sábado, 28 de fevereiro de 2015

Guru Vachaka Kovai - Grinalda de Palavras do Guru (2)






Nirvana


Como a serpente que habita no ninho de formigas, que se desfaz da sua pele sem a menor preocupação, é nosso dever nos desfazermos das cinco camadas que se colam a nós através de ilusória associação, e cuja forma é o véu que provoca sofrimento.


Jiva-nirvana é o estado em que o apego aos cinco invólucros foi removido, a fim de desfrutar plenamente da silenciosa Bem-aventurança nascida pela Graça do Senhor, o Ser, que é o espaço da Consciência.   



Guruvachaka Kovai, 441-442
Grinalda das Palavras do Guru, de Muruganar   


   

['Nirvana' significa desvelamento, ou seja, o derramamento dos cinco invólucros]

Sadhu Om explica: Este versículo também pode ser interpretado da seguinte forma metafórica e mística: A noiva [o Jiva], a fim de que lhe seja concedido plenamente desfrutar de seu noivo [o Ser], tem de abandonar a sua timidez na forma de apego aos cinco invólucros. 
Na sua litania-de-amor "Arunachala Aksharamanamalai", que significa "Grinalda de noivado de poemas para Arunachala", Sri Ramana canta assim no verso nº 30:

Oh Arunachala! Destrói minhas roupas, e tendo-me desnudado,
concede-me a veste de Tua Graça.



A verdadeira natureza da alma é obscurecida devido às coberturas que a encerram. Cinco camadas (Koshas) feitas de ignorância (avidya) a cobrem: annamaya (corpo físico), pranamaya (ar vital), manomaya (mente), vijnanamaya (intelecto), e anandamaya (pseudo-Bem-aventurança; Reflexo de Atma (Alma), que existe num estado de felicidade absoluta). Identificando-se com elas, a alma passa pela vida empírica, totalmente alheia à sua verdadeira natureza como puro Ser. Estas coberturas têm de ser descartadas, e a alma deverá ser reivindicada. A alma devota reza a Arunachala para que a dispa e lhe conceda as vestes da Sua Graça.

















Durga com, no seu coração, Brahma, Vishnou e Shiva


Escute! As pessoas não podem sequer pensar a não ser quando capacitadas para o fazer pelo Poder Supremo Chit-Shakti  que é benevolente para com todos. Aqui neste mundo o saltitar das pessoas, entusiasmadas pelo sentimento de 'eu vou fazer isto!' realizando karmas com grande entusiasmo e zelo, é de facto uma grande maravilha.



Isto é muito parecido com o zelo do aleijado que declarou: "Se alguém me erguer e me apoiar, enfrentarei uma séria de inimigos só com uma mão, os abaterei, e aqui levantarei uma pilha de cadáveres".




Guruvachaka Kovai, 168-169
Grinalda das Palavras do Guru, de Muruganar   


   


Os dois versículos acima são condensados e resumidos por Bhagavan no versículo seguinte: 


As actividades fúteis dos loucos que, não percebendo que eles próprios são activados pelo Poder Supremo, e fazem esforços pensando: "Vamos adquirir todos os siddhis", são como [os esforços] do aleijado da história, que se gabava: "Se alguém me ajudar a ficar de pé, que valor terão os meus inimigos diante de mim?"



Este versículo também aparece como o versículo quinze em Ulladu Narpadu Anubandham



















Oh! gente infeliz e extrovertida! Vocês que suportam sofrimento infindo pela percepção dos objectos dos sentidos sem perceberem primeiro aquele em cuja visão eles aparecem! A Felicidade é simplesmente a remoção do sentimento de dualidade. Isso ocorre quando a atenção está voltada para dentro e não para fora.



Guruvachaka Kovai, 186
Grinalda das Palavras do Guru, de Muruganar





Sadhu OM explica: Os termos "para dentro" e "para fora" podem ser utilizados apenas em referência ao corpo, mas como o próprio corpo é uma mera imaginação, tais termos não devem ser interpretados literalmente. A razão para a utilização destas palavras é que o aspirante, na sua ignorância, sente o seu corpo como "eu", assim, ao lhe ser dito para "voltar para dentro", ele deve entender que deve "voltar para Si próprio", isto é, deve voltar a sua atenção para o que Ele sente como "Eu". Na verdade, o Si não está dentro nem fora do corpo uma vez que ele existe só para além de todas as limitações, tais como tempo e espaço.








Perfeita e pacífica clareza é o que os Vedas declaram ser o objectivo final de tapas. Por outro lado, quaisquer que sejam os abundantes e incomensuráveis benefícios atingidos [por meio de qualquer tipo particular de tapas], se depois ainda continua a haver um pingo de desejo [ou oscilação da mente], então esse tapas deve ser abandonado de imediato.


Não conclua que alcançou a graça gloriosa de Deus apenas em razão das mais variadas riquezas do mundo que tenha obtido através de meios virtuosos. Considere somente o brilho da consciência profundamente pacífica, que é desprovida das ansiedades que surgem através de pramada [esquecimento desditoso, negligência], como indicação da graça de Deus. 


Guruvachaka Kovai, 751-753
Grinalda das Palavras do Guru, de Muruganar





Sadhu OM explica: As pessoas ignorantes muitas vezes pensam que obtiveram a Graça de Deus meramente por terem recebido diferentes tipos de bem-estar terreno, como riqueza e saúde. Mas estes não são os sinais correctos da Graça de Deus, uma vez que são dados meramente em função dos punyas [actos meritórios] de cada um, ou seja, são o resultado de prarabdha*. O estado de Jnana, em que se conhece o Ser e assim se permanece em paz ininterrupta, livre de sofrimentos, por si só é o verdadeiro sinal da Graça de Deus. É de notar aqui também que a pacífica clareza de Auto-consciência, que no versículo 751 se disse ser "o objectivo final de tapas", neste versículo é dito que é o verdadeiro sinal da Graça de Deus. 
* Prarabdha: Karma cujos efeitos inevitáveis se manifestam durante a vida presente na nossa própria natureza, isto é, aquilo que constitui o nosso carácter, e as múltiplas circunstâncias que nos rodeiam. 






Se os poucos que são extremamente ricos desistissem da sua vida de luxo em vez de a abraçarem,  através desse [sacrifício] inumeráveis Jivas que [caso contrário] passam fome, definham e sofrem intensamente na doença da pobreza poderiam viver uma vida de prosperidade.


Guruvachaka Kovai, 491
Grinalda das Palavras do Guru, de Muruganar




Devemos a nossa riqueza espiritual não apenas aos sábios, videntes, mestres e seres iluminados que percorreram o caminho, mas também à comunidade que os alimentou. Na tradição Hindú, servir os buscadores da espiritualidade e os monges foi de extrema importância. Na verdade, para muitos, este foi um caminho em si mesmo. A mais bela expressão disso foi Annadhanam, a oferta de alimentos. 

Antes de a História começar a ser gravada, as pessoas de todo o mundo reconheceram a estreita ligação entre o alimento e a vida. A palavra sânscrita annadhanam significa literalmente a oferta ou a partilha (dhanam) de alimentos (annam). Na cultura indiana, a partilha de alimentos sempre foi considerada um dever sagrado. Em todas as comunidades em todo o subcontinente Indiano, nenhum festival ou cerimónia é completo sem annadhanam, ou distribuição de prasadam, os artigos comestíveis oferecidos durante opuja. Os alimentos são oferecidos aos antepassados, aos devas, aos sanyasis, aos anciãos, aos peregrinos, assim como à família, aos amigos, aos visitantes, e a quem sente fome, incluindo os animais. Devido a essa tradição universal, ao longo de milénios, os iogues, santos e sábios têm podido viajar, espalhando as ciências espirituais, de uma ponta à outra do subcontinente.







O melhor caminho para diminuir as actividades da mente - que irrompem para o exterior como [a tríade ou triputi], o vidente, a visão e o objecto visto - é treinar a mente para ver a sua própria natureza [por outras palavras, praticar a Auto-atenção]. 


Guruvachaka Kovai, 758
Grinalda das Palavras do Guru, de Muruganar









Através da destruição do ego insano, as tríades [vidente-visto-ver, conhecedor-conhecido-conhecer] que são baseadas nele desaparecem e acabam, junto com sakala [multiplicidade: os estados de vigília e de sonho]. 

O puro [sudha] estado de plena Luz-do-Dia [Ser] que então brilha para sempre como centenas de sóis é Sivaratri [a Noite de Siva].




Guruvachaka Kovai, 459
Grinalda das Palavras do Guru, de Muruganar


http://amritsartemples.in/wp-content/uploads/2013/02/Shivratri-Greeting-Pictures-Photos-images.jpg

Seja feita a Tua Vontade Senhor.
Que o Senhor te guie ao longo da tua vida

          Maha Shivaratri é um Festival Hindú.
Sadhu OM explica: É uma noite auspiciosa (uma noite antes da lua nova) em que todos os jivas, incluindo Brahma e Vishnu, adoram o Senhor Shiva. A beleza deste momento é que esta noite é como a pura luz do dia. Porquê? Uma vez que nenhuma outra coisa é lá conhecida, lá é noite; e uma vez que lá a consciência pura brilha, é luz brilhante do dia.







