Autor: Arvind Lal Arthur Osborne: Bhagavan estava recostado no seu sofá e eu estava sentado na primeira fila diante dele. Ele sentou-se de frente para mim, e os seus olhos estreitaram-se trespassando-me, penetrantes, intimistas, com uma intensidade que eu não posso descrever. Era como se eles dissessem: "Tem-lhe sido dito, por que não percebeu?"
["Pétalas Perfumadas", pág 44]
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O Vidya da Vichara - I
O Hino: Anma Viddai (Atma Vidya, Auto-Conhecimento)
"Um dia, um devoto veio perante Bhagavan e referindo-se aos versos de abertura deste poema - "Oh, muito fácil é o Auto-Conhecimento, Oh, muito fácil mesmo"- perguntou como poderia ser assim, como poderia a Libertação ser fácil. Bhagavan respondeu prontamente: "Como é que eu hei de saber?" Então, apontando para Muruganar disse: "Pergunte-lhe a ele, foi ele que escreveu!"
(Esta história é de TR Kanakammal)
(Excerto de "Parayana - As obras poéticas de Bhagavan Sri Ramana Maharshi",
Sri Ramanasramam, Ed.2008, Pg 120)
Anos antes, em Abril de 1927, Muruganar tinha entregado a Bhagavan estes versos, com o pedido de os desenvolver. A resposta de Bhagavan foi os cinco poemas chamados Anma Viddai ou "Auto Conhecimento". [os versos de Muruganar eram uma reformulação deliberada de um poema popular, Tamil, que diz:
"Oh, muito difícil é o Auto-Conhecimento".
Bhagavan contou a seguinte história sobre o poema (Fonte: "Dia a Dia", 26-2-1946 Manhã):
Muruganar tinha escrito o refrão (pallavi) e o refrão suplementar (anupallavi) e queria as estrofes (charanams). Ele disse que não conseguia completar a canção, pois as palavras não lhe vinham à ideia, e pediu-me para a completar. Em consequência disso, escrevi esta canção. Primeiro escrevi apenas uma estrofe ou Charanam, mas como Muruganar queria pelo menos quatro, então fiz mais três. No fim lembrei-me de que eu não tinha feito qualquer menção a Annamalai* e assim escrevi um quinto Charanam e nele mencionei Annamalai, tal como Ponnambalam é mencionado nos versos da canção da história de Nandanar, que serviu de modelo para o nosso cântico.
Muruganar tinha escrito o refrão (pallavi) e o refrão suplementar (anupallavi) e queria as estrofes (charanams). Ele disse que não conseguia completar a canção, pois as palavras não lhe vinham à ideia, e pediu-me para a completar. Em consequência disso, escrevi esta canção. Primeiro escrevi apenas uma estrofe ou Charanam, mas como Muruganar queria pelo menos quatro, então fiz mais três. No fim lembrei-me de que eu não tinha feito qualquer menção a Annamalai* e assim escrevi um quinto Charanam e nele mencionei Annamalai, tal como Ponnambalam é mencionado nos versos da canção da história de Nandanar, que serviu de modelo para o nosso cântico.
* O Monte sagrado Arunachala é também conhecido pelos nomes Arunagiri,
Annamalai Hill, Arunachalam, Arunai, Sonagiri e Sonachalam.
Annamalai Hill, Arunachalam, Arunai, Sonagiri e Sonachalam.
O Hino
Refrão
Oh, muito fácil é o Auto-Conhecimento,
Oh, muito fácil mesmo.
Refrão suplementar
Mesmo para os mais enfermos, tão real é o Ser
Que, em comparação com ele, o amalaka [o fruto groselha] na mão parece uma mera ilusão.
Oh, muito fácil é Auto-Conhecimento,
Oh, muito fácil mesmo.
Que, em comparação com ele, o amalaka [o fruto groselha] na mão parece uma mera ilusão.
Oh, muito fácil é Auto-Conhecimento,
Oh, muito fácil mesmo.
Texto
1. Verdadeiro, forte, para sempre viçoso se ergue o Ser.
1. Verdadeiro, forte, para sempre viçoso se ergue o Ser.
É dele na verdade que surge o fantasma corpo
e o fantasma mundo. Quando esta ilusão é destruída
E nem uma partícula permanece, o Sol do Ser brilha
resplandecente e real na vastidão do coração expandido.
Trevas morrem, aflições terminam, e a Bem-aventurança brota.
2. O pensamento ‘eu sou o corpo’ é o fio no qual
estão atados muitos pensamentos. Inquirindo interiormente,
pergunte ‘Quem sou eu? e de onde vem este pensamento?’
Todos os outros pensamentos desaparecem. E como ‘Eu-Eu’ na câmara do Coração,
o Ser brilha por si mesmo. Esta Auto-consciência é
o único Céu, esta quietude, esta morada de Bem-aventurança.
o único Céu, esta quietude, esta morada de Bem-aventurança.
3. De que serve conhecer outras coisas que não o Ser?
E sendo o Ser conhecido, que outra coisa há para conhecer?
