todo o conjunto de sub-teorias geralmente aceites e que estão relacionadas com ela e a determinam. Tais teorias, que formam o paradigma sobre o qual são conduzidas todas as pesquisas nesse campo, são todas as crenças que a maioria dos pesquisadores nesse campo tomarão como certas. Esta é a natureza da investigação científica, e não é errado nesse contexto, porque a ciência pode avançar apenas na suposição de que a maioria das suas teorias actualmente aceites são verdadeiras.
No entanto, como cada filósofo e historiador da ciência sabe, as teorias mudam com o tempo, e teorias ou paradigmas inteiros que antes eram universalmente aceites como verdadeiros são mais tarde desacreditados e substituídos por outras teorias ou paradigmas. Portanto, embora uma mais ou menos inquestionável crença em teorias e paradigmas actuais seja uma base necessária para toda a investigação científica, isto coloca sérias limitações no âmbito da pesquisa, de qual pesquisa vai actualmente ser considerada apropriada ou aceitável dentro de qualquer campo particular da ciência.
De que forma isto é relevante para o que estamos discutindo, é que em ciência qualquer dúvida que seja considerada aceitável não será uma dúvida abrangente ou universal mas será muito limitada no seu âmbito. Portanto, eu não tenho nenhum problema com o facto de que a ciência implica uma enorme quantidade de crenças (conhecidas como teorias), e que a dúvida é considerada aceitável apenas se for baseada nessas crenças que são correntemente aceites pela maioria das pessoas dentro da área relevante da comunidade científica, mas isto não significa que temos de manter uma atitude céptica em relação a todas as teorias científicas: podemos aceitá-las provisoriamente como explicações provisórias que servem a uma função temporária e limitada, mas não devemos esperar que seja explicações finais ou correctas de nada.
Para podermos encontrar uma explicação definitiva e correcta para qualquer coisa, precisamos de duvidar e questionar cada explicação existente da mesma e também toda a crença na qual se baseiam tais explicações. Por exemplo, uma crença na qual quase todas as teorias científicas são em última análise baseadas, mas que nenhum cientista (a menos que tenha uma mente filosófica) é provável que questione e que nenhuma ciência objectiva pode fornecer qualquer meio para testar ou provar se é verdadeira ou falsa, é a crença num mundo externo: quer dizer, a crença na existência de um mundo físico "lá fora" que é independente da nossa experiência dele.
A nossa crença num mundo externo tem sido questionada por muito filósofos, e os motivos para o cepticismo sobre um mundo externo são considerados como um dos maiores problemas da epistemologia, mas a maioria os filósofos sente-se desconfortável com tal cepticismo, e apressam-se a aceitar razões fracas para acreditar na existência de um mundo externo, tais como as chamadas IBE ou "inferência para a melhor explicação". Embora a IBE seja a justificação mais popular para essa crença entre os epistemólogos modernos e filósofos da ciência, é uma justificação extremamente fraca, porque o único meio pelo qual podemos decidir o que é a "melhor explicação" é o nosso próprio julgamento subjectivo. Quer dizer, o que parecer a cada um de nós ser a "melhor explicação" é determinado por quaisquer outras crenças que abraçamos, por isso quando a maioria das nossa crenças implica a existência de um mundo externo, todas essas crenças vão levar-nos a acreditar que esta crença é a "melhor explicação" para toda a nossa experiência do que nos parece ser um mundo externo. Assim, esta justificação é do tipo circular, sendo baseada apenas em crenças que por sua vez são baseadas na conclusão à qual está a tentar chegar.
Ao contrário de todas as formas de ciência objectiva, que são baseadas na crença num mundo externo e sobre inúmeras outras crenças assim duvidosas, e que não duvidam ou questionam a base para tais crenças, a ciência de ātma-vicāra ou auto-investigação ensinada por Bhagavan Sri Ramana é baseada na crença de apenas uma coisa, ou seja, o facto de que "eu sou", e implica duvidar de todas as outras coisas, incluindo a realidade do corpo e da mente que agora parecemos experimentar como "eu".
