terça-feira, 16 de setembro de 2014

Jnaneswar Ensina Seu Pai Vithoba




  

Fonte:

Jnaneswar Teaches His Father Vithoba

Tradução: Blog Texto Meditativo


  
O seguinte é o relato em primeira pessoa da visita de Manu Subedar ao Sri Ramanashramam. Inclui o texto de um diálogo entre Jnaneswar e o seu pai, que Bhagavan graciosamente leu em benefício de Manu Subedar e de todos os sadhakas. Bhagavan recomendou muito o estudo deste diálogo aos seus devotos.
Em 2001, por ocasião do 121º Jayanti (aniversário) de Bhagavan Ramana, o Sri Ramanashramam publicou este texto numa edição de bolso.

     Durante mais de três anos resisti ao convite do meu amigo, o Sr. Shankerlal Banker, para ir ao Ramanashramam. Desculpei-me dizendo-lhe que não estava pronto, que "Se eu entrasse numa grande loja, teria vergonha de sair de mãos vazias." Finalmente, decidi fazer a visita e preparei-me durante cerca de dois meses antes, lendo nada mais a não ser esses dois notáveis livros, viz., o Ashtavakra Gita e o Avadhuta Gita. Depois de terminar um trabalho que tinha em Cochim, parti para Tiruvannamalai. Decidi que deveria colocar umas quantas perguntas a fim de resolver algumas das minhas dúvidas, e então enquadrei as questões.

Eu ia sozinho numa carruagem do combóio de Katpadi, e quis repassar as minhas perguntas e revisá-las se necessário. À medida que reformulava cada pergunta, descobri que sabia a resposta! Então, quando cheguei e recebi o darshan do Maharshi, já não tinha perguntas para fazer. Permiti-me observar e absorver a elevada atmosfera do Ashram.

Apresentei ao Maharshi um comentário sobre a Gita, um grande clássico em língua Marati, do sábio Jnaneswar, que eu tinha traduzido para Inglês após oito anos de esforço. Ele ficou muito agradado com o livro. Eu tinha comigo cópias extra do Avadhuta Gita e do Ashtavakra Gita publicados pelo Sastu Sahitya Mudranalaya Trust de Ahmedabad, do qual sou presidente. Também os apresentei ao Maharshi. Mencionei que andava a ler estes livros, e chamei a sua atenção para o primeiro versículo do Avadhuta Gita, que é o seguinte:

"É somente através da graça de Deus que, em homens com conhecimento, nasce o desejo de experienciar a unidade cósmica (Advaita), um desejo que os protege dos grandes perigos do samsara."

Salientei ainda que grande parte da matéria destes livros se destinava aos siddha avançados, i.e., aos adeptos. Para os novos candidatos, que estavam a tentar aprender, não havia muita orientação directa.

O Maharshi olhou para mim com infinita compaixão nos seus olhos, e instruiu um dos seus devotos para trazer um livro. O livro era o Maha Bhakta Vijayam de Nabhaji. Bhagavan abriu o livro e começou a ler. (Observei com espanto que o livro abriu exactamente na página onde ele pretendia ler.)

Este é um diálogo entre Jnaneswar Maharaj e seu pai, em que o jovem filho, que alcançou o Conhecimento, está argumentando com seu pai, que ainda está com medo, ainda buscando, e ainda tacteando. O pai tinha ido para a floresta para praticar ascetismo.

Muito impressionado com o brilho de Jnaneswar e seus irmãos, o rei desejou conhecer Vithoba, o pai deles. E assim enviou os seus próprios mensageiros para trazerem Vithoba ao reino, mas este recusou-se a vir. Então as crianças foram visitar o seu pai, e Jananeswar Maharaj, sentando-se no colo do pai, prendeu-o num diálogo ao fim do qual convenceu o seu pai a voltar com ele para a cidade.

O Maharshi parecia gostar de ler o diálogo. Aqueles que estavam presentes desfrutaram da leitura e eu descobri que me foi dado exactamente o que eu precisava. Estou eternamente grato ao Sábio pelo que ele me ensinou. O melhor professor é aquele que o leva de onde você está para o próximo estágio. Não é a totalidade do conhecimento do professor que o aluno deve considerar, mas a adequação do que é transmitido no momento adequado.
   