Aquela luz una que brilha como muitos eu's,
veja este Ser interior como um relâmpago de consciência;
É a graça actuando; o ego morrendo;
É o desabrochar da Bem-aventurança.
4. Para soltar laços de karma, findar nascimentos,
Este caminho é o mais fácil de todos os caminhos.
Permaneça em quietude, sem agitação da língua, da mente ou do corpo.
E contemple o esplendor do Ser interior,
Experiência da eternidade; ausência de todo o medo;
O vasto oceano de Bem-aventurança.
5. Annamalai, o Ser, o olhar por trás do olhar da mente,
O vasto oceano de Bem-aventurança.
5. Annamalai, o Ser, o olhar por trás do olhar da mente,
que vê o olhar e todos os outros sentidos, que conhece o céu e outros elementos,
o Ser que contém, revela, percebe o céu interior que brilha dentro do Coração.
Quando a mente livre de pensamento se volta para dentro,
Annamalai aparece como meu próprio Ser.
A verdadeira graça é necessária; junta-se o amor e a Bem-aventurança brota.
Reflexão preliminar
(Excerto do "Dia a Dia", 26-2-46 Manhã; estas linhas precedem o extrato deste livro mencionado na história acima como consta no livro "Parayana"):
Antes de começar propriamente com a Vichara, desejo abordar a implicação revelada no refrão: 'Oh, muito fácil é o Auto-conhecimento, Oh, muito fácil mesmo', acompanhado pelo refrão suplementar, de que o Eu é mais facilmente evidente do que o proverbial amalaka (o fruto groselha) colocado na palma da mão.
Então o Ensinamento é categórico – de que o Auto-conhecimento é muito fácil de obter? O Próprio Bhagavan claramente evitou a pergunta directa, como contado na história acima, dizendo: "Como é que eu hei de saber? Pergunte a Muruganar ". Mas sabemos que estão registadas várias conversas nos livros de reminiscências, onde Bhagavan falou no sentido de que o Auto-conhecimento é o caminho mais fácil de todos. Talvez uma pista sobre o que realmente quis dizer se adivinhe através do que Bhagavan falou no exemplo do amalaka usado como refrão suplementar no hino:
(Excerto do "Dia a Dia", 26-2-46 Manhã; estas linhas precedem o extrato deste livro mencionado na história acima como consta no livro "Parayana"):
“Em seguida, a conversa derivou para o Ser como sendo auto-evidente (pratyaksha) e Bhagavan então relatou como a canção Atma Vidya foi composta. Ele disse: "Qualquer vidya tem o propósito de conhecer algo. Se é assim tão auto-evidente ao ponto de tornar o exemplo clássico bem conhecido do hastamalakam ou groselha na palma da mão uma falsa analogia, como Muruganar mencionou, que necessidade havia de Atma Vidya, quer você o chame de fácil ou não? O que Muruganar quis dizer foi: 'No exemplo clássico, é necessário uma mão, uma mão que vai sentir e pode sentir um fruto nela, um fruto, um olho que pode ver, uma pessoa que já tenha sabido que fruto é, e assim por diante. Mas para conhecer o Ser, nada excepto o Ser é necessário. "No sono, por exemplo, para nós nada existe excepto nós mesmos, e admitimos que existíamos durante o sono. Ao acordar dizemos "eu dormi” e nenhum de nós acredita que existem dois "eus”, aquele que dormiu e aquele que está agora acordado. No exemplo clássico, todos aqueles factores têm que existir para tornar o fruto auto-evidente. Tudo aquilo depende ou deriva do Ser e torna o fruto auto-evidente. Quanto mais auto-evidente não deve o próprio Ser ser?”
Então Bhagavan está a querer dizer que: Para ver o amalaka são necessárias muitas coisas – o próprio amalaka, a palma da mão, o olho, luz, o processo cognitivo, a mente, etc. (e o Ser também!). Por outro lado, no que diz respeito ao Ser, cada um de nós, instruído ou não, pode facilmente confirmar o sentimento “eu-sou” dentro de nós sem quaisquer factores intermédios. O Ser já é conhecido por todos como a experiência directa da nossa existência, o sentimento interior de “Eu”. E ninguém tem a menor dúvida da sua existência contínua através da vigília, sono com sonhos ou sono profundo. Assim, Atma Vidya, o Auto-conhecimento, já é bem conhecido, e é de facto muito “fácil”; muito mais do que o conhecimento do desafortunado amalaka!
Além disso, tanto quanto para o nosso amalaka, outros caminhos podem precisar também de muitos factores para o Conhecimento despontar, enquanto que para Atma Vidya o Ser precisa apenas do Ser. Assim, o caminho do Auto-Conhecimento é, sem dúvida, o caminho mais directo e mais curto em comparação com todos os outros caminhos. Neste sentido também, Atma Vidya é "fácil" (ainda que possa envolver sadhana “difícil”).
O termo utilizado, portanto, NÃO é no sentido de ser tudo "fácil" por contraposição a "difícil" em termos de prática. Pois, como diz Bhagavan, se fosse fácil, nesse sentido, qual seria a necessidade de qualquer Atma Vidya? Dado que todos nós já conhecemos o Ser como sentimento de "eu sou" dentro de nós, deveríamos ser imediatamente Auto-realizados.
