domingo, 29 de março de 2015

Guru Vachaka Kovai - Grinalda de Palavras do Guru (3)




http://www.exoticindiaart.com/product/paintings/life-in-warli-PQ22/


Aqueles que, como uma criança que não procura saber o que é bom para ela [mas se apoia nos seus pais], dependem exclusivamente da Mãe, Chit-Shakti, a Graça do Senhor, alcançam os Seus Pés e mantêm-se naturalmente no Seu serviço​ [isto é, permanecem no Ser], tendo abandonado todas as acções feitas com o sentimento de ser-o-fazedor, que são causadas pela ilusão enganadora [Maya] ''eu sou o corpo''.


Guruvachaka Kovai, 469
Grinalda das Palavras do Guru, de Muruganar






Sadhu Om explica:
Ao invés de dependerem do seu próprio esforço [que apenas é o sentimento de ser-o-fazedor], os devotos ou aspirantes sempre dependem do poder da Graça do Supremo. Este poder é personificado aqui como a Mãe. Ela é descrita como 'Chit-Shakti' porque a Graça brilha em todos sob a forma de Auto-Consciência - o sphurana 'Eu-Eu'. Uma vez que isto se explica simplesmente pela misericórdia inexplicável do Senhor, essa Graça Sua é aqui descrita como a Mãe. 
A maneira correcta de compreender esta instrução de Sri Bhagavan Ramana Maharshi, é que os aspirantes devem completamente, e sem duvidar, agarrar-se à Auto-consciência "Eu-Eu'. Como uma criança que, sem mesmo tentar saber o que é bom para si, depende unicamente da sua mãe, se um aspirante, mesmo sem tentar conhecer quaisquer escrituras, sem tentar fazer qualquer yoga, ou sem esperar qualquer ajuda externa, simplesmente se agarrar à consciência - ‘Eu’, isso por si só é suficiente e ele vai facilmente e certamente ser salvo de toda as ilusões e armadilhas.
Uma vez que agarrar a consciência - 'Eu' é meramente um "ser" e não um "fazer", nem é preciso um fazedor nem mesmo existe uma acção [karma]. Assim, o aspirante naturalmente sempre permanece no Ser. Sri Bhagavan informa que este permanecer-no-Ser por si só é o estado de permanecer em serviço do Senhor. 








Deus habita no coração de todos, como O Coração, silenciosamente propiciando, através da sua mera presença, todas as coisas que devem ser feitas para todos do modo como foram ordenadas. Se também nós permanecermos na nossa fonte, O Coração, sem-pensamento e sem d' Ele sair, e nos fundirmos com a sua swarupa ou natureza essencial de Deus, que também é O Coração, o que tiver de nos acontecer vai acontecer sem qualquer impedimento.

  

Aqueles que têm fé forte, "Ele que plantou esta árvore vai regá-la", nunca estarão angustiados. Se Ele [quem plantou] vê a árvore secar, que mesmo essa visão comovente seja um fardo apenas Seu.


Guruvachaka Kovai, 473-474
Grinalda das Palavras do Guru, de Muruganar





Os devotos com grande fé em Deus nunca sentem preocupação com as necessidades da sua vida, por estarem certos de que Deus nunca os abandonará. Mesmo quando acontece não terem as suas necessidades satisfeitas, não se sentem aflitos; simplesmente suportam tudo pacientemente, sentindo que é só Deus que tem de sofrer por os ver perturbados. Assim, em todas as ocasiões são felizes. Este versículo garante, então, que para esses devotos não existe qualquer infelicidade na vida.








Deus permanece e brilha de forma clara e para sempre
como Atman-swarupa [a Natureza Inerente ou Intrínseca da Alma Individual].

Através de ilusão, primeiro separamos d' Ele esse Atman.
Com o alvorecer da sabedoria, de livre vontade e felizes o restituímos, chamando-o de atma-samarpana [auto-entrega].

Isto é semelhante ao acto de crianças ignorantes que partem um pedaço de uma imagem de Ganesha feita de açúcar, e depois a entregam ao mesmo Ganesha como naivedhya [oferenda sagrada].




Guruvachaka Kovai, 486
Grinalda das Palavras do Guru, de Muruganar





Oferecer-se com grande devoção ao Senhor, que brilha como puro Ser, é como partir o dedo do pé da imagem de Ganapathi no doce feito de açúcar mascavado, e oferecê-lo à própria imagem. 
Se até mesmo a auto-entrega, que é muito glorificada no dualismo como sendo a maior e final forma de devoção a Deus, é exposta por Sri Bhagavan nesta Upadesa (instrução) como sendo sem sentido, devemos ponderar de que adiantarão todas as outras formas de adoração!
Por conseguinte, manter-se sereno, permanecer no Ser, não dar espaço ao surgimento do "eu", que é o erro que usurpa a posse de Deus, é a melhor das devoções.






