quarta-feira, 27 de julho de 2022

Manōnāśa - destruição da mente





Pelo caminho de sua graça que nem os deuses podem conhecer, ele veio como um Mestre, numa forma conhecível pelos sentidos e facilmente acessível aos corações dos homens, colocando sobre a terra aqueles pés santos que brilham como joias luminosas engastadas no alvorecer da sabedoria.

Sri Guru Ramana Prasadam - V. 422, de Sri Muruganar





Quinta-Feira, 7 de Outubro de 2011


Alguém me escreveu recentemente dizendo que acha que o uso da palavra 'destruição' em 'destruição da mente' (manōnāśa) é apenas 'hipérbole indiana' e não deve ser tomada literalmente, porque é óbvio que Bhagavan e outros jñānis pensam, pois sem pensar não podiam andar nem falar. Espero que não haja muitas outras pessoas que tenham entendido mal os ensinamentos de Bhagavan sobre manōnāśa dessa maneira, mas como manōnāśa é o objetivo que ele nos ensinou que devemos almejar alcançar, acredito que a seguinte adaptação da minha resposta a esta pessoa pode ser útil para outros devotos.

Para se compreender o que Bhagavan quer dizer com manōnāśa (a destruição, aniquilação, eliminação, ruína, desaparecimento ou morte da mente), devemos primeiro considerar o que ele quer dizer com ‘mente’ ou manas. No versículo 18 de Upadēśa Undiyār (a versão original em Tâmil de Upadēśa Sāram) ele diz:

A mente é apenas pensamentos. De todos os pensamentos, o pensamento chamado 'eu' é a raiz. [Portanto] o que é chamado de 'mente' é [em essência apenas este pensamento-raiz] 'eu'. 

No versículo 2 do Hino Āṉma Viddai (Auto-Conhecimento) ele indica que o que ele quer dizer aqui com 'o pensamento chamado eu' é o pensamento 'eu sou este corpo' (a ilusão de que o corpo físico é 'eu'):

Uma vez que o pensamento 'este corpo composto de carne sou eu' é o único fio no qual [todos] os vários pensamentos estão amarrados, se se for interiormente [investigando] 'Quem sou eu? Qual é o [seu] lugar [a fonte da qual este 'eu' surgiu, e o solo sobre o qual ele está]?' os pensamentos cessarão, e na caverna [do coração] ātma-jñāna [auto-conhecimento] brilhará espontaneamente como 'eu [sou apenas] eu'.  Isto é silêncio, o espaço único [vazio] [da consciência], a morada da bem-aventurança.

O facto de a mente ser em essência nada mais que a falsa identificação do nosso ser, que é pura consciência de ser (sat-cit), como um corpo físico, que é um objeto não consciente (jaḍa), também é enfatizado por Bhagavan. no versículo 24 de Uḷḷadu Nāṟpadu:

O corpo jaḍa [não-consciente] não diz 'eu' [porque não experimenta a si mesmo]; sat-cit [existência-consciência] não surge [ou vem a ser]; [mas] entre [consciência e corpo] surge um ‘eu’ como a dimensão do corpo. Saiba que esta [falsa consciência 'eu sou este corpo'] é cit-jaḍa-granthi [o nó entre a consciência e o não-consciente], bandha [escravidão], jīva [a alma ou pessoa], o corpo subtil, o ego , este saṁsāra [errância, atividade inquieta, ilusão ou ignorância] e manam [a mente].

Assim, a mente é uma mistura confusa do real e do irreal. O seu elemento real é o seu aspecto sat-cit, 'eu sou', e o seu elemento irreal é o seu aspecto jaḍa, o corpo e todos os outros adjuntos que ela confusamente interpreta de forma errada como sendo 'eu'. O que é destruído em manōnāśa é apenas o seu aspecto irreal jaḍa e não o seu aspecto sat-cit real, que é eterno e, portanto, indestrutível e imutável.

Portanto,  como a mente confunde a consciência (cit) com o não-consciente (jaḍa), ela é chamada de cit-jaḍa-granthi, o nó (granthi) que aparentemente liga a consciência ao não-consciente. Numa conversa registada no último capítulo de Maharshi's Gospel (13ª edição, 2002, página 89, Capítulo Aham and Aham-Vritti) (ou Livro em Português: Ramana Maharshi Ensinamentos Espirituais - Capítulo "Aham e Aham-Vritti", pág. 135-136), Bhagavan enfatiza o facto de que a mente ou ego nada mais é do que cit-jaḍa-granthi:

[...] o ego possui apenas uma característica [relevante]. O ego atua como o nó entre o Eu superior[,] que é a Consciência Pura[,] e o corpo físico[,] que é... insenciente. Portanto, o ego é chamado de cit-jaḍa granthi. Na sua investigação sobre a fonte de aham-vṛtti [o pensamento 'eu'], você toma o aspecto essencial cit do ego; e por este motivo a investigação deve levar à realização da Consciência pura do Eu superior.