Se esta mente não é real mas é só um fantasma ilusório, o que quer que ela experiencia ou acredita (diferente de "eu sou") também deve ser irreal. Assim como as ciências objectivas determinam a crença na existência de um mundo exterior (independente da mente), elas também determinam a crença na realidade da mente, que experimenta o que parece ser um mundo assim. Por isso, a dúvida sobre a qual a ciência de ātma-vicāra se baseia é muito mais radical e universal do que qualquer dúvida que é tomada em consideração por qualquer uma das ciências objectivas.
Além disso, a crença na qual ātma-vicāra se baseia, nomeadamente a crença de que "eu sou", é a única crença da qual não podemos razoavelmente duvidar, porque para duvidar de qualquer coisa devemos existir. Por isso do que podemos razoavelmente duvidar é de qualquer outra coisa diferente da nossa própria existência, a qual nós experienciamos como "eu sou". Portanto, embora possamos razoavelmente duvidar se a mente é real ou se é de facto "eu", e embora possamos razoavelmente duvidar do que é o "eu", não podemos razoavelmente duvidar de que ele é.
Esta mente é real? Agora no nosso presente estado de vigília, e também em qualquer estado de sonho, experimentamos a nós mesmos como esta mente, por isso parece-nos real. Mas a mente é uma coisa temporária, que aparece no estado de vigília e no sono com sonho e desaparece no sono profundo, então isso nos dá razão para duvidar de quão real ela realmente será. Além disso, temos experiência da sua aparição não só nos estados de vigília e sono com sonho, mas também da sua não aparição no sono profundo, por isso como pode ela na verdade ser nós mesmos?
Se a mente fosse nós mesmos, nós não poderíamos estar cientes da sua ausência no sono, e nem sequer experimentaríamos o sono, porque não podíamos experimentar um estado no qual não existíamos ou do qual não estávamos conscientes. No entanto, quando acordamos do sono, nós sabemos que "eu dormi", e sabemos isto não só por mera inferência mas porque realmente experimentámos esse estado no qual a mente está ausente.
Algumas pessoas assumem que nós realmente não experienciamos o sono, porque acreditam que não podemos experienciar nada quando a nossa mente não está a funcionar, mas se nós realmente não experienciássemos o sono não estaríamos conscientes de qualquer lacuna entre dois estados sucessivos de vigília ou sonho, e portanto iria parecer-nos que estes eram apenas dois estados. Por isso de facto experienciamos o sono, e no sono experienciamos a ausência não só da mente mas também de tudo que ela experiencia, incluindo os vários corpos e mundos que ela experimenta nos estados de vigília e de sonho. Uma vez que experienciamos a não-existência de todas essas coisas no sono, obviamente somos algo distinto de todas elas.
Neste estado de vigília nós experimentamos um corpo e uma mente como "eu", e no sonho experimentamos outro corpo como "eu", mas também experimentamos um terceiro estado chamado sono no qual não experienciamos qualquer corpo nem qualquer mente. Uma vez que assim experimentamos "eu" mesmo quando não experimentamos nenhum corpo ou mente, o "eu" deve ser algo distinto do corpo e da mente.
A mente parece existir só quando a experienciamos como "eu", mas ao analisar a experiência de nós mesmos no sono podemos entender que a nossa experiência actual da mente como "eu" é uma ilusão. Portanto, temos muito boas razões para suspeitar que a mente não é real mas apenas uma aparência ilusória.
No entanto, para raciocinar assim e para duvidar da realidade da nossa mente, devemos usar a nossa mente, de modo que tal raciocínio não pode dar-nos conhecimento certo sobre se a mente é de facto real ou apenas ilusória. A fim de obter algum conhecimento sobre isto, temos de investigar o que é que este "eu" é na verdade.