Diálogo entre Jnaneswar e Seu Pai



Com respeito e carinho infantil, Jnaneswar subiu para o colo do pai e pediu-lhe para voltar para a capital e ir encontrar-se com o rei. Seguiu-se o seguinte diálogo: 

Pai: Será um gosto de novo o que foi vomitado uma vez, mesmo que seja um delicioso prato?  Não devem os justos sempre manter a sua palavra? Tendo-me retirado do mundo, posso voltar para lá, misturar-me com a multidão sem discernimento e amá-los ou amar o rei? A floresta sempre será a minha morada, e o mundo, a sua. Então, volte para trás e viva feliz no mundo.

Jnaneswar: Porque é que vive na floresta?

Pai: Meu filho, que prazer ou proveito está lá para eu obter doravante por regressar ao mundo? Voltando lá, longe de ser uma ajuda, só vai ser um obstáculo para a salvação. Esta floresta, livre da sociedade de todas as pessoas, apenas ela é adequada para mouna Nishta (fé em silêncio), e por isso eu vivo nestas encostas. 

Jnaneswar: A Brahmanishta (devoção ao Ser) que está a fazer, enquanto ainda cheio de tais distinções como cidade e floresta, é como uma tentativa de apagar a visão dos céus cobrindo-a com uma tela em vez de fechar os olhos; como um passarinho que pensa suportar o impacto de um trovão com as suas minúsculas patinhas; como alguém tentando adquirir virtude enquanto se envolve em actos de vício; como um homem de coração endurecido ansiando pela visão de Deus, e como alguém que atinge jnana nishta (fé firme com conhecimento) sem se livrar do sentido do ego. Nesse nishta, que transcende todas as distinções, pode haver alguma ideia de dualidade?

Pai: Enquanto a noção de "meu" persistir, o sentido do ego e a percepção da dualidade como "isto e aquilo" não vão desaparecer. É nirvikalpa Nishta (devoção única) que afasta todas as noções de dualidade. Tal Nishta só pode ser obtido pela extinção de todos os sankalpas ou desejos e pelo afastamento de toda a sociedade. Então, eu estou aqui porque a solidão é o lugar apropriado para mouna Nishta.

Jnaneswar: Conhecer o próprio Ser e ser o Ser, apenas isso é Brahmanishta, e não viver em florestas.

Pai: Mesmo que alguém possa conhecer o Ser na presença do seu Guru, não é necessário estar em solidão para se manter fixo no Ser?

Jnaneswar: Os verdadeiros Jnanis perceberam que ajnana (erro) não será destruído, nem o sentido de 'eu' e 'meu' será eliminado por viverem sozinhos na floresta e a fazer penitência, e, portanto, praticaram nirvikalpa samadhi (estado avançado de meditação no qual não existe a consciência do mundo), com uma mente firme, ignorando todas as distinções tais como a cidade e a floresta, a vida doméstica e o ascetismo. Se assim é, porque deveria você opor-se à vida em casa e viver na floresta?

Pai: Se aqueles que viram sakshi (a testemunha) e se tornaram um com o Ser, que é a testemunha de tudo, permanecerem na vida familiar, isso irá dificultar a sua prática de samadhi, e vão perder a sua experiência de realização do Ser. Portanto, aqueles que atingiram a bem-aventurança do estado sahaja (espontâneo), não vão alimentar, nem mesmo em sonho, o desejo de se envolver na vida familiar.

JnaneswarSahaja nishta (realização espontânea) consiste em ser livre, tanto de desejos como de aversões. Será que odiar a cidade e amar a floresta pode ser tal Nishta?

PaiComo pode alguém continuar com as coisas do mundo, se não tem desejos de as fazer nem de não as fazer? E qual a utilidade de viver no mundo, se não está em condições de se envolver nos assuntos do mundo? Não se deve permanecer num lugar onde se poderia ser uma presa de muitas dificuldades decorrentes da vontade de atender ao conforto do corpo. Tal cuidado pode ser comparado a celebrar o casamento de um cadáver.

