quarta-feira, 23 de abril de 2014

Dia a Dia com Bhagavan - Deus Guru e o Ser





Extracto de:
Do diário de A. Devaraja Mudaliar
Day by Day with Bhagavan
Dia a Dia com Bhagavan


30 de Outubro de 1945 - À tarde



      Dilip Kumar Roy leu em voz alta um poema em inglês composto por ele sobre Bhagavan, e entoou alguns cânticos para Bhagavan. Mais tarde, perguntou a Bhagavan: "Enquanto todos dizem que é necessária a orientação do Guru, parece que Bhagavan disse que não é necessário um Guru".

      Bhagavan:  "Eu não disse isso, mas sim que nem sempre o Guru tem que ter forma humana. Primeiro, uma pessoa pensa que é inferior e que existe um Deus superior omnisciente e omnipotente que controla o seu próprio destino e o do mundo, e adora-o ou faz bhakti. Quando atinge um certo estágio e se torna apta para a iluminação, o mesmo Deus que ela adorava aparece como Guru e orienta-a. Esse Guru vem só para lhe dizer: 'O Deus está dentro de ti. Mergulha dentro de ti e percebe.' Deus, Guru e o Ser são o mesmo."

      Roy:   "Mas no caso de Bhagavan não houve Guru."

      Bhagavan:   "O meu Guru foi o mundo inteiro. Já foi dito que o Guru não precisa ter forma humana, e que o Ser interior, Deus e Guru são o mesmo".

      Roy:   "Uma vez questionei o meu Gurudeva (i.e., Sri Aurobindo) sobre isto e ele disse: 'Um Hércules espiritual como Bhagavan não necessita de Guru'."

      Bhagavan:   "Tudo no mundo era o meu Guru. Sabe que Dattatreya, quando o rei lhe perguntou quem era o Guru que lhe tinha ensinado o segredo da bem-aventurança, respondeu que a terra, a água, o fogo, os animais, os homens, etc., todos eram seus Gurus, e continuou explicando como alguns destes o ensinaram a escolher o que era bom, e outros o ensinaram quais as coisas que devia evitar como sendo más."


 


http://www.arunachala-live.com/


Quando meramente pensei em Teu nome, Tu me arrastaste para Ti.
Quem poderá conhecer Tua grandeza?



Arunachala Aksharamanamalai
Grinalda de Versos para Arunachala


 


Acredita-se que o mero pensamento em Arunachala tem o poder de libertar a alma da escravidão. Quando era ainda um jovem, Ramana ouviu o nome 'Arunachala' proferido casualmente por um parente mais velho. Sem qualquer razão ostensiva, foi atraído para Arunachala; e fez a épica viagem para o Monte Sagrado, e depois de o alcançar não desejou ir para mais lugar algum. Viveu em Arunachala para o resto da sua vida.

Arunachala espera apenas um pretexto para salvar a alma-devota. É suficiente se ela se lembra do nome; e então o Senhor vem reclamá-la. A alma-devota é arrastada mesmo contra a sua vontade - arrastada para longe dos apegos mundanos, e até ao ser do Senhor. Tal é a grandeza transcendente de Arunachala! Está para além de qualquer limite, para além de qualquer descrição.


 




Tamil Parayana de - Sri Ramanasramam




sábado, 5 de abril de 2014

O Ser e o Não-Ser: A Realidade e o Mundo


Existência ou Consciência é a Única Realidade



Jóias de Bhagavan
       Seleccionadas por
       A. DEVARAJA MUDALIAR
Capítulo II        



EXISTÊNCIA OU CONSCIÊNCIA É A ÚNICA REALIDADE. Consciência mais vigília, chamamos de estado de 'vigília'. Consciência mais sono, chamamos de 'sono'. Consciência mais sonho, chamamos de 'sonho'. A consciência é a tela na qual todas as imagens vêm e vão. A tela é real, as imagens são meras sombras sobre ela.