Uma vez que nunca experienciamos a mente sem a experienciar como "eu", e uma vez que experienciamos "eu" sem experienciar a mente como "eu" no sono, o nosso conhecimento actual sobre o que eu sou é claramente confuso. Sabemos com certeza que eu sou, mas não sabemos ao certo o que eu sou.
Uma vez que o nosso suposto "conhecimento" de outras coisas é baseado na experiência duvidosa de "eu sou esta mente", antes de podermos estar certos sobre qualquer outra coisa que parecemos saber ou experienciar, é preciso primeiro investigar e saber o que este "eu" (o experienciador ou conhecedor) realmente é. Portanto ātma-vicāra (auto-investigação: examinar o que sou eu?) é a pesquisa mais radical e fundamental que podemos empreender, e é a única investigação científica que nos oferece qualquer esperança de ganhar um certo conhecimento sobre qualquer coisa.
Você pergunta: "Ramana foi um grande homem, agora é hora de ir mais longe, estamos em 2013, então, por que não abandonar os velhos costumes e abraçar o novo, levando mais por diante o seu paradigma, não ficar preso neles?" e eu concordo que devemos abandonar os nossos velhos hábitos. Na verdade, isto é precisamente o que o próprio Ramana recomendou. Os nossos velhos hábitos são o nosso hábito há muito enraizado de acreditar em muitas outras coisas além da única coisa que por si só é de facto certa, ou seja, "eu sou". Ramana costumava dizer: "Não acredite no que você não conhece", e a única coisa que realmente sabemos e não meramente acreditamos é "eu sou". Portanto, devemos abandonar os nossos velhos modos de pensar e acreditar, e em vez disso dedicar-nos exclusivamente a investigar o que este "eu" realmente é.
Todos os paradigmas em que agora acreditamos, ou que já acreditámos no passado, implicam a nossa crença de que "eu sou esta mente" e "eu sou este corpo", e também a nossa crença num mundo externo que existe independente da nossa experiência dele. Estas são todas crenças duvidosas, por isso devemos estar prontos a abandoná-las e a investigar a realidade do "eu" que até agora as manteve.
Quer pareça que existimos no tempo de Buddha ou no tempo de Jesus, no tempo de Sankara ou no tempo de Ramana, em 2013 ou 2500, só há uma coisa que é certamente verdadeira, e que é "eu sou".O que quer que experimenta qualquer momento, ou qualquer lugar, ou qualquer outra coisa, deve existir a fim de os experienciar. Aquilo que experiencia todas estas coisas experiencia a sua própria existência como "eu sou", de modo que embora tudo o que ele experimenta possa ser uma ilusão, a sua experiência fundamental "eu sou" deve ser real. O que quer que este "eu" agora parece ser também pode ser uma ilusão, mas, seja qual for a ilusão que pareça ser, o facto de que "eu" existe é indubitável.
Portanto, vamos agora tentar descobrir o que este "eu" realmente é. Isto é tudo o que Sri Ramana nos aconselha a fazer. Ele não nos pede para acreditar em qualquer coisa que não seja "eu sou", e na verdade ele pede-nos para duvidar da realidade de tudo que não seja "eu sou".
No versículo 26 de Ulladu Nārpadu, ele diz que investigar o que é esse "eu" é abandonar tudo ([...] யாது இது என்று நாடலே ஓவுதல் யாவும் [...]: [...] yādu idu endru nādal-ē ōvudal yāvum [...]), porque tudo parece existir apenas quando a mente ou o ego parecem existir, e a mente ou o ego é apenas um conhecimento equivocado do que eu sou. Se investigar e experienciar o que eu realmente sou, a mente ou o ego se dissolverá e deixará de aparecer (tal como uma cobra ilusória se dissolveria e deixaria de aparecer quando é reconhecida que não é nada mais do que uma corda), e quando a mente assim deixa de aparecer, tudo o que foi experimentado por ela também deixará de aparecer.