Jnaneswar: Se alguém que tenha desistido de todos os desejos de se envolver em qualquer actividade, se ocupa na prática de samadhi, essa prática não é também uma actividade? E por que não deveria aquele que tem esta ocupação ter também a actividade da família?

PaiMesmo que samadhi seja uma actividade, irá remover todos os pensamentos e ansiedades. Por outro lado, os assuntos domésticos irão criar todo o tipo de pensamentos e preocupações e causar sofrimento.

Jnaneswar: Quando se é o próprio Sat-Chit-Ananda (existência-consciência-beatitude) (três atributos do Ser), porque deveria alguém envolver-se em sadhana Nishta (prática com fé)?

Pai: Os sábios não dizem que Brahmanishta (devoção ao Ser) consiste em realizar o estado de sono durante a vigília? Se não o realizamos assim, pode a bem-aventurança irresistível fluir de samadhi?

Jnaneswar: Embora os Vedas afirmem que a felicidade consiste em assistir como um espectador às actividades da mente durante o sonho, e ao estado sem nada ou em branco durante sono, e que o estado descrito como sono durante a vigília consiste em se ser como a sombra de um papagaio (que embora tocando em qualquer coisa não está ligada a ela), você consegue perceber que estar num estado em branco como durante o sono é verdadeira bem-aventurança, e que esse é o estado chamado de sono durante a vigília?

Pai: Os estados de vigília e de sonho fazem uma pessoa mergulhar nos assuntos do mundo e tornam-na presa das feras selvagens dos órgãos dos sentidos. Por isso, só aquele samadhi, onde cessam todos os assuntos do mundo e onde há vazio total como durante o sono, é o verdadeiro samadhi.

Jnaneswar: O melhor samadhi não é meramente permanecer num vazio, mas sim, como no contra-ataque simples de esgrima, envolver-se nos assuntos do mundo, e, ao observar os objectos dos sentidos, ser-lhes indiferente, esgrimindo a espada firme e constante do jnana (estado de realização da Unidade), tal como Janaka. (*)

Pai: Só Shuka, que se livrou de todos os apegos, teve de ser capaz de vencer a mente agitada que tinha acumulado dentro de si muitas vasanas (desejos profundamente enraizados) durante incontáveis gerações, e não Janaka, que, mesmo sem estar no estado semelhante ao sono, possuía o jnana constante de que ele era Brahman.

Jnaneswar: Apenas Janaka garantiu a aniquilação da mente e era capaz de fazer o que quisesse com a sua mente, e não Shuka, que desistiu de todos os apegos externos e se devotou inteiramente à vida nas florestas.

Pai: Só sendo inerente ao Vidente alguém pode livrar-se do visto. Como pode alguém livrar-se do visto estando no visto? Se para curar um homem de veneno, lhe for administrado veneno, não será a morte o resultado?

Jnaneswar: À medida que administrar um veneno como antídoto contra outro veneno, é sábio aquele que estabelece jnana imperturbável contra os perigos dos órgãos dos sentidos, tanto externos como internos, e não aquele que está sempre em Nishta cheio de medo de que a qualquer momento as feras dos objectos dos sentidos o venham atacar. Este último só conhecerá o seu medo e nunca o êxtase supremo de Brahman.

Pai: O que não fariam os objectos dos sentidos a alguém na vida familiar, quando eles são capazes de submeter ao sofrimento mesmo aqueles que se tornaram ascetas e estão absorvidos em Nishta samadhi? Pode uma folha seca que caiu num rio turbulento manter-se imóvel num só lugar?

Jnaneswar: Os órgãos dos sentidos derrubarão alguém que não atingiu firme jnana, e lhe causarão dor, por muito tempo que ele possa permanecer introvertido. Como uma grande rocha que caiu num rio e ali permanece sem se mover, deve permanecer impassível, por mais numerosas que sejam as actividades dos sentidos que surjam, e qualquer que seja a dor insuportável que causem. É só alguém assim que pode experienciar a bem-aventurança de Brahman. A ignorância daquele que não está firmemente estabelecido em jnana nunca desaparecerá.

Pai: Por muito firme que alguém possa estar estabelecido em jnana, ele tem a certeza de ser engolido na escuridão de maya (ilusão mundana), a menos que esteja sempre absorto em meditação de Brahman, desistindo de toda a sociedade.