Mas não somos. E se ainda não somos, então, obviamente, o Auto-conhecimento não é assim tão fácil para nós. Ainda existem vasanas, tendências inatas muito fortes em jogo, que turvam as águas, e que precisam ser extintas em primeiro lugar.
Então, "O Auto-conhecimento é muito fácil”? Acredito que a resposta só pode ser essa frase muito útil aplicável a uma série de enigmas espirituais - "Sim e Não". Em última análise, a parte fácil ou difícil depende de nós, depende de quão 'maduros' estamos e do grau de seriedade e sinceridade do esforço que colocamos em jogo.
Finalmente, para além do exposto, creio que Atma Vidya também é referido por Bhagavan como sendo fácil (no refrão e no verso 4 aqui mencionados, e noutras conversas), no sentido de proporcionar uma garantia ao sādhaka de que a meta final é absolutamente alcançável. O caminho pode ser difícil, íncrivelmente difícil mesmo, mas não importa o quão distante o sadhaka começa, Bhagavan garante o sucesso.
Atma Vichara - Inquirição do Eu-superior
do Poema Anma Viddai
Olhemos para este grande hino novamente, removendo o refrão e o refrão suplementar, e também alguns outros versos de acompanhamento - aqueles que não descrevem directamente a prática associada com Atma Vidya. Nas linhas que se seguem, nem uma palavra foi modificada. O resultado é, então, o diamante brilhante que emerge, um modelo para Atma Vichara nas próprias palavras Divinas de Bhagavan:
Anma Viddai
Inquirindo interiormente, pergunte ‘Quem sou eu? e de onde vem este pensamento?’
Todos os outros pensamentos desaparecem. E como ‘Eu-Eu’ dentro da câmara do Coração,
o Ser brilha por si mesmo.
Veja este Ser interior como um relâmpago de consciência;
Permaneça em quietude, sem agitação da língua, da mente ou do corpo.
E contemple o esplendor do Ser interior,
Quando a mente livre de pensamento se volta para dentro,
Annamalai aparece como meu próprio Ser.
A verdadeira graça é necessária; junta-se o amor e a Bem-aventurança brota.
Nota: As Instruções são Sequenciais
Há um aspecto importante das instruções contidas no hino, que se torna evidente apenas quando são apresentadas na forma isolada – é que seguem uma ordem sequencial. Pode observar-se que as instruções acima fluem suavemente dos versos de uma estrofe para os versos da seguinte.
Pensei em destacar este facto em primeiro lugar, por no passado ter citado este versículo 4 para justificar uma prática que evita o trabalho prescrito, nos versículos anteriores, com referência à Vichara. Isoladamente, os versos no versículo 4: "Permaneça em quietude, sem qualquer agitação da língua, da mente ou do corpo, e contemple o esplendor do Ser interior", podem ser tomados como uma prática alternativa dada por Bhagavan, que requer ao sadhaka não fazer nada, mas "simplesmente ser". É apresentado o argumento de que isto, então, iria entrar em sintonia com o grande ensinamento de Bhagavan "Summa Iru" – Manter Silêncio, e é, portanto, considerado como uma prática mais elevada, superior, em comparação com a luta dia a dia em busca da Fonte.
Mas a questão é que, de qualquer modo, se você está lutando com Vichara básico, então você não está "maduro" o suficiente para "permanecer em quietude ... e contemplar o esplendor do Ser". Só se a Vichara se tornou fácil para si, é que você pode então esperar alcançar aquele estado facilmente. Assim, um simples teste para ver se você está pronto para "apenas ser" é: experimente fazer Vichara; é sem esforço? 'Você' encontrou instantaneamente o Ser e permaneceu como Isso? Então, de algum modo, está tudo feito! Se não, então você precisa continuar com a prática de Vichara tal como dada por Bhagavan.
Assim, na minha humilde opinião, a sequência acima é mais ou menos assim:
Faça Vichara ... veja o Ser resplandecer ... permaneça em quietude.
A prática principal mantém-se: "Inquirindo interiormente, pergunte: ‘Quem sou eu, e de onde vem este pensamento?’"
Inquira e Busque.
…………
continua em: Auto Conhecimento - II
Fotos: Blog Texto Meditativo
Recordações do Salão Grande - Sri Ramanashramam
Bhagavan e devotos em 1936 |
O Salão, à hora do chá
com suas paredes recobertas de História
Bhagavan almoçando |
Recordações de Arunachala
Arunachala Shiva |
"knock, knock, knockin’ on heaven’s door..." "toc, toc, tocando à porta do Céu..." Conhece-te a ti mesmo |
Gruta em Arunachala |
O Caminho |
Alma Gentil
ResponderEliminarQue maravilha saborear estes trabalhos ...
Obrigada
Namasté
Né
Querida Né, companheira de caminhada,
EliminarEstou muito grata pelo teu carinho.
Arvind Lal, o autor divinamente inspirado desta trilogia "Auto-Conhecimento" I, II e III, é já um amigo querido.
O trabalho de tradução tem sido maravilhosamente gratificante.
Estou muito feliz.
Namaste