Mas mesmo isto é adiantar-nos a nós mesmos. Não há necessidade até de que acreditemos no que Sri Ramana nos diz que vamos sentir quando investigamos e experimentamos a nós mesmos como realmente somos. Acreditar no que ele diz pode encorajar-nos em nosso esforço para experimentar a nós mesmos como realmente somos, mas não é essencial, desde que estejamos prontos para duvidar de tudo o mais e acreditar apenas "eu sou", e portanto investigar o que este "eu" realmente é. .
Quanto à sua estrutura, eu não acho que seja significativo dizer que tem alguma estrutura. É aquilo que experiencia todas as estruturas, mas é a própria consciência pura e portanto desprovida de qualquer estrutura.
Qualquer coisa em que podemos acreditar acerca dos seres humanos há 50.000 anos ou no futuro é apenas especulação. Tudo o que sabemos com certeza é que eu sou agora, por isso é melhor concentrar a nossa pesquisa neste "eu sou" a fim de saber o que ele realmente é. Agora confundimos "eu sou" com um corpo e mente, mas no sono nós experienciamos "eu sou" sem experimentar qualquer corpo ou mente, por isso não pode ser idêntico a qualquer um destes dois fenómenos. Por isso, antes de podermos atingir um certo conhecimento sobre qualquer outra coisa, primeiro precisamos experienciar o que este "eu sou" realmente é.
Não podemos experimentar isso por meio do raciocínio ou lógica, mas apenas pela pesquisa empírica: ao focar toda a nossa atenção em "eu sou", excluindo assim tudo o resto da nossa consciência.
Sexta resposta:
Como a mente está em constante mudança, ela nunca fica parada no aqui e agora, mas em vez disso apanhada no fluxo constante de mudança, que está sempre em movimento do passado para o futuro. A única coisa que está sempre no aqui e agora é "eu sou", porque ele nunca muda.
Portanto se queremos estar no aqui e agora temos de prestar atenção só ao "eu sou", porque se em vez disso prestamos atenção à constante actividade ou reactividade da mente, vamos ficar presos no fluxo de constante mudança do tempo do passado para o futuro.
Na realidade nunca experimentamos o tempo como tal, mas sim apenas experimentamos a mudança (contra o fundo estático do sempre-presente e imutável "eu sou", e a nossa experiência da mudança cria a aparência de tempo. Portanto enquanto experienciarmos mudança estaremos enredados no tempo, e por isso a única maneira de transcender ou tornar-se livre do tempo é prestar atenção apenas a "eu sou".
Como Sri Ramana diz no versículo 13 de Upadēśa Taṉippākkaḷ:
நாமன்றி நாளேது நாநம்மை நாடாதுநாமுடலென் றெண்ணினமை நாளுண்ணு — நாமுடம்போநாமின்று சென்றவரு நாளென்று மொன்றதனானாமுண்டு நாளுண்ட நாம்.
nāmaṉḏṟi nāḷēdu nānammai nāḍādunāmuḍaleṉ ḏṟeṇṇiṉamai nāḷuṇṇu — nāmuḍambōnāmiṉḏṟu seṉḏṟavaru nāḷeṉḏṟu moṉḏṟadaṉāṉāmuṇḍu nāḷuṇḍa nām.
பதச்சேதம்: நாம் அன்றி நாள் ஏது? நாம் நம்மை நாடாது ‘நாம் உடல்’ என்று எண்ணில், நமை நாள் உண்ணும். நாம் உடம்போ? நாம் இன்று, சென்ற, வரு நாள் என்றும் ஒன்று. அதனால் நாம் உண்டு, நாள் உண்ட நாம்.