Bhagavan diz que este pensamento primordial 'eu' (a falsa impressão 'eu sou este corpo') é a raiz de todos os outros pensamentos e o fio sobre o qual eles estão amarrados, porque é o pensador e experimentador deles, então sem ele nenhum outro pensamento poderia existir. Portanto, todo o pensamento ou atividade mental está dependente desta delusão 'eu sou este corpo', que é a mente ou ego.

No estado de vigília, a mente confunde-se como sendo este corpo presente, e no sonho confunde-se como sendo algum outro corpo imaginário. Os corpos mudam, mas o falso “eu” que toma cada um deles como ele mesmo permanece essencialmente o mesmo. Como toda a nossa vida física é apenas um sonho que ocorre no nosso sono prolongado de auto-ignorância, quando um corpo morre, a mente imagina outro corpo como sendo ela mesma e, assim, passa por uma longa série de vidas físicas (sonhos). É por isso que Bhagavan diz no versículo 25 de Uḷḷadu Nāṟpadu:

Agarrando a forma [um corpo], o ego-fantasma sem forma surge; agarrando a forma [um corpo, objetos percebidos através dos sentidos desse corpo, e pensamentos e sentimentos sobre tais objetos], ele perdura; agarrando-se e alimentando-se da forma [tais pensamentos e objetos], ele cresce [expande-se ou floresce] abundantemente; deixando [uma] forma, ele agarra [outra] forma. [Entretanto] se [alguém] busca [a verdade dele investigando o que ele é], ele levanta voo. [Portanto] Investigue [ou saiba].

Como a mente ou ego não tem forma própria, parece existir apenas prestando atenção às formas (que são todas produtos da sua imaginação), mas se tentar prestar atenção a si mesma, não encontrará nenhuma forma para apreender, por isso diminuirá e desaparecerá.

A mente parece existir apenas na vigília e no sonho, quando ela apreendeu um corpo como sendo ela mesma, mas retrocede e desaparece no sono, porque o sono é um estado em que ela está muito exausta para captar qualquer forma, então ela retrocede na sua fonte para recuperar a sua energia.

Porque o sono é apenas um estado temporário de submergência, é um estado de manōlaya (suspensão da mente), e a partir dele a mente obviamente se elevará de novo. Da mesma forma, a morte e o coma são apenas estados de manōlaya, assim como qualquer submergência temporária ou samādhi alcançado por meio do yōga e outras práticas espirituais que envolvem prestar atenção a qualquer coisa diferente do ‘eu’.

Portanto, no versículo 13 de Upadēśa Undiyār Bhagavan distingue os dois tipos básicos de submergência da mente, temporária e permanente:

A submergência [da mente] é [de] dois [tipos], laya e nāśa. Aquilo que está deitado [em laya] se levantará. Se a [sua] forma morrer [em nāśa], não se levantará.

Neste versículo Bhagavan deixa claro que nāśa é distinto de qualquer tipo de laya (que são todos temporários, porque são estados dos quais a mente mais cedo ou mais tarde se levantará novamente), e que é permanente, porque é um estado no qual a mente está morta e do qual nunca mais se levantará.

Bhagavan escreveu este versículo no contexto de um breve esboço que ele deu de práticas de yōga como prāṇāyāma (controlo da respiração), que por si mesmas só podem acarretar manōlaya e não manōnāśa (como ele explica com mais detalhes no oitavo parágrafo de Nāṉ Yār?, que cito mais abaixo), então no versículo seguinte (versículo 14) ele enfatiza que a mente só será destruída quando praticarmos o caminho único da auto-investigação (ātma-vicāra):
Somente quando [alguém] envia a mente — que se submerge [apenas temporariamente em laya] quando [alguém] restringe a respiração — para o ōr vaṙi, a sua forma cessará [ou morrerá em nāśa].

As palavras do Tâmil ōr vaṙi têm dois significados literais possíveis, '[o] caminho [único ou especial]' e '[o] caminho de investigação [exame ou conhecimento]', mas qualquer que seja o significado que escolhermos, eles se referem ao mesmo caminho, ou seja, o caminho único da auto-investigação (ātma-vicāra).

Bhagavan expressa essa mesma verdade em outras palavras no oitavo parágrafo de Nāṉ Yār? (Quem sou eu?):

Para fazer a mente se submergir [permanentemente], não há meios adequados além de vicāra. Se restringida por outros meios, a mente permanecerá como se tivesse submergido, [mas] emergirá novamente. Mesmo por prāṇāyāma [controlo da respiração], a mente se acalmará; no entanto, [embora] a mente permaneça submergida enquanto a respiração permanece baixa, quando a respiração emerge, ela também emergirá e vagará sob o domínio das [suas] vāsanas [propensões, inclinações, impulsos ou desejos]. [...] Portanto, prāṇāyāma é apenas uma ajuda para conter a mente, mas não acarretará manōnāśa [a aniquilação da mente].

No versículo seguinte de Upadēśa Undiyār (versículo 15), Bhagavan descreve o estado de manōnāśa da seguinte forma:

Quando a forma-da-mente é aniquilada, para o grande yōgi que fica [assim] estabelecido como a realidade, não há uma única ação [ou fazer], [porque] ele alcançou a sua [verdadeira] natureza [que é ser sem-ação].