      O Ser e as aparências nele, assim como a serpente na corda, pode ser bem ilustrado da seguinte forma: Há uma tela. Nessa tela aparece primeiro a figura de um rei. Ele está sentado num trono. Em seguida, diante dele, nessa mesma tela, começa um jogo com várias personalidades e objectos, e o rei na tela assiste ao jogo na mesma tela. Aquele que vê e o que é visto são meras sombras na tela que é a única realidade, o suporte de todas as imagens. Assim é também no mundo, aquele que vê e o que é visto, juntos, constituem a mente, e a mente é suportada pelo Ser ou tem como base o Ser.


      A escola ajata (não-criação) do advaita Vedanta diz: "Nada existe excepto a Realidade Única. Não há nascimento ou morte, nem projecção exterior [do mundo] ou elaboração interior [dele], nem sadhaka (aspirante), nem mumukshu (aquele que deseja ser libertado), nem mukta (aquele que é libertado), nem escravidão, nem libertação. A Unidade Única, apenas, existe sempre".


      Para aqueles que acham difícil de entender esta verdade e perguntam: "Como podemos ignorar este mundo sólido que vemos à nossa volta?", é apontada a experiência do sonho, e lhes é dito: "Tudo o que você vê depende daquele que vê. O que é visto não existe separado de quem vê". Isto é chamado de drishti-srishti vada, ou o argumento de que uma pessoa primeiro cria fora da sua mente e depois vê o que a sua própria mente criou. Para aqueles que ainda não podem apreender isto e até argumentam: "A experiência do sonho é muito curta, enquanto que o mundo existe sempre. A experiência do sonho limitou-se a mim, mas o mundo é sentido e visto não só por mim, mas por muitos, e não podemos chamar esse mundo de não-existente", é dirigido o argumento chamado Srishti-drishti vada, e lhes é dito: "Deus criou tal e tal coisa de tal e tal elemento, e em seguida outra coisa, e assim por diante". Só isso os vai satisfazer. As suas mentes não são de outra maneira satisfeitas, e perguntarão a si mesmos: "Como é possível que toda a geografia, todos os mapas, todas as ciências, as estrelas, os planetas e as leis que os regem ou com eles relacionadas, e todo o conhecimento, seja totalmente falso?". Perante isso é preferível dizer: "Sim. Deus criou tudo isso e assim você vê tudo isso". As diferentes respostas são adequadas à capacidade dos ouvintes.
O Absoluto só pode ser Um.


      Primeiro, há a luz branca, chamemos-lhe assim, do Ser, que transcende tanto a luz como a escuridão. Nela nenhum objecto pode ser visto. Não há aquele que vê nem o que é visto. Depois, há também a escuridão total (avidya) na qual não são vistos objectos. Mas a partir do Ser é emanada uma luz reflectida, a luz da mente pura (manas), e é esta luz que traz à existência todo o filme do mundo, que não é visto em luz total nem em total escuridão, mas apenas em luz suave ou reflectida.