Padacchēdam (separação das palavras): nām aṉḏṟi nāḷ ēdu? nām nammai nāḍādu ‘nām uḍal’ eṉḏṟu eṇṇil, namai nāḷ uṇṇum. nām uḍambō? nām iṉḏṟu, seṉḏṟa, varu nāḷ eṉḏṟum oṉḏṟu. adaṉāl nām uṇḍu, nāḷ uṇḍa nām.
அன்வயம்: நாம் அன்றி நாள் ஏது? நாம் நம்மை நாடாது ‘நாம் உடல்’ என்று எண்ணில், நமை நாள் உண்ணும். நாம் உடம்போ? இன்று, சென்ற, வரு நாள் என்றும் நாம் ஒன்று. அதனால், நாள் உண்ட நாம், நாம் உண்டு.
Anvayam (palavras rearranjadas em prosa natural): nām aṉḏṟi nāḷ ēdu? nām nammai nāḍādu ‘nām uḍal’ eṉḏṟu eṇṇil, namai nāḷ uṇṇum. nām uḍambō? iṉḏṟu, seṉḏṟa, varu nāḷ eṉḏṟum nām oṉḏṟu. adaṉāl, nāḷ uṇḍa nām, nām uṇḍu.
Tradução: Excepto nós, onde está o tempo? Se [por causa de] não investigarmos a nós mesmos pensamos que somos um corpo, o tempo vai engolir-nos. [Mas] nós somos um corpo? Nos tempos presente, passado e futuro somos sempre um. Portanto há [só] nós, nós que engolimos o tempo.
Em Tamil, a primeira frase deste versículo claramente implica que só nós na realidade existimos, e que não existe tempo ou outra coisa qualquer. Contudo, quando não investigamos a nós mesmos (isto é, quando não prestamos atenção apenas ao "eu"), o tempo vai engolir-nos, mas se investigamos a nós mesmos, vamos descobrir que só nós existimos, e portanto teremos engolido o tempo.
Como você diz, "a mente não pode reconhecer uma realidade material se a sua natureza é diferente dessa realidade", ou melhor, não poderia reconhecer o que parece ser uma realidade material se a sua natureza fosse diferente dessa realidade aparente. Isto é expresso por Sri Ramana no versículo 4 de Uḷḷadu Nāṟpadu:
உருவந்தா னாயி னுலகுபர மற்றா
முருவந்தா னன்றே லுவற்றி — னுருவத்தைக்
கண்ணுறுதல் யாவனெவன் கண்ணலாற் காட்சியுண்டோ
கண்ணதுதா னந்தமிலாக் கண்.
uruvandā ṉāyi ṉulahupara maṯṟāmuruvandā ṉaṉḏṟē luvaṯṟi — ṉuruvattaikkaṇṇuṟudal yāvaṉevaṉ kaṇṇalāṯ kāṭciyuṇḍōkaṇṇadutā ṉantamilāk kaṇ.
பதச்சேதம்: உருவம் தான் ஆயின், உலகு பரம் அற்று ஆம்; உருவம் தான் அன்றேல், உவற்றின் உருவத்தை கண் உறுதல் யாவன்? எவன்? கண் அலால் காட்சி உண்டோ? கண் அது தான் அந்தம் இலா கண்.
Padacchēdam (separação das palavras): uruvam tāṉ āyiṉ, ulahu param aṯṟu ām; uruvam tāṉ aṉḏṟēl, uvaṯṟiṉ uruvattai kaṇ uṟudal yāvaṉ? evaṉ? kaṇ alāl kāṭci uṇḍō? kaṇ adu tāṉ antam-ilā kaṇ.
அன்வயம்: தான் உருவம் ஆயின், உலகு பரம் அற்று ஆம்; தான் உருவம் அன்றேல், உவற்றின் உருவத்தை யாவன் கண் உறுதல்? எவன்? கண் அலால் காட்சி உண்டோ? கண் அது தான் அந்தம் இலா கண்.