Jnaneswar: Só se existisse tal coisa como maya separada de Brahman, a pessoa teria que se livrar dela permanecendo sempre em Nishta. Como se dissesse "a minha sombra lutará comigo", você apontou para uma avidya inexistente e um ego e declarou que devemos estar sempre em Nishta. Assim como o único resultado de lutar com uma sombra irreal é a exaustão, você terá apenas problemas intermináveis se não ficar em mouna (silêncio), percebendo a irrealidade de maya, mas continuando a eliminar, dizendo: 'Isto não, isto não'.

Pai: Como é que se há-de alcançar sahaja jnana (conhecimento espontâneo) sem eliminar o irreal, tornando-se uni-direccionado em mente, e permanecendo uma mera sakshi (testemunha), indiferente a tudo o que ocorre?

Jnaneswar: Quanto mais eliminamos as coisas irreais como 'isto não, isto não', mais objectos dos sentidos vão continuar a aparecer, como formigas brancas aladas enxameando para fora de um formigueiro. Quanto mais tentamos tornar a mente uni-direccionada, mais a mente ficará perturbada como uma bola reprimida saltando. Quanto mais você permanecer como sakshi, mais se afirmará a ilusão de que "eu sou um corpo", etc., como a cauda encaracolada de um cão retoma a sua forma curva, por mais que tentemos mantê-la direita. Por isso, é a suprema felicidade de Brahman perceber, através de jnana (conhecimento) pela inquirição, que cada um de nós é o próprio Brahman, e que avidya, aliás o ego, e maya, aliás irrealidade, são inteiramente ilusórios como a aparência de prata na madrepérola.

Pai: É possível subjugar os objectos dos sentidos que causam dor, e tornarmo-nos um com o Ser abençoado que tudo permeia, não praticando qualquer outra sadhana (disciplina espiritual), mas simplesmente perceber, como resultado de jnana vichara que somos o próprio Brahman?

Jnaneswar: Se nem uma vaca viva pode matar um tigre, pode uma vaca morta fazê-lo? De forma semelhante, o que podem os objectos dos sentidos fazer ao Ser, que é eterno, livre de todos os defeitos, que se estende por toda a parte e é da natureza da felicidade? Como até mesmo uma vaca gorda terá medo de enfrentar um tigre, os objectos dos sentidos não se atreverão a vir diante de um jnani, que através de constante jnana atingiu a perfeição. Mas mesmo se o fizerem, eles serão extintos, como a vaca pelo tigre.

Pai: E se o jnani (aquele que conhece), ao misturar-se com os ajnanis (ignorantes), ficar enleado nos objectos dos sentidos, originando assim distúrbios da mente, e vier a ser completamente atingido pelo sofrimento, como uma mulher casta que se torna impura ao misturar-se com prostitutas?

Jnaneswar: A mulher casta inabalável vai manter a sua castidade apesar da companhia de qualquer quantidade de prostitutas. Aquela que é instável encontrará ocasião para errar, mesmo sem estar em má companhia. Da mesma forma, o jnani firme nunca perderá a sua perfeita realização embora rodeado de qualquer número de ajnanis (aqueles que erram). Aquele que é instável perderá o seu jnana, mesmo quando em solidão.

Pai: Como é que alguém se pode tornar um jnani sahaja (aquele que realizou o conhecimento espontâneamente), se estiver envolvido nos assuntos domésticos?
Jnaneswar: Embora o jnani (sábio) se misture com os ajnanis, e participe com eles em muitos assuntos, ele sempre continuará a experienciar a suprema bem-aventurança, assim como um brâmane que, embora desempenhando no palco o papel de um limpador, e comportando-se como tal, permanece sempre apenas um brâmane, sem se tornar um limpador.

Pai: Por muito firme que possa ser o jnana ou discernimento espiritual de um homem, a não ser que ele contemple, pelo menos durante algum tempo, todos os dias, que ele mesmo é Brahman, é muito difícil para ele tornar-se um jnani Brahma (sábio que realizou o Ser Absoluto).