A pessoa que me escreveu alegando que manōnāśa (destruição da mente) não deve ser tomada literalmente escreveu: 'O pensamento continua, mesmo para alguém como Ramana (e todos os outros Jnanis), caso contrário, como Ramana pode caminhar até à cozinha ou responder a perguntas?', mas neste versículo Bhagavan enfatiza que para os jñānis não há ação alguma, o que significa que não há absolutamente nenhum pensar, falar ou caminhar.

Como ele muitas vezes explicou, as atividades corporais e mentais dos jñāni parecem existir apenas na visão ignorante dos outros (ajñānis), que o confundem com o corpo e a mente que fazem tais ações, porque na visão clara dos jñāni tudo o que existe é apenas o Eu superior, que é pura consciência não-dual de ser (sat-cit). Porque nos confundimos com um corpo e uma mente, confundimos até mesmo o jñāni com um corpo e uma mente, mas para ele (ou ela) não existe tal coisa.

Quando Bhagavan traduziu este versículo para o Malaiala (numa métrica que era mais longa do que as métricas que ele usou nas versões em Tâmil, Sânscrito e Télugo), ele acrescentou uma oração relativa que descreve o grande ātma-yōgi como 'aquele que é visto como humano pela aparência externa' (vēṣattāle manuṣyanāy kāṇum), indicando assim que a forma humana do jñāni é meramente uma aparência externa (vēṣa) que parece ser real apenas na perspectiva dos ajñānis.

É por isso que Bhagavan costumava dizer (como registado no versículo 283 do Guru Vācaka Kōvai e em outros lugares) que o aparecimento do guru em forma humana é como o aparecimento de um leão no sonho de um elefante, pois o choque de ver o leão faz com que o elefante acorde. Embora o leão seja irreal, sendo apenas uma criação da própria mente do elefante, o despertar que ele causa é real. Do mesmo modo, a forma externa do guru é irreal, sendo apenas uma criação da nossa própria mente que sonha, mas faz com que despertemos para o nosso eu real, porque o que vemos externamente como a forma humana do guru na verdade nada mais é do que o nosso próprio eu essencial, que sempre brilha em nosso coração como 'eu sou'.

A verdade que Bhagavan nos ensina no versículo 15 de Upadēśa Undiyār é ensinada por ele igualmente enfaticamente no versículo 31 de Uḷḷadu Nāṟpadu:

Para aqueles que gozam de tanmayānanda [a 'felicidade composta d'aquilo', ou seja, o eu real], que surgiu [como 'Eu sou Eu'] destruindo o [falso] eu [a mente ou ego], o que [ação] existe para fazer? Eles não conhecem qualquer outra coisa além do ser, [então] quem pode [ou como] conceber o seu estado como «é assim»?

Na experiência clara e imaculada de um jñāni, nada existe além do eu, do ser, então não há mente, corpo ou mundo e, portanto, nada para fazer qualquer ação. Esta é uma verdade que Bhagavan repetidamente enfatizou não só nos seus próprios escritos, mas também em muitas das conversas com ele que foram registadas por outros, e é por isso que ele escreveu nos versículos 30 a 33 de Uḷḷadu Nāṟpadu Anubandham:

Assim como uma pessoa que está [aparentemente] ouvindo uma história [mas cuja] mente foi para longe [e que, portanto, não ouve realmente o que está sendo dito], uma mente na qual [todas as] vāsanas [propensões ou desejos] foram destruídas [realmente] não faz [nada] mesmo que esteja [aparentemente] a fazer. [Por outro lado] uma mente que está saturada com elas [vāsanas] está realmente a fazer mesmo que [aparentemente] não esteja a fazer [nada], [assim como] uma pessoa que sobe a um monte e cai num precipício em sonho, mesmo que ela esteja deitada imóvel aqui [neste mundo de vigília].

A atividade [de vigília ou de sonho], o niṣṭhā [absorção ou samādhi] e o sono profundo que estão [aparentemente ocorrendo] para o mey-jñāni [o conhecedor da realidade], que está adormecido dentro do corpo carnal, que é [como] uma carroça, são semelhantes à carroça em movimento, parada, ou que fica sozinha [com os bois desatrelados], em relação a uma pessoa a dormir na carroça. [Ou seja, estes estados transitórios do corpo e da mente não são experimentados pelos jñāni, assim como os estados de uma carroça não são experimentados por uma pessoa que está a dormir nela.]


Para aqueles que experimentam a vigília, o sonho e o sono profundo, o sono-desperto, [que está] além [destes três estados transitórios], é chamado de turīya [o 'quarto']. Uma vez que somente aquele turīya existe, [e] já que os três [estados de vigília, sonho e sono profundo] que parecem [existir] não existem, tenha a certeza [que turīya é realmente] turīya-v-atīta [turīyātīta, aquilo que transcende o 'quarto']. 


Dizer que 'saṁcita e āgāmya não aderem ao jñāni [mas] prārabdha permanece' é uma resposta dada às perguntas dos outros. Assim como [qualquer uma] das esposas não ficou sem ser viúva quando o marido morreu, saiba que [quando] o fazedor [morreu] todos os três karmas cessam.