Anvayam (palavras rearranjadas em prosa natural): tāṉ uruvam āyiṉ, ulahu param aṯṟu ām; tāṉ uruvam aṉḏṟēl, uvaṯṟiṉ uruvattai yāvaṉ kaṇ uṟudal? evaṉ? kaṇ alāl kāṭci uṇḍō? kaṇ adu tāṉ antam-ilā kaṇ.
Tradução: Se se é uma forma, o mundo e Deus será o mesmo; se se não é uma forma, quem pode ver as suas formas, e como? Pode o que é visto ser de outra forma [em natureza] do que o olho [aquele que vê ou o experiencia]? O Si mesmo, [que é] esse olho, é [na verdade] o olho infinito [o "olho" ou consciência que não é limitada por qualquer forma].
Portanto, a fim de experimentar algo diferente de si mesma, a primeira pessoa (a mente ou ego) deve primeiro experimentar-se como uma forma, o que ela faz ao confundir-se a ela própria como sendo um corpo físico. Contudo, embora ela agora se experimente a si própria como a forma de um corpo, este ego na verdade não tem forma própria, por isso depende de formas para a sua existência aparente. Como Sri Ramana diz no versículo 25 de Uḷḷadu Nāṟpadu:
உருப்பற்றி யுண்டா முருப்பற்றி நிற்குமுருப்பற்றி யுண்டுமிக வோங்கு — முருவிட்டுருப்பற்றுந் தேடினா லோட்டம் பிடிக்குமுருவற்ற பேயகந்தை யோர்.
uruppaṯṟi yuṇḍā muruppaṯṟi niṟkumuruppaṯṟi yuṇḍumiha vōṅgu — muruviṭṭuruppaṯṟun tēḍiṉā lōṭṭam piḍikkumuruvaṯṟa pēyahandai yōr.
பதச்சேதம்: உரு பற்றி உண்டாம்; உரு பற்றி நிற்கும்; உரு பற்றி உண்டு மிக ஓங்கும்; உரு விட்டு, உரு பற்றும்; தேடினால் ஓட்டம் பிடிக்கும், உரு அற்ற பேய் அகந்தை. ஓர்.
Padacchēdam (separação das palavras): uru paṯṟi uṇḍām; uru paṯṟi niṯkum; uru paṯṟi uṇḍu miha ōṅgum; uru viṭṭu, uru paṯṟum; tēḍiṉāl ōṭṭam piḍikkum, uru aṯṟa pēy ahandai. ōr.
அன்வயம்: உரு அற்ற பேய் அகந்தை உரு பற்றி உண்டாம்; உரு பற்றி நிற்கும்; உரு பற்றி உண்டு மிக ஓங்கும்; உரு விட்டு, உரு பற்றும்; தேடினால் ஓட்டம் பிடிக்கும். ஓர்.
Anvayam (palavras rearranjadas em prosa natural): uru aṯṟa pēy ahandai uru paṯṟi uṇḍām; uru paṯṟi niṯkum; uru paṯṟi uṇḍu miha ōṅgum; uru viṭṭu, uru paṯṟum; tēḍiṉāl ōṭṭam piḍikkum. ōr.
Tradução: Tomando forma, o ego-fantasma sem-forma surge; tomando forma permanece [ou perdura]; Agarrando-se e alimentando-se da forma cresce [ou prospera] abundantemente; deixando [uma] forma, toma [outra] forma. Se procurado [examinado ou investigado], desaparece. Saiba [assim].
Portanto, para destruir a nossa presente ilusão de que somos a forma deste corpo, devemos examinar a nós mesmos e assim descobrir o que este "eu" realmente é. Se fizermos isso, este ego, o que agora parece ser "eu", vai "levantar voo" e deixar de existir, após o que só aquilo que realmente é "eu" permanecerá.
ॐ
Tradução: Blog Texto Meditativo
Querida Alma Gentil ... AMEI. Namasté
ResponderEliminarQuerida Néné,
EliminarGratidão é o que eu sinto.Beijinhos.
Namaste.