      Do ponto de vista de Jnana (Conhecimento) ou da Realidade, o sofrimento observado no mundo é certamente um sonho, assim como é o mundo, do qual qualquer dor em particular, como a fome, é apenas uma parte infinitesimal. No sonho você mesmo também sente fome. Você vê outras pessoas sofrendo com forme. Você alimenta-se, e movido por compaixão alimenta os outros que você vê que estão com fome. Enquanto o sonho durou, todas essas dores eram tão reais quanto você agora acha que a dor no mundo seja. Foi só quando você acordou que descobriu que a dor no sonho era irreal. Você poder ter comido ao máximo e foi dormir. Entretanto você sonha que está a trabalhar duramente e por muito tempo sob um sol escaldante durante todo o dia, está cansado e faminto e quer comer muito. Então você acorda e percebe que o seu estômago está cheio e que não se mexeu para fora da sua cama. Mas isso não significa que, enquanto você está no sonho, você pode agir como se a dor que sente não fosse real. A fome no sonho tem que ser apaziguada pelo alimento no sonho. As pessoas que encontrou no sonho com tanta fome tiveram que receber comida durante esse sonho. Nunca se pode misturar os dois estados, o sonho e a vigília. Até chegar ao estado de jnana e, portanto, despertar de maya, é necessário fazer serviço social, aliviando o sofrimento sempre que você o vir. Mas mesmo assim, deve fazê-lo sem ahankara, i.e., sem o sentido de 'eu sou o fazedor', mas com o sentimento de 'eu sou instrumento do Senhor'. Da mesma forma não se deve ser pretensioso, pensando 'estou a ajudar um homem inferior a mim. Ele precisa de ajuda. Eu estou em posição de ajudar. Eu sou superior e ele inferior'. Você deve ajudar essa pessoa como um meio de adorar Deus nela. Todo esse serviço é para o Ser, para mais ninguém. Você não está a ajudar alguém, mas apenas a si mesmo.


      O livro Kaivalya Navaneeta colocou seis perguntas sobre maya, e às quais respondeu. Elas são instrutivas:

      1. O que é maya? Resposta: É anirvachaniya ou indescritível.
      2. Para quem surge? Resposta: Para a mente ou ego que sente que é uma entidade
          separada que pensa 'Eu faço isto' ou 'Isto é meu'.
      3. De onde vem e como se originou? Resposta: Ninguém pode dizer.
      4. Como surgiu? Resposta: Através de não-Vichara, devido a não inquirir "Quem sou eu?"
      5. Se ambos existem, o Ser e maya, isso não invalida a teoria do Advaita? Resposta:
          Não necessariamente, pois maya é dependente do Ser como a imagem é da tela.
          A imagem não é real no sentido de que a tela é real.
      6. Se o Ser e maya são um, não se poderia argumentar que o Ser é da mesma natureza de
          maya e que também é ilusório? Resposta: Não, o Ser pode ser capaz de produzir ilusão
          sem ser ilusório. Um mago pode criar para nosso entretenimento a ilusão de pessoas,
          animais e coisas, e nós vemos todos eles tão claramente como o podemos ver a ele,
          mas depois do seu desempenho só ele permanece e todas as visões que ele criou
          desaparecem. Ele não é uma parte da visão, mas sim sólido e real.


      Os livros usam a seguinte ilustração para ajudar a explicar a criação: O Ser é como a tela de uma pintura. Primeiro, é espalhada sobre ela uma pasta para tapar os pequenos orifícios da tela. Essa pasta pode ser comparada com o  Antaryamin (O Morador Interno) em toda a criação. Em seguida, o pintor traça um esboço na tela. Isso pode ser comparado com o sukshma sarira (corpo subtil) de todas as criaturas; por exemplo, a luz e o som (bindu e nada) a partir dos quais todas as coisas surgem. Dentro deste esboço, o artista pinta o seu quadro com as cores, etc., e isso pode ser comparado com as formas brutas que constituem o mundo.


      O Vedanta diz que o cosmos surge à vista simultaneamente com o vidente. Não existe criação por estágios ou etapas. É semelhante à criação em sonho onde o experienciador e os objectos da experiência vêm à existência ao mesmo tempo. Para aqueles que não se satisfazem com esta explicação, são oferecidas em livros as teorias da criação gradual.


      Não é de todo correcto dizer que os advaitins da escola Sankara negam a existência do mundo, ou que o chamam de irreal. Por outro lado, é mais real para eles do que para outros. O mundo deles existirá sempre, enquanto o mundo das outras escolas terá origem, crescimento e decadência, e como tal não pode ser real. Eles apenas dizem que o mundo como "mundo" não é real, mas que o mundo como Brahman é real. Tudo é Brahman, nada existe a não ser Brahman, e o mundo como Brahman é real.


      O Ser é a única Realidade que existe sempre, e é pela luz do Ser que todas as coisas são vistas. Nós esquecemos isso e concentramos-nos na aparência. A luz no salão está acesa tanto quando as pessoas estão presentes como quando estão ausentes, tanto quando as pessoas estão representando algo, como num teatro, como quando nada está a ser representado. É a luz que nos permite ver o salão, as pessoas e a actuação. Estamos tão absorvidos com os objectos ou aparências reveladas pela luz, que não prestamos atenção à luz. Nos estados de vigília ou de sonho, nos quais as coisas aparecem, e no estado de sono em que não vemos nada, há sempre a luz da Consciência ou Ser, como a lâmpada do salão que está sempre acesa. O que se deve fazer é concentrar-se naquele que vê e não no que é visto, não nos objectos, mas na Luz que os revela.


      As perguntas sobre a realidade do mundo, e sobre a existência de dor ou mal no mundo, irão todas cessar quando você inquirir "Quem sou eu?" e descobrir o vidente. Sem um vidente, o mundo e os alegados males do mundo não existem.


      O mundo é da forma das cinco categorias dos objectos sensíveis, e nada mais. Estes cinco tipos de objectos são detectados pelos cinco sentidos. Como todos são percebidos pela mente através destes cinco sentidos, o mundo não é nada mais do que a mente. Existe um mundo separado da mente?


      Embora o mundo e a consciência surjam e desapareçam juntos, o mundo brilha ou é percebido apenas através da consciência. Essa fonte da qual ambos surgem e desaparecem, e que ela própria nem aparece nem desaparece, é a perfeita Realidade.


      Se a mente, a fonte de todo o conhecimento e actividade desaparecer, a visão do mundo cessará. Assim como o conhecimento da corda real não desponta até que a noção imaginária da serpente desapareça, a visão (experiência) da Realidade não pode ser adquirida a menos que a visão sobreposta do universo seja abandonada.


      O que realmente existe é apenas o Ser. O mundo, jiva (o ser individual) e Iswara (Deus) são criações mentais, tal como o aparecimento da prata na madrepérola. Todos aparecem ao mesmo tempo e da mesma forma desaparecem. Apenas o Ser é o mundo, o ego e Iswara.


      Para o jnani, é irrelevante se o mundo aparece ou não. Se ele aparece ou não, a sua atenção está sempre no Ser. Veja a letras e o papel em que estão impressas. Você está completamente absorvido nas letras e não lhe sobra qualquer atenção para o papel. Mas o jnani pensa apenas no papel como o verdadeiro substracto, quer as letras apareçam ou não.


      Você faz todos os tipos de doces de diferentes ingredientes e com várias formas, e todos eles têm um sabor doce, porque todos contêm açúcar, e a doçura é a natureza do açúcar. Da mesma forma, todas as experiências e a ausência delas contêm a iluminação, que é a natureza do Ser. Sem o Ser, elas não podem ser experienciadas, assim como sem açúcar nem um dos bolos que fizer pode ter sabor doce.


      O Ser Imanente é chamado Iswara. Imanência só pode acontecer em maya. Ele (Iswara) é o Conhecimento do Ser, juntamente com maya. A partir do conceito subtil surge HiranyagarbhaDe Hiranyagarbha surge o grosseiro, concreto Virat (mundo, cosmos).
Chit-Atma é apenas puro Ser.


      Quanto à existência de dor no mundo, o sábio explica, a partir da sua experiência no mundo, que se uma pessoa se retira para dentro do Ser, há o fim de toda a dor. A dor é sentida enquanto o objecto for diferente de si mesmo. Mas quando o Ser é percebido como um todo indivisível, quem e o que há para sentir?


      A frase Upanishadica 'Eu sou Brahman' significa apenas que Brahman existe como 'Eu'.




Tradução: Blog 'Texto Meditativo'