Uma vez que a experiência do jñāni é que somente o eu, o ser, existe, e nada mais alguma vez existiu, a mente que agora experimentamos não existe realmente, mas é apenas uma ilusão. Portanto, o estado que é chamado manōnāśa (destruição da mente) não é realmente um estado em que algo que existia foi destruído, mas é apenas o conhecimento claro de que nada além do eu, do ser, jamais existiu. É por isso que no versículo 17 de Upadēśa Undiyār Bhagavan diz:


Quando [alguém] examina a forma da mente sem esquecimento, [ficará claro que] nada como ‘mente’ existe. Para todos, este é o caminho direto [reto, próprio, correto ou verdadeiro].


Se virmos uma corda caída no chão na penumbra do crepúsculo, podemos confundi-la com uma cobra. Assim como essa cobra não existe realmente, mas é apenas uma imaginação, esta mente não existe realmente, mas é apenas uma imaginação. E assim como a única realidade subjacente à aparência da cobra é apenas uma corda, assim também a única realidade subjacente à aparência desta mente é apenas o eu, o ser, que é absolutamente não-dual consciência de ser e, portanto, completamente desprovida de todos os pensamentos, percepções. e diferenças.

Por outras palavras, o que agora experimentamos como a nossa mente finita, de facto não é senão o nosso ser infinito, e se o experimentarmos como ele realmente é, não parecerá mais ser esta mente finita, que pensa pensamentos e experimenta coisas que parecem ser diferentes dela.

Portanto, dizer que a mente é destruída por reconhecermos que ela não é senão o ser é como dizer que a cobra é destruída por reconhecermos que ela é apenas uma corda. Tais declarações não pretendem implicar que a mente ou a cobra realmente existiram como tal, porque o que é destruído não é a sua existência real, mas apenas a ilusão de que elas existiram. 

Quando a mente é assim destruída, o cit-jaḍa-granthi (o nó entre a consciência e o não-consciente) é cortado, o que significa que a sua porção jaḍa (não-consciente) (ou seja, o corpo e todos os outros adjuntos que identificamos como 'eu') desaparece, e apenas a sua porção cit (consciência), 'eu sou', permanece, porque é a única realidade.

Como este nó é um conhecimento errado de nós mesmos, ele só pode ser destruído pelo verdadeiro auto-conhecimento, e o único meio pelo qual podemos experimentar o verdadeiro auto-conhecimento é ātma-vicāra, porque não podemos experimentar o que realmente somos a menos que tenhamos uma atenção profunda e vigilante a nós mesmos, retirando inteiramente o nosso poder de atenção de todas as outras coisas. Esta é a verdade que Bhagavan nos ensina no versículo 16 de Upadēśa Undiyār:

Tendo desistido de [conhecer] viṣayas externos [objetos, assuntos, estados, eventos ou experiências], a mente conhecer só a sua própria forma de luz é o verdadeiro conhecimento [ou conhecimento da realidade].

Em estados de manōlaya como sono, coma, morte ou yōga-nidrā (que é um termo que está registado como Bhagavan  tendo usado algumas vezes para descrever qualquer estado de samādhi que é causado por qualquer outro meio que não seja a auto-atenção), a mente se submergiu porque deixou de experimentar quaisquer viṣayas externos, mas o seu desaparecimento é apenas temporário, porque se submergiu sem conhecer claramente 'a sua própria forma de luz' — a sua forma essencial de consciência pura. Para ser destruída, a mente não deve apenas deixar de experimentar quaisquer viṣayas externos, mas também deve experimentar claramente 'a sua própria forma de luz' (que é 'o aspecto essencial cit [consciência] do ego [a mente ou cit-jaḍa granthi]' a que Bhagavan se referiu na parte da conversa registada no último capítulo do Evangelho de Maharshi à qual me referi anteriormente).

A mente não pode experimentar 'a sua própria forma de luz' com absoluta clareza, a menos que tenha desistido completamente de experimentar quaisquer viṣayas externos, mas pode desistir completamente de experimentar quaisquer viṣayas externos sem experimentar claramente 'a sua própria forma de luz', como acontece no sono e em outros estados de manōlaya. É por isso que neste versículo Bhagavan coloca a ênfase em ‘a mente conhecer a sua própria forma de luz’ tornando-a o sujeito da frase, e relega ‘tendo desistido de viṣayas externos’ a uma posição secundária, tornando-a uma oração subordinada.

Ou seja, desistir de experimentar viṣayas externos é uma condição necessária para manōnāśa, mas não uma condição suficiente, enquanto que a mente conhecer a sua própria forma de luz não é apenas uma condição necessária, mas é também uma condição suficiente para manōnāśa. Portanto, o que Bhagavan nos ensina neste versículo extremamente importante - a jóia central de Upadēśa Undiyār - é que para experimentar o verdadeiro auto-conhecimento, que por si só pode destruir a mente, devemos não apenas desistir de experimentar viṣayas externos, mas também experimentar a nossa própria 'forma de luz' — a nossa natureza real, que é a luz absolutamente clara da consciência pura (sem conteúdo).