Coloque incondicionalmente a sua mente aos Pés do Senhor [Shiva] que tem Shakti à Sua esquerda. Então, como o "eu", que investiga o eu-ilusório, se extingue, junto com o conceito de "meu", o Ser Supremo glorioso bem-aventurado brilha triunfante.



Guruvachaka Kovai, 487
Grinalda das Palavras do Guru, de Muruganar




''O Senhor que tem Shakti à Sua esquerda'' é uma forma tradicional de referência ao Senhor Shiva.






A grandeza de uma pessoa aumenta na medida em que ela se torna humilde. 
A razão pela qual Deus é Supremo, de tal forma que o universo inteiro se curva perante Ele, é o Seu sublime estado de humildade no qual o ego iludido nunca se eleva inadvertidamente. 

  

Humildemente e entusiasticamente Deus adora a todos os seres o tempo todo estando para todo o sempre ao serviço de todos. Não é por isso que ele se tornou privilegiado em receber as grandes e gloriosas formas de culto realizadas a cada dia por todos os seres de todos os mundos?

  

Por Ele Se ver em todos, por Ele ser humilde mesmo para com os Seus devotos que se curvam a todos, e por Ele permanecer naturalmente em tal esplendor de mansidão que nada pode ser mais manso do que Ele, o estado de ser Supremo alcançou o Senhor.

  

Guruvachaka Kovai, 494-496-497
Grinalda das Palavras do Guru, de Muruganar





Sadhu Om explica:
Através de versículos 494, 496 e 497, Sri Bhagavan revela uma verdade única e surpreendente, isto é, Ele explica como Deus permanece digno de ser adorado por todos os mundos. Sri Bhagavan assinala aqui que é porque Deus é naturalmente e amorosamente humilde para com todos em toda a Sua própria criação. 
O seguinte incidente prova que Bhagavan Sri Ramana, por esta mesma razão, não é senão o Próprio Deus. Um devoto perguntou a Sri Bhagavan: "Qual é o seu sentimento quando centenas de pessoas vêm e lhe fazem pranams?" Sem hesitar, Sri Bhagavan respondeu: "Primeiro eu faço as minhas namaskarams a cada um deles, assim que entram nesta sala, e só depois eles assim fazem também. Extinguir o ego é a forma correcta e verdadeira de fazer namaskarams. Não tenho mais oportunidade em cada dia para fazer tais namaskarams do que qualquer um que vem aqui?" 
Esta Sua resposta contém muitos segredos e um profundo significado para reflectir sobre ele. A essência da instrução dada aqui é que ser sempre humilde, sem permitir o surgimento do ego, é a única maneira de alcançar grandiosidade.




Namaste, Namaskar ou Pranam
Significa ‘eu saúdo a luz de Deus que está em ti’. Na verdade, significa que a luz de Deus em mim saúda a luz de Deus em ti. Mas tu sabes que não há nenhuma diferença entre a luz de Deus que está em mim e a luz de Deus que está em ti. E uma vez que as saudações só se realizam entre duas entidades separadas, para nós seria melhor não falar em absoluto de saudações, mas sim dizer que a luz de Deus em nós celebra a sua presença eternamente em nossos corações.











Quem, pelo seu desejo de nome e fama, tenta brilhar como alvo da atenção dos outros, por esse desejo se torna vulnerável  e desnecessariamente cria para si mesmo um obstáculo à sadhana que adoptou.


Guruvachaka Kovai, 624
Grinalda das Palavras do Guru, de Muruganar










As muitas aflições que acontecem com a gravidade de relâmpagos e trovões na vida
de grandes devotos destinam-se a estabelecer a sua mente pura mais e mais firmemente [n' A Prática da Verdade, tapas, ou seja, na permanência-no-Ser] e não para os derrubar [dele].

 

Discriminando, e sabendo bem que todos os sofrimentos que vêm por prarabdha na sua vida lhe são enviados pela graça de Deus, a fim de tornar a sua mente mais forte e assim o salvar, que o aspirante os suporte pacientemente como tapas sem se sentir minimamente alarmado.

 

Assim como uma jóia retirada de uma mina não terá pleno brilho se não é polida sobre o rebolo, assim também o verdadeiro tapas, a Sadhana que se está a praticar, não vai brilhar plenamente se não for provida com testes e tribulações no seu caminho.

 

Guruvachaka Kovai, 617-618-619
Grinalda das Palavras do Guru, de Muruganar







Não vagueie buscando, sem conseguir encontrar o estado imperecível, apesar de ter aprendido todas as artes e ciências, e as dominar completamente.
O estado supremo é ser inteiramente como a realidade que permanece consagrada como a forma do amor. É simplesmente permanecer como amor n'Ele, O Senhor, Que brilha como Amor.