Aquele que se alegra com a acção da vontade divina com a atitude, "Ó Senhor não há nada que tenha de acontecer da maneira que eu desejo; deixa que prevaleça a Tua vontade divina", não terá nenhuma razão para ter medo em sua mente, não importa o que aconteça.


Não dando o menor espaço no nosso coração - que sente um grande amor em prestar a atenção ao Ser, a verdadeira forma de Deus - a qualquer pensamento levantado por vasanas [tendências inatas latentes] é a maneira correcta de nos oferecermos ao Senhor.



Guruvachaka Kovai, 481-482
Grinalda das Palavras do Guru, de Muruganar






Sadhu Om explica: Estas são as palavras da Graça transmitidas por Sri Bhagavan em Quem sou Eu?: "Não dar qualquer espaço ao surgimento de quaisquer pensamentos a não ser o pensamento do Ser [Atma-chintanai] - isto é, Auto-atenção] e permanecer firmemente estabelecido no Ser é render-se ao Senhor". Consulte também o versículo 1189







Saiba que:


Conhecimento [Pura Consciência] é não-apego;
Conhecimento [Pura Consciência]  é pureza;
Conhecimento [Pura Consciência] sem-esquecimento é libertação-do-medo [abhayam];
Conhecimento [Pura Consciência] é o elixir da imortalidade;
Conhecimento [Pura Consciência] apenas é tudo.

Abhayam pode alternativamente significar: ‘o local de refúgio’




O Conhecimento da largura e comprimento, da base e do topo - a profundidade e altura - do Conhecimento não é senão o bem-aventurado silêncio da mente; é impossível mesmo para os deuses conhecer esse estado de Conhecimento.


Sri Muruganar explica: Uma vez que o Conhecimento transcende todas as limitações e medidas, está além da compreensão. A fusão do conhecimento da mente no Conhecimento não-dual [Kevala Arivu] e lá permanecer em Bem-aventurança por si só é o conhecimento do Conhecimento.




Além da Consciência não existe o mundo;
Além da Consciência não existe o amado jiva;
Além da Consciência não existe a suprema-graça;
Conhecer a Consciência é de facto a verdade suprema.



Guruvachaka Kovai, 438-439-440
Grinalda das Palavras do Guru, de Muruganar










Antes de obter um objecto desejado, o desejo intenso faz até mesmo um átomo parecer do tamanho do Monte Meru. No entanto, quando o objecto desejado é obtido, em total contraste, o Monte Meru parece um átomo. Os desejos fortes mantêm-nos para sempre pobres, por isso nunca vimos em lugar nenhum um abismo sem fundo tão impossível de preencher como os desejos avaros que nunca podem ser satisfeitos.


Guruvachaka Kovai, 371
Grinalda das Palavras do Guru, de Muruganar







Quando Draupadi, a mulher casta, desistiu de segurar o seu sari, e ergueu as mãos juntas acima da cabeça, rezando, "Krishna, agora só tu és o meu refúgio", o sari protegendo a sua honra cresceu sem parar, e o forte Duchasana caiu abalado, como que paralisado.
(Guruvachaka Kovai, 468)
(Grinalda das Palavras do Guru, de Muruganar)






Sadhu Om explica: - Enquanto Draupadi estava tentando segurar o sari
com as suas próprias mãos para que não lhe fosse arrancado, e foi chamando
a Sri Krishna por socorro, a Sua Graça não começou a
operar. Mas assim que, tendo fé completa na Sua
graciosa protecção, ela desistiu de segurar as roupas com as
próprias mãos e as levantou acima da cabeça em oração, a sua rendição
tornou-se completa e, portanto, a Sua Graça começou a operar
fazendo o sari aumentar infinitamente e fazendo com que o abominável
Duchasana que estava a tentar despi-la caísse envergonhado.
Este incidente é apontado a fim de instruir-nos que
devemos abandonar o sentido de que somos nós os fazedores e devemos, portanto,
entregar-nos a Deus completamente e sem reservas.


Draupadi é a principal personagem feminina no Épico Hindú Mahabharata,
considerado o maior épico do mundo, que inclui a 






A esposa dos irmãos Pandava (Arjuna, Maharaja Yudhisthira, Bhima, Sahadeva e Nakula)está a ser despida por Duryodhana e Duhsasana, dois filhos de Dhrtarastra,
depois de ter sido perdida para eles numa partida de jogo.
Dhrtarastra está sentado no trono. Krishna está se tornando o manto infinito de Draupadi
para a salvar de ser vista nua pela assembleia.
Devido a este incidente e outras ofensas aos Pandavas, Krishna queria que houvesse uma batalha...




MAHABHARATA





Templo de Draupadi Amman no sopé de Arunachala





Tradução: Blog "Texto Meditativo"

Consulta: Guru Vachaka Kovai.pdf




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