Jnaneswar: É necessário que o Brâmane, que está fazendo o papel de limpador, pense frequentemente que é um brâmane? Será que ele se tornará um limpador se não pensar assim? São necessários os fios sagrados para distinguir aquele que o mundo inteiro sabe que é um brâmane? Após a aniquilação do ego, "eu", deve manter-se ainda o nó da consciência egóica e continuar a meditar "eu sou Brahman"? Como o brâmane conhecido pelo mundo é por todos adorado como um brâmane, mesmo quando não usa fios sagrados, aquele que renunciou às noções de "eu" e "meu" será sempre respeitado por todos e sempre desfrutará da felicidade suprema do Ser, mesmo que não pratique qualquer meditação.

Pai: Mesmo que alguém seja igual a Jagadish (O Todo Poderoso), se não praticar diariamente a meditação "Eu sou Brahman", tornar-se-à sem dúvida um ajnani. O sentido do ego, que o faz identificar-se com o corpo, etc., nunca desaparecerá.

Jnaneswar: Se alguém detém a luz em suas mãos e pede à escuridão para permanecer, ela permanecerá? Da mesma forma, se alguém, depois de vencer a ignorância de que é o corpo ou os seus órgãos internos, depois de ter atingido o conhecimento de que é o próprio Supremo, irá ajnana permanecer mesmo que lhe seja ordenado que permaneça? Se alguém tem o gato na mão e pede ao papagaio para falar, ele falará? Depois de perceber que eu, Iswara e o mundo, etc. são todos irreais, maya virá, mesmo que seja convidada? O eunuco vai ficar com vergonha de se declarar um homem diante de uma mulher que conhece a sua impotência. Da mesma forma, aquele que reconheceu sem sombra de dúvida, na presença do seu Guru, que somente Brahman é real, enquanto maya é irreal, que Brahman é transcendente a todos os pensamentos, enquanto maya consiste em desejos e aversões, e que ele é Brahman e Brahman é o seu Ser, onde está o desejo ou aversão, servidão ou liberdade, nascimento ou morte, país ou floresta, caridade, penitência, renúncia ou vida familiar? Poderá o poder de maya actuar contra aquele que está no mundo, ainda que só um pouco, como o olho de uma ovelha morta (que parece como se pudesse ver, mas não pode)? Poderá transformá-lo novamente em ajnana? Por favor considere profundamente. 

Então, Vithoba concordou em sair da floresta e voltar para casa.



  

Ajnana: Erro, Ignorância
Avidya: Ignorância
Darshan: Benção conferida pela mera "visão" de um santo
Jnana: Conhecimento
Jnani: Sábio: conhecedor de Brahman
jnani sahaja: Sábio no estado natural de absorção no Eu superior, sem conceitos
Jnana-vichara: Investigação quanto ao conhecimento. 
                      Investigação do Eu-superior "Quem sou eu?"
Maya: Ilusão
Mouna: Silêncio
Nirvikalpa Samadhi: Estado avançado de meditação no qual não existe consciência
            do mundo
Nishta: Fé
Samadhi: Estado avançado de meditação; absorção no eu superior
Samsara: Servidão de vida, morte e renascimento
Sankalpas: Fantasias
Vichara: Inquirição




Siddhas





  


Não desejar nada estranho a si mesmo constitui vairagya (desapego) ou nirasa (ausência de desejo).

 Não desistir de segurar o Ser constitui jnana (conhecimento).

Mas na verdade vairagya e jnana são uma e a mesma coisa.



  


LETTERS from Sri Ramanashramam


De Suri Nagama


Carta 56
10 de Agosto de 1946


      Hoje houve uma conversa acerca de siddhas* na presença de Bhagavan . Entre outras coisas, foi dito que alguém tinha tentado atingir siddhi e tinha conseguido. Depois de ter ouvido todos pacientemente durante muito tempo, Bhagavan disse em tom aborrecido, "Vocês falam de siddhas. Vocês dizem que eles atingem algo de algum lugar. Com esse propósito eles fazem sadhana**e tapas**. Na verdade, para nós, que somos realmente sem forma, não será um siddhi ou uma proeza ter adquirido um corpo com olhos, pernas, mãos, nariz, orelhas, boca e fazer tantas coisas com esse corpo? Nós somos siddhas. Nós arranjamos alimento, se queremos alimento; água, se queremos água; leite, se queremos leite. Não é isto tudo siddhis? Se estamos sempre a experienciar  tantos siddhis a cada instante, porque é que clamam por mais siddhis? O que mais é necessário?"


      Há cerca de dois anos, Manu Subedar, um membro da Assembleia Legislativa Indiana, e tradutor do comentário de Jnaneswara sobre a Bhagavad Gita, veio cá para receber darshan**de Bhagavan, e perguntou a Bhagavan durante uma conversa porque é que havia textos sobre siddha purushas** em todos os livros mas nenhuns sobre sadhakas**, e se havia alguns livros sobre sadhakas. Bhagavan disse: 


"Em Bhakta Vijayam, em Tamil, há uma conversa entre Jnaneswara e Vithoba, seu pai. Trata-se de um diálogo entre um siddha e um sadhaka. Pode ser observado nessa conversa o estado de sadhaka." 


Gnaneswar


Ao dizer isto, Bhagavan mandou buscar uma cópia de Bhakta Vijayam da biblioteca do Ashram, ele próprio leu essa parte e explicou-a em detalhe. Depois de chegar a casa, Manu Subedar solicitou uma cópia do diálogo. Bhagavan pediu para o traduzirem em Inglês e enviou-lhe uma cópia. Mannu Subedar juntou-o como suplemento à terceira edição do seu Jnaneswari. Recentemente traduzi esse diálogo para Telegu. Lembra-se que quando você veio cá no último dia de lua-cheia, durante uma conversa, Bhagavan disse que Jnaneswara era um siddha enquanto que Vithoba era um sadhaka. Portanto, ficou a chamar-se "Siddha-Sadhaka Samvadam" (Diálogo entre um siddha e um sadhaka.)


Bhagavan diz muitas vezes:


"Conhecer-se a si mesmo e poder manter-se fiel a si mesmo, é siddhi, e nada mais. Se a mente está absorvida na investigação do ser, a verdade será compreendida em qualquer momento. Esse é o melhor siddhi."


Transcrevo de seguida um extracto dos escritos em prosa de Bhagavan sobre estes siddhis, no seu "Unnathi Nalupadhi"* que confirma isso:


Siddhi é conhecer e perceber aquilo que é sempre real. Outros siddhis são meros sonhos de siddhis. Será que eles continuam verdadeiros quando acordamos depois de dormir? Aqueles que se aliaram à verdade e se libertaram de maya*, será que se deixarão iludir por eles? Por favor compreenda.
                                                                    A Realidade em Quarenta Versos, verso 35








*
Siddhas: Pessoas semi-divinas, que é suposto serem de grande pureza e santidade, e se diz serem particularmente caracterizadas por oito faculdades sobrenaturais chamadas siddhis.

Unnathi Nalupadhi: "Os Quarenta Versos" sobre a Realidade ou Existência, originariamente compostos por Bhagavan em Tamil sob o título "Ulladu Narpadu", tem um nome diferente nas versões em outras línguas: "Unnathi Nalupadhi", "Sad Vidya", "Saddarshanam", "Truth Revealed", etc.




**
Sadhana: Prática espiritual.

Tapas: Auto-esforço, disciplina, austeridade, perseverança. Nasce da motivação e do foco no objectivo primordial, que é a possibilidade de conhecer a si mesmo como alguém livre de quaisquer limitações e, portanto, pleno e feliz.

Darshan: Benção na forma de "visão" ou "presença divina".

Siddha Purusha: Alma realizada

Sadhaka: Aspirante espiritual. Praticante de sadhana,  prática espiritual.

Maya: Ilusão. Seu significado é complexo porque envolve ele mesmo uma dualidade, pois Maya não pode ser real se consideramos o Absoluto (Parabrahman) como a única realidade, mas não pode ser irreal pois é a base de todo o universo objectivo. A realidade última, assim, envolve a compreensão da natureza de Maya sem sua negação, mas distinguindo-a do Absoluto.





Tradução em Português de "Jnaneswar Teaches His Father Vithoba":

                                              Link: Jnaneswar Ensina Seu Pai Vithoba

Tradução: Blog Texto Meditativo