sábado, 29 de março de 2014

Momentos de Silêncio com Sri Ramana - O fardo da terra






O fardo da terra

é suportado por Deus;



O ego que finge suportá-lo também

É como a figura esculpida na torre

Que parece suportar todo o peso.




Fonte: Heart is Thy Name, Oh Lord (Coração é o Teu Nome, Ó Senhor)
          Momentos de Silêncio com
             Sri Ramana Maharshi







segunda-feira, 24 de março de 2014

Conversando com Sri Ramana Maharshi - 'Talk 146'


Alan Jacobs lê Sri Ramana Maharshi - 'Talk 146'

   
   Se há uma meta a ser alcançada 
   ela não pode ser permanente.
   A meta já tem que estar lá

   Buscamos alcançar a meta com o nosso ego
   mas a meta existe antes do ego

   O que está na meta
   é ainda anterior ao nascimento
   ao nascimento do ego

   Porque nós existimos
   o ego parece existir também

   Se olharmos para o Eu superior como ego
   então nos tornamos o ego
   se for como mente, nos tornamos a mente
   se for como corpo, nos tornamos o corpo

   É o pensamento que constrói cenários
   de múltiplas maneiras

   A sombra na água parece movimentar-se
   Consegue alguém parar o movimento da sombra?

   Se a sombra parasse de se mover
   não se notaria a água
   mas apenas a luz

   De modo semelhante não tome conhecimento do ego e suas actividades
   e veja apenas a luz que está por trás.
   O ego é o pensamento-eu
   O verdadeiro 'Eu' é o Ser

   A Realização já está lá
   O estado livre de pensamento
   é o único estado verdadeiro

   Não existe tal acção, de Realização

   Existe alguém que não esteja realizando o Ser?

   Alguém nega a sua própria existência?

   Falar de Realização implica dois 'eu'
   - um para realizar
   - outro para ser realizado

   O que ainda não está realizado
   é objecto de busca para ser realizado

   Uma vez que admitimos a nossa existência
   como é possível não conhecermos o Ser?

   Oh, por causa dos pensamentos - a mente!
   Isso mesmo!

   É a mente que se interpõe e encobre a nossa felicidade

   Como sabemos que existimos?

   Se você disser que é por causa do mundo à nossa volta
   então como sabe que você existia durante o sono profundo?

   Como se livrar da mente?
   É a mente que quer matar a si mesma?
   A mente não pode matar a si mesma!

   Portanto, a sua tarefa é descobrir a verdadeira natureza da mente
   e então você vai perceber que não existe mente

   Quando se busca o Ser
   a mente não está em lugar nenhum

   Permanecendo no Ser
   não é preciso preocupar-se com a mente

   Como se livrar do medo?
   O que é o medo?
   É apenas um pensamento

   Se houver alguma coisa além do Ser
   haverá motivo para recear

   Quem vê o segundo (qualquer coisa exterior)?

   Primeiro, o ego surge e vê objectos como algo externo

   Se o ego não surgir
   apenas o Ser existe
   e não há um segundo (nada exterior)

   Qualquer coisa externa a si
   implica o observador interno

   Buscando-o
   Não surgirá nenhuma dúvida, nenhum medo
   - não só o medo, mas todos os outros pensamentos
   centrados em torno do ego desaparecerão com ele

   Este método parece mais rápido
   que o habitual método de cultivar as qualidades supostamente necessárias para
   se obter a salvação?

   Todas as más qualidades estão centradas em torno do ego

   Quando o ego desaparece
   a Realização surge por si só

   Não há boas nem más qualidade no Ser
   O Ser é livre de todas as qualidades

   Qualidades pertencem à mente apenas

   O Ser está além da qualidade

   Se houver uma unidade
   haverá também dualidade

   O número um dá origem aos outros números

   A verdade não está no um nem no dois
   É o QUE É!

   a dificuldade é estar no estado livre de pensamentos.

   A Realidade é simplesmente a perda do ego

   Destrua o ego buscando a identidade do ego

   Porque o ego não é uma entidade
   ele automaticamente desaparecerá e a Realidade brilhará por si só

   Este é o método directo
   Enquanto todos os outros métodos são praticados
   apenas retendo o ego

   Nesses caminhos surgem tantas dúvidas
   e a eterna questão final continua sem ser abordada
   Mas neste método a pergunta final é a única
   e é levantada logo desde início.

   Não são necessáriasadhanas para se empenhar nesta busca.


       "Conversa º 146" - 26 de Janeiro de 1936
       Talks with Sri Ramana Maharshi



        "Você já viu Deus?",  perguntei.  "E se já viu,  pode permitir-me que eu O veja?  Estou disposto a pagar qualquer preço,  mesmo a minha vida,  mas  a sua parte do negócio é que deve mostrar-me Deus''.
       ''Não," respondeu ele (Ramana Maharshi). "Não posso mostrar-lhe Deus ou permitir que você veja Deus, porque Deus não é um objecto que pode ser visto. Deus é o sujeito. Deus é Aquele Que vê. Não se preocupe com os objectos que podem ser vistos. Descubra quem é que vê." Ele também acrescentou, "Você é o único Deus", como se me repreendesse por procurar um Deus que está fora e para além de mim. Ao concluir as suas palavras, ele olhou para mim, e quando fixou os seus olhos nos meus, o meu corpo inteiro começou a tremer e a abanar. Uma emoção de energia nervosa disparou por todo o meu corpo. Os meus nervos pareciam dançar e o meu cabelo ficou em pé. Dentro de mim, tomei consciência do Coração espiritual. Não o coração físico, mas sim a fonte e o suporte de tudo o que existe. Dentro do Coração eu vi ou senti algo como um botão fechado. Era muito brilhante e azulado. Com o Maharshi a olhar para mim, e eu num estado de silêncio interior, senti este botão a abrir e a florir. Uso a palavra "botão", mas esta não é uma descrição exacta. Seria mais correcto dizer que algo, como um botão, se abriu e floresceu dentro de mim, no Coração. E quando eu digo "Coração", não quero dizer que este florescer estivesse localizado num local particular no corpo. Este Coração, este Coração do meu Coração, não estava nem dentro nem fora do meu corpo. Não consigo dar uma descrição mais exacta do que aconteceu.


         Encontro de Papaji com Ramana Maharshi
       Excerto da biografia de H.W.L. Poonja aka Papaji,





A  pedra angular do ensinamento de Ramana Maharshi é a sua Auto-Inquirição ou Atma Vichara – o seu infalível e directo caminho para a auto-realização, juntamente com a total entrega devocional a Deus, ao Ser, ao Guru. 


De um modo geral, Sri Bhagavan diz-nos que o Eu imortal, ou Sat-Chit-Ananda ou Pura Existência-Consciência-Bem Aventurança já está lá, é inerente a cada um de nós. A dificuldade é que não reconhecemos "Isso", a nossa "Verdadeira Natureza" ou "Eu-dade" essencial, porque está velado e obscurecido por muitas tendências latentes e hábitos da mente egóica que funciona como um espelho e projecta um sonho do mundo, do corpo e da mente. A nossa identificação com a mente e o corpo é a principal razão para a nossa incapacidade de conhecer a nós mesmos como realmente somos.


Através da auto-inquirição persistente, devoção e entrega da mente egóica a Deus ou ao Sat-Guru no Coração espiritual, este obscurecimento e identificação é gradualmente e graciosamente removido até que o Ser imortal é realizado. Esse é o poder da consciência absoluta e é conhecido. O mundo é visto como real, porque o substrato é percebido como sendo Brahman.




      Em Janeiro de 1938 Somerset Maugham, o romancista britânico, visitou Sri Ramanashram por algumas horas. O breve contacto que teve com Bhagavan ins-pirou Maugham de tal modo,  que este decidiu tomá-lo como modelo para  um Guru ficcional em O Fio da Navalha, um romance seu que foi publicado poucos anos depois, em 1944. Maugham escreveu também uma narrativa não ficcional da sua visita num ensaio intitulado "O Santo",  que foi publicado 20 anos após o encontro, em 1958. O relato a seguir, que foi extraído deste ensaio, regista as impressões de Maugham sobre este encontro com Bhagavan.


     "Ele proferiu algumas palavras de saudação cordial e sentou-se no chão, não muito longe do estrado em que eu estava deitado. Após os primeiros minutos, durante os quais os seus olhos, com uma suave benignidade, repousaram sobre o meu rosto, ele deixou de olhar para mim, mas, com um olhar de soslaio de fixidez peculiar, observou, por assim dizer, por cima do meu ombro. O seu corpo estava absolutamente imóvel, mas de vez em quando um dos seus pés batia ao de leve no chão de terra. Ele permaneceu assim, imóvel, durante cerca quinze minutos; disseram-me mais tarde que ele estava a concentrar-se em meditação sobre mim. Então ele regressou, se assim se pode dizer, e novamente olhou para mim. Perguntou-me se eu queria dizer -lhe alguma coisa, ou fazer alguma pergunta. Eu sentia-me fraco e doente e disse-o; ao que ele sorriu e disse: "O silêncio é também conversação". Ele virou a cabeça um pouco e retomou a sua meditação concentrada, olhando novamente, por assim dizer, por cima do meu ombro. Ninguém disse uma palavra; as outras pessoas na cabana, de pé junto à porta, mantinham os seus olhos fixos nele. Depois de outros quinze minutos, levantou-se, curvado, sorriu em despedida, e, lentamente, apoiado na sua bengala, saiu da cabana coxeando, seguido pelos seus discípulos."


         Excerto de "O Fio da Navalha" de Somerset Maugham
  





      Não há mistério maior do que este: Nós mesmos, sendo a realidade, procuramos alcançar a realidade. Pensamos que há algo que esconde a nossa realidade, e que deve ser destruído antes de a realidade ser alcançada. É ridículo! Haverá um dia em que você mesmo vai rir dos seus esforços passados. Aquilo que será no dia em que você rir, também é aqui e agora. Portanto, este é um grande jogo de fingimento? Sim! No Yoga Vasishta diz-se que o real está escondido de nós e o que é falso é revelado como verdadeiro. Estamos na verdade apenas experienciando a realidade. Ainda assim, não sabemos isso. Esta não é a maravilha das maravilhas? A investigação "Quem sou eu?" é o machado que corta o ego. 


        Sri Ramana Maharshi