Em diferentes estados de manōlaya pode haver diferentes graus de clareza de auto-consciência, mas porque não é uma clareza completa, não destrói a mente e, portanto, a mente se erguerá novamente. Além disso, como não podemos fazer nenhum esforço nesse estado, não podemos aumentar o grau de clareza até sairmos desse estado. Somente quando a mente saiu de laya ela pode fazer o esforço necessário para focalizar a sua atenção aguda e exclusivamente sobre “a sua própria forma de luz”.

É por isso que Bhagavan enfatizou repetidamente que, ao praticar ātma-vicāra, não devemos apenas evitar ser levados por quaisquer pensamentos, mas também evitar cair em qualquer forma de manōlaya, e que o único meio pelo qual podemos permanecer firmemente estabelecidos no nosso estado de auto-permanência ou ātma-niṣṭhā (no qual o nosso poder de atenção permanece firmemente equilibrado no ponto central entre os seus dois estados habituais, de pensamento e laya) é por atenta e vigilante atenção à nossa própria 'forma de luz' — o 'aspecto essencial cit' da nossa mente.

O poder de māyā ou auto-engano que nos impede de conhecer a nós mesmos como realmente somos tem duas formas, que são chamadas āvaraṇa śakti (o poder de cobrir, velar, ocultar ou obscurecer) e vikṣēpa śakti (o poder de projeção, dispersão ou dissipação). O primeiro é a falta fundamental de clareza da auto-consciência que forma a escuridão de fundo que permite ao último projetar pensamentos (alguns dos quais parecem existir fora da mente como objetos, estados e eventos do mundo físico), assim como a escuridão no cinema permite que as imagens sejam projetadas na tela. Na vigília e no sonho, ambas as formas de māyā estão a funcionar, enquanto em manōlaya a vikṣēpa śakti deixou de funcionar e apenas a āvaraṇa śakti persiste.

Quando desistimos de experimentar viṣayas externos (que incluem todos os pensamentos, tanto aqueles que parecem existir apenas na nossa mente quanto aqueles que parecem existir fora da nossa mente como objetos e eventos do mundo físico), estamos a suspender temporariamente o funcionamento de vikṣēpa śakti, e assim caímos em manōlaya, na qual permanecemos envoltos em āvaraṇa, o véu da auto-ignorância. Portanto, para nos conhecermos como realmente somos, devemos não apenas desistir de experimentar os viṣayas externos, mas também devemos nos esforçar para experimentar a nossa própria 'forma de luz', porque somente experimentando isso seremos capazes de atravessar esse véu fundamental da auto-ignorância (a nossa falta de clareza de auto-consciência) causada por āvaraṇa śakti.

Visto que a mente e todas as suas múltiplas criações podem parecer existir apenas sob o véu escuro de āvaraṇa śakti, e visto que este véu só pode ser dissolvido pela experiência da auto-consciência absolutamente clara, a fim de destruir a causa fundamental da aparência ilusória da mente, devemos nos esforçar incansavelmente para experimentar o 'aspecto cit essencial' da nossa mente, desprovido de todos os adjuntos não-conscientes (jaḍa upādhi) que agora sobrepomos a ela.

Quando assim experimentarmos o elemento cit essencial da nossa mente sem nenhum dos seus adjuntos jaḍa, rebentaremos o cit-jaḍa-granthi (o nó entre a consciência e o não-consciente), que é muito mais subtil e fundamental do que qualquer átomo físico, e, como Bhagavan costumava dizer (por exemplo, na tarde de 22-11-1945, conforme registado em Day by Day with Bhagavan - Dia a Dia com Bhagavan, edição 2002, pág. 49), a divisão deste átomo mental libertará o poder infinito de jñāna, que instantaneamente e para sempre engolirá a falsa aparência de todo o universo e qualquer outra coisa que possa parecer ser diferente do nosso ser essencial — a nossa pura consciência de ser, 'eu sou'.

Este estado, no qual tudo menos 'eu' foi engolido pela clara luz do verdadeiro auto-conhecimento (como mencionado por Sri Bhagavan no versículo 27 de Śrī Aruṇācala Akṣaramaṇamālai e verso 1 de Śrī Aruṇācala Pañcaratnam), é o nosso estado natural de existência-consciência sem ego (sat-cit), que é o estado real denotado pelo termo manōnāśa, 'destruição da mente'.


Ó Arunachala, sol de raios brilhantes que engolem tudo, faça o botão de flor de lótus de minha mente florir.  

 

Ó Oceano de 'amrita' [a ambrósia da imortalidade], que é a plenitude da graça, Ó Ser Supremo, Arunagiri, que tudo engole pelos seus raios espalhadores de pura auto-consciência, brilhe como o sol que faz meu coração-flor de lótus em botão desabrochar completamente. 

O que Bhagavan descreve nestes dois versículos como o desabrochar do lótus-mente ou lótus-coração é o desabrochar da auto-consciência pura dentro de nós, e o que ele descreve como engole tudo é o que resulta desse desabrochar. Ou seja, quando penetrarmos profundamente no nosso interior e, assim, experimentarmos só o nosso ser, experimentaremos a nós mesmos como a auto-consciência pura e sem atributos que sempre realmente somos, e, na infinita clareza dessa auto-consciência pura, o nosso ego e tudo o mais será engolido para sempre, assim como uma imagem projetada numa tela seria engolida inteiramente se a luz brilhante do sol incidisse sobre ela.








quarta-feira, 14 de abril de 2021

Guru Vachaka Kovai - Grinalda de Palavras do Guru (6)



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Todo o tapas realizado com naturalidade pelos grandes e divinos sábios, que foram libertados da busca de satisfação através dos desejos egoístas, irá beneficiar todas as pessoas deste mundo antigo concedendo todas as bênçãos desejadas e auspiciosas.

Guruvachaka Kovai, 1253
Grinalda das Palavras do Guru, de Muruganar





Uma vez que Sri Bhagavan disse no versículo 30 de Upadesa Undiyar, "Conhecer aquilo que sobrevive à destruição do 'eu' [o ego], por si só é excelentes tapas ... " devemos compreender que os Jnanis estão sempre, pela sua própria natureza, a praticar o mais perfeito tapas. 
Consulte o versículo 303 deste trabalho, a seguir, onde Sri Bhagavan diz que a mera existência de um Jnani na terra é suficiente para remover todos os pecados do mundo, e o livro Dia a Dia com Bhagavan, 1946-09-03, onde Sri Bhagavan diz: "Se um Jnani existe no mundo, a sua influência vai beneficiar todas as pessoas no mundo".





É dito [pelos Sábios] que a mera vida na Terra de um grande Jnani, que sempre se deleita em Sat [i.e., Ser], é em si o supremo e puro uchishtam de Deus, que vai remover todos os pecados do mundo.

Guruvachaka Kovai, 303
Grinalda das Palavras do Guru, de Muruganar




Sadhu Om: A ênfase neste versículo é que mesmo as palavras, ensinamentos e escritos de um Jnani não são necessários, uma vez que a Sua mera existência na Terra é em si suficiente para remover todos os pecados do mundo.









Diz-me, Ó mente, tu que corres tão rápida e errática, como se possuída por um frenesim! Diferente da Consciência que não nasce de qualquer outra coisa, pode haver alguma fonte de manifestação do universo que consiste em coisas que se movem e outras que não se movem? (425) 




Por que muitas vezes se diz que a consciência é a única base para tudo e qualquer coisa? Porque A Consciência, que é a base para tudo o que se surge [isto é, que vem à existência], permanece como a única base até mesmo para a sua própria existência. (426)




Um suporte [isto é, uma base] é necessário apenas para uma coisa inerte, que é asat  [isto é, o que não é existência real]. Por que então surge uma necessidade de NÓS, Sat-Chitprecisarmos de algum outro Chit como nosso suporte? Isto é por causa da ilusão pela qual pensamos que nós somos chittam [mente] impura. (427)



Existem duas versões possíveis para o versículo 428:

Porque a nossa verdadeira Natureza, Ela Própria, é Sat [Existência], ao contrário de outras coisas que são asat, saiba que a base para a Consciência sempre-existente é aquela mesma Própria Consciência Auto-existente. (428a.) 

 Uma vez que 'Eu', a nossa verdadeira natureza, sempre brilha como Existência [Sat], ao contrário de outras coisas que são inexistentes [asat: ou seja, que parecem existir em um momento e não em outro momento], saiba que "Eu" [o Ser], que brilha, por si só [isto é, sem qualquer outra ajuda], é a base para a Consciência sempre-existente [Chit]. (428b.)


Assim, essa Consciência, a própria Realidade, é você, mas em vez de perceber com essa Consciência que você é a própria Consciência e permanecer como É, você percebe o mundo, que se eleva para fora de si, a Consciência, e sofre muito. Enfim, o que posso eu dizer sobre isso!  (429)

Embora o mundo seja visto como fora, é apenas uma manifestação aparente que se eleva de dentro.



Aqueles que não conhecem, através de Auto-investigação, qual é a verdade do seu estado natural [Ser], confundem o corpo estranho como sendo 'Eu' e vêem o mundo como diferente de si mesmos e, portanto, sofrem em ilusão. 
Todas as outras coisas, excepto esse ['Eu'], que brilha como não-iludida Existência – Consciência - Bem-aventurança [Sat-Chit-Ananda], são vistas devido ao jogo enganador de Maya. (430)


Guruvachaka Kovai, 425, 426, 427, 428a,b, 429, 430
Grinalda das Palavras do Guru, de Muruganar













A grande ilusão causada pelo ego ignorante cria o sentido de separação que concebe as diferenças como Guru-discípulo, Shiva-jiva, etc. A realização do Estado de Silêncio onde tal sentido de separação nunca surge é a significativa Namaskaram [reverência], que se deve fazer para com o Guru. (310)


Aquelas pessoas ignorantes que são contrárias à justiça em virtude da sua conduta ofensiva e sem coração, irão, infelizmente, com os seus corações eivados de medo, espancar até à morte criaturas lastimáveis inundadas pelo pecado, como cobras venenosas sibilantes que mordem e matam(813)



Guruvachaka Kovai, 310 - 813
Grinalda das Palavras do Guru, de Muruganar




Sadhu Om: 
A "justiça" mencionada neste versículo significa compaixão para com os seres vivos [bhuta daya], que pode verdadeiramente existir apenas como um resultado do destemor indicado no versículo 310, nomeadamente o destemor até diante da morte. Este destemor vai despertar numa pessoa somente quando a ignorância "eu sou o corpo” é destruída. 
Aqueles em quem essa ignorância não foi destruída irão, naturalmente, sentir medo, devido ao seu apego ao corpo, quando vêem criaturas venenosas tais como serpentes, e portanto irão sentir ódio por elas e vão bater-lhes até à morte. A fim de instruir que é errado fazê-lo, tais hábitos estão descritos neste versículo como "maus hábitos” e “contrários à justiça ", e as pessoas que têm tais hábitos são descritas como "ignorante e indignas". 
Dado que a própria natureza dessas criaturas é serem venenosas e ferirem os outros, diz-se que estão cheias de pecado e que são de lastimar. Portanto, apesar de nos fazerem mal, matá-las não é um acto de justiça.

Sri Muruganar: 
Não só criaturas como cobras venenosas, mas também as pessoas que cometem actos pecaminosos, são motivadas inconscientemente pelo ódio inato. Por isso, por muito pecaminosas que possam ser, não nos devemos zangar, mas devemos apenas ter pena delas pela sua ignorância.









Aqueles cujos actos se desviam do estado de ver e tratar todos igualmente acabam por rejeitar Deus, que é a própria imparcialidade. Embora eles adorem a Deus meticulosamente, de facto contradizem tanto essa adoração, que a anulam.



Guruvachaka Kovai, 818
Grinalda das Palavras do Guru, de Muruganar 




Sadhu Om: 
Dado que igualdade [samatvam] é a natureza de Deus, a Experiência de Deus é chamada de samadhi [o estado em que a mente permanece em equilíbrio]. Assim, aqueles que negam a igualdade a outros, estão a ir contra Deus. 


Sri Muruganar: 
Assim como o sol ou a chuva, Deus não rejeita ninguém. Sri Swami Ramalinga invoca, "Ó Igualdade, que permaneces imparcial, tanto para pessoas boas como más ". 
Portanto, os devotos também não devem desviar-se do estado de igualdade; se se desviam, então a sua adoração a Deus não é válida.










Atma-swarupa, a realidade invariável que permanece uniforme como o Senhor de todos os jivas e como 'Eu-Eu' nos seus corações, brilha na forma da verdade, que é a fonte de todos os dharmas. Portanto, se uma pessoa quebra a sua promessa, mesmo que seja num momento de perigo para a sua vida, isso irá resultar em sofrimento inevitável para ela.

Guruvachaka Kovai, 821
Grinalda das Palavras do Guru, de Muruganar









A PRÁTICA DA VERDADE

A Grandeza da Instrução


As mentes perplexas e confusas dos devotos fluem e fogem para os caminhos sem valor dos sentidos. Esteja certo de que as palavras sábias daquele que tomou firme posse do Coração [o Guru] são os indicadores excelentes para o objectivo de levarem as suas mentes a habitar no Coração, cessando o seu fluxo para fora. (502)



O verdadeiro conhecimento [jnana] não vai amanhecer sem se explorar interiormente a essência da instrução "Tu És Isso” incessantemente proferida, através do Seu olhar eloquente, pelo Sadguru, O Ser, a forma de Shiva [na Terra], habitando no coração dos Seus devotos. (503)


O brilho ininterrupto do Ser, a vida da vida, como a consciência natural “Eu-Eu” no coração é a natureza da dádiva de Deus de upadesa ininterrupta ao discípulo merecedor. (504)

Sadhu Om: 
Este versículo explica ainda as ideias reveladas na instrução: 
"Para algumas almas altamente maduras acontece que o Senhor revela a Realidade a partir de dentro por ser Ele o Conhecimento do seu conhecimento", 
dada por Sri Bhagavan como resposta à oitava pergunta:
"Como é que alguns Sábios atingem o conhecimento supremo, mesmo sem um Guru?", 
no capítulo 'Upadesa' no livro Upadesa Manjari. Este versículo explica como o Ser, sendo o Guru interior, ensina o verdadeiro conhecimento a uma alma completamente madura mesmo sem tomar uma forma humana exterior. O brilho de 'Eu-Eu', a essência da consciência “sou”, é o ensinamento silencioso do Guru interior, o Ser. 
Uma vez que o conhecimento supremo, não-dual, não é senão a Auto-consciência "Eu sou", o seu brilho como 'Eu-Eu' por si mesmo é o conselho interior silencioso do Guru induzindo o discípulo [a mente] a permanecer sempre n’Ele. É assim que o Ser actua como o Guru interior.

 


Guruvachaka Kovai, 502 - 503 - 504
Grinalda das Palavras do Guru, de Muruganar









Saiba que a essência da verdade suprema que é batida [como a manteiga, a partir do leite] a partir dos quatro Vedas, que estão cheios de palavras que dissipam a ignorância, é a palavra única, Silêncio, que é “a unidade da alma individual com o Supremo” [jiva-brahma-aikya].


Guruvachaka Kovai, 505
Grinalda das Palavras do Guru, de Muruganar









Qualidades diabólicas [asura sambat] só trarão ruína. Sabendo bem isto, desenvolva apenas qualidades divinas [deyva sambat]. Apenas Upasana, que semeará qualidades divinas no coração, salvará a sua alma.

Guruvachaka Kovai, 511
Grinalda das Palavras do Guru, de Muruganar





Sadhu Om: 
Aqui, upasana deve ser entendida como agarrar-se a Si Mesmo, ou seja, atender ao Ser, que é Auto-investigação. Pois a Auto-investigação por si só concede toda as qualidades divinas [deyva sambat]. A palavra "sambat" significa “aquilo que é ganho”. Uma vez que todas as coisas ganhas externamente trarão apenas infelicidade ao jiva, só "deyva Sambat" é digno de se ganhar, e é desenvolvido exclusivamente pela Auto-investigação.









O Poder do Yoga

Tendo tomado o gosto do ver através dos sentidos enganadores diminuir, e assim ter terminado o falso conhecimento objectivo da mente, o ego saltitante, conhecer a luz sem luz [prajna ou Auto-consciência] e o som sem som [o Atma-sphurana “Eu sou “] no coração é o verdadeiro poder do yoga [yoga-sakti].  (691)



Uma vez que é só o esforço feito em vidas passadas que depois, amadurecendo, se torna o prarabdha [dos nascimentos presente e futuros], saiba que também é possível, para quem já havia feito esse esforço, mudar o prarabdha através do esforço raro [de se voltar para o Ser].  (692)


Michael James:As palavras "esforço raro" que Sri Bhagavan usa aqui devem ser entendidas como significando apenas o esforço de voltar a mente em direcção ao Ser, porque este esforço é raramente feito pelos jivas e, portanto, é o mais raro de todos os esforços. As palavras "mudar o prarabdha” devem ser entendidas como “transcender o prarabdha”, porque pelo esforço de Auto-atenção a pessoa perde o sentido de individualidade (bem como o sentido de ser o fazedor e o experienciador, que são inerentes à individualidade) e portanto, não pode mais experimentar o prarabdha. Esta ideia é confirmada no versículo seguinte.



Não importa que bons karmas tenham produzido que prazeres ou que maus karmas tenham produzido que dores, como seu resultado; conquiste o poder de ambos mergulhando a mente no seu próprio Ser, a Realidade suprema.  (693)



Sadhu Om:Quando a mente mergulha no Ser, o sentido de ser o fazedor e de ser o experienciador é perdido. Então, uma vez que deixa de haver alguém para experimentar o prarabdha, diz-se que o prarabdha foi conquistado. Consulte também o versículo 38 de Ulladu Narpadu e o versículo 33 de Ulladu Narpadu - Anubandham.

Guruvachaka Kovai, 691 - 692 - 693
Grinalda das Palavras do Guru, de Muruganar









Controlo da Respiração


Desistir do nome e da forma [os falsos aspectos] do mundo - que consiste na existência, consciência, bem-aventurança, nome e forma - é a exalação [rechaka], realizar a existência – consciência – bem-venturança é a inalação [puraka], e permanecer sempre firmemente como existência – consciência – bem-aventurança é a retenção [kumbhaka]. Faça [tal pranayama]. (700)


Sadhu Om: 
Pranayama significa a prática de regular a respiração. No raja yoga, exalar a respiração é chamado rechaka, inalar a respiração é chamado puraka, e reter a respiração nos pulmões é chamado kumbhaka. 
Neste versículo, o verdadeiro significado do pranayama é descrito segundo o jnana marga. Consulte também o capítulo X, 'Jnanashtanga', da obra Vichara Sangraham de Sri Bhagavan, onde esta mesma ideia é transmitida. 

Sri Muruganar: 
Além dos cinco aspectos de Brahman, ou seja, existência, consciência, bem-aventurança, nome e forma [sat, chit, ananda, nama e rupa], as características distintivas do mundo são nome e forma e, portanto, desistir completamente destas duas é rechaka. Portanto, quando o nome e forma ilusórios são abandonados como uma imaginação ou miragem, o que resta são os verdadeiros aspectos [satya amsas], ou seja, existência, consciência e bem-aventurança. 
Uma vez que estes três, que são as características distintivas do Ser, são a realidade do mundo, realizá-los é purakaPermanecendo sempre nessa realização é kumbhaka. Ou seja, destruir as tendências para o mundo [loka-vasanas], realizar o Ser e sempre permanecer como Ele, é o significado de Jnanapranayama. Embora sat, chit e ananda sejam nomeados como sendo três coisas diferentes, na prática eles são realmente uma e a mesma coisa. Neste contexto, ver também o versículo 979 desta obra.



Desistir completamente da noção de "eu sou o corpo" é rechaka; mergulhar interiormente através do escrutínio subtil "Quem sou eu?" é puraka; e permanecer como um com o Ser como "Eu sou Isso" é kumbhaka - tal é jnanapranayama (701)


Sadhu Om