terça-feira, 16 de setembro de 2014

Siddhas





  


Não desejar nada estranho a si mesmo constitui vairagya (desapego) ou nirasa (ausência de desejo).

 Não desistir de segurar o Ser constitui jnana (conhecimento).

Mas na verdade vairagya e jnana são uma e a mesma coisa.



  


LETTERS from Sri Ramanashramam


De Suri Nagama


Carta 56
10 de Agosto de 1946


      Hoje houve uma conversa acerca de siddhas* na presença de Bhagavan . Entre outras coisas, foi dito que alguém tinha tentado atingir siddhi e tinha conseguido. Depois de ter ouvido todos pacientemente durante muito tempo, Bhagavan disse em tom aborrecido, "Vocês falam de siddhas. Vocês dizem que eles atingem algo de algum lugar. Com esse propósito eles fazem sadhana**e tapas**. Na verdade, para nós, que somos realmente sem forma, não será um siddhi ou uma proeza ter adquirido um corpo com olhos, pernas, mãos, nariz, orelhas, boca e fazer tantas coisas com esse corpo? Nós somos siddhas. Nós arranjamos alimento, se queremos alimento; água, se queremos água; leite, se queremos leite. Não é isto tudo siddhis? Se estamos sempre a experienciar  tantos siddhis a cada instante, porque é que clamam por mais siddhis? O que mais é necessário?"


      Há cerca de dois anos, Manu Subedar, um membro da Assembleia Legislativa Indiana, e tradutor do comentário de Jnaneswara sobre a Bhagavad Gita, veio cá para receber darshan**de Bhagavan, e perguntou a Bhagavan durante uma conversa porque é que havia textos sobre siddha purushas** em todos os livros mas nenhuns sobre sadhakas**, e se havia alguns livros sobre sadhakas. Bhagavan disse: 


"Em Bhakta Vijayam, em Tamil, há uma conversa entre Jnaneswara e Vithoba, seu pai. Trata-se de um diálogo entre um siddha e um sadhaka. Pode ser observado nessa conversa o estado de sadhaka." 


Gnaneswar


Ao dizer isto, Bhagavan mandou buscar uma cópia de Bhakta Vijayam da biblioteca do Ashram, ele próprio leu essa parte e explicou-a em detalhe. Depois de chegar a casa, Manu Subedar solicitou uma cópia do diálogo. Bhagavan pediu para o traduzirem em Inglês e enviou-lhe uma cópia. Mannu Subedar juntou-o como suplemento à terceira edição do seu Jnaneswari. Recentemente traduzi esse diálogo para Telegu. Lembra-se que quando você veio cá no último dia de lua-cheia, durante uma conversa, Bhagavan disse que Jnaneswara era um siddha enquanto que Vithoba era um sadhaka. Portanto, ficou a chamar-se "Siddha-Sadhaka Samvadam" (Diálogo entre um siddha e um sadhaka.)


Bhagavan diz muitas vezes:


"Conhecer-se a si mesmo e poder manter-se fiel a si mesmo, é siddhi, e nada mais. Se a mente está absorvida na investigação do ser, a verdade será compreendida em qualquer momento. Esse é o melhor siddhi."


Transcrevo de seguida um extracto dos escritos em prosa de Bhagavan sobre estes siddhis, no seu "Unnathi Nalupadhi"* que confirma isso:


Siddhi é conhecer e perceber aquilo que é sempre real. Outros siddhis são meros sonhos de siddhis. Será que eles continuam verdadeiros quando acordamos depois de dormir? Aqueles que se aliaram à verdade e se libertaram de maya*, será que se deixarão iludir por eles? Por favor compreenda.
                                                                    A Realidade em Quarenta Versos, verso 35








*
Siddhas: Pessoas semi-divinas, que é suposto serem de grande pureza e santidade, e se diz serem particularmente caracterizadas por oito faculdades sobrenaturais chamadas siddhis.

Unnathi Nalupadhi: "Os Quarenta Versos" sobre a Realidade ou Existência, originariamente compostos por Bhagavan em Tamil sob o título "Ulladu Narpadu", tem um nome diferente nas versões em outras línguas: "Unnathi Nalupadhi", "Sad Vidya", "Saddarshanam", "Truth Revealed", etc.




**
Sadhana: Prática espiritual.

Tapas: Auto-esforço, disciplina, austeridade, perseverança. Nasce da motivação e do foco no objectivo primordial, que é a possibilidade de conhecer a si mesmo como alguém livre de quaisquer limitações e, portanto, pleno e feliz.

Darshan: Benção na forma de "visão" ou "presença divina".

Siddha Purusha: Alma realizada

Sadhaka: Aspirante espiritual. Praticante de sadhana,  prática espiritual.

Maya: Ilusão. Seu significado é complexo porque envolve ele mesmo uma dualidade, pois Maya não pode ser real se consideramos o Absoluto (Parabrahman) como a única realidade, mas não pode ser irreal pois é a base de todo o universo objectivo. A realidade última, assim, envolve a compreensão da natureza de Maya sem sua negação, mas distinguindo-a do Absoluto.





Tradução em Português de "Jnaneswar Teaches His Father Vithoba":

                                              Link: Jnaneswar Ensina Seu Pai Vithoba

Tradução: Blog Texto Meditativo





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