Guruvachaka Kovai, 649
Grinalda das Palavras do Guru, de Muruganar










Aqueles que não conhecem o sabor do amor, que em nada é inferior a qualquer um dos outros seis sabores, consideram o amor como o sétimo sabor. [Mas saiba que] o amor é o sabor de base, que dá vida a todos os outros sabores diferentes classificados [no passado].

(Os seis sabores são doce, amargo, salgado, azedo, pungente e adstringente, e o amor é por vezes classificado juntamente com estes, como o sétimo sabor.)


Somente aqueles que não conhecem o sabor inexprimível do amor o vão contar como o sétimo [como se o amor fosse um sabor como os outros seis sabores]. Mas assim que conhecemos bem o sabor do amor, o verdadeiro sabor, declaramos que o amor é o único sabor feliz [e que nenhum dos outros é sabor afinal].


Só quando o Ser, a verdade do amor, é conhecido, será cortado o nó de todos os problemas graves na vida. Só mesmo quando o auge do amor [o amor supremo ou para-bahkti] é atingido se pode dizer que a libertação é alcançada. O amor é, na verdade, o coração de todas as religiões.

 

Guruvachaka Kovai, 650-651-652
Grinalda das Palavras do Guru, de Muruganar




Sadhu Om explica:
Quando a verdadeira natureza do amor é realizada, deixará completamente de assumir a forma de desejo, que é o seu 'vritti-rupa' [isto é, cujo amor tem a forma de um vritti ou movimento]. Assim, quando o desejo é removido, todas as suas cinco ramificações, nomeadamente ira, avareza, ilusão, arrogância e ciúme, também deixarão de existir. Uma vez que todos os problemas da vida são baseados apenas nestes seis vícios, diz-se que o nó de todos os problemas na vida será cortado ao ser realizada a verdadeira natureza do amor. A verdade do amor não é senão o Ser. Como? Uma vez que a verdadeira natureza do Ser é asti-Shakti-priya ou Sat-Chit-Ananda, amor [pryia] ou Ananda não pode ser diferente do Ser. É por isso que os Sábios declaram que o amor é Deus.







Adorar a realidade sem forma através do pensamento sem-pensamento [observar a Auto-consciência 'Eu sou' livre-de-pensamento] é por si só excelente. Para alguém que não tem a capacidade para esta adoração sem forma do ser supremo, adorar a Deus em forma é por si só adequado.


Guruvachaka Kovai, 658
Grinalda das Palavras do Guru, de Muruganar











Para os sadhus dos estados mais elevados que vivem suas vidas tendo como único alvo os brilhantes Pés do Senhor Siva [Deus], é melhor ser objecto de grande piedade no palco deste mundo do que ser objecto de inveja. 

Guruvachaka Kovai, 665
Grinalda das Palavras do Guru, de Muruganar











As pessoas que possuem um entendimento claro, sabendo que não ceder ao gosto pelos cinco prazeres dos sentidos é a verdade do jejum e que permanecer incessantemente no Ser é a verdade de upavasam [viver próximo de Deus], vão sempre observar [tanto o jejum como upavasam] com muito amor.



Guruvachaka Kovai, 678
Grinalda das Palavras do Guru, de Muruganar

 


A palavra 'upavasa' tem dois significados: (1) o seu significado literal, "viver próximo" (upa = próximo; vasa = vida), ou seja, viver próximo de Deus ou Ser, e (2) o significado que é geralmente aplicado, "jejum". Neste versículo, no entanto, Sri Bhagavan usa upavasa no seu sentido literal, e para o jejum Ele usa outra palavra, Unna-unatam.




Sadhu Om explica: 
O verdadeiro jejum não é abster-se de alimentar o estômago, mas abster-se de alimentar os cinco sentidos (por não lhes proporcionar os objectos de prazer). Uma vez que a palavra 'upavasa' significa literalmente "viver próximo", a verdadeira upavasa é sempre permanecer no Ser sem nunca o deixar.






Uma vez que controlar a dieta alimentar desenvolve a qualidade sáttvica da mente, vai ajudar a ir muito longe no caminho da Auto-investigação. Portanto, qual é a necessidade de, devido a confusão, perseguir outras observâncias [niyama]? Controlar a dieta alimentar, somente, será suficiente.


Guruvachaka Kovai, 679
Grinalda das Palavras do Guru, de Muruganar

 


Sadhu Om: 
Controlo da dieta alimentar [ahara-niyama].significa comer apenas alimentos sáttvicos em quantidades moderadas.


Sri Muruganar: 
Os aspirantes no caminho da Auto-investigação muitas vezes se preocupam com as muitas outras observâncias [niyamas] que podem ajudar na sua sadhana. Mas o controlo da dieta alimentar, por si só, será suficiente, uma vez que é a mais elevada de todas as observâncias.



Tradução: Blog 'Texto Meditativo'




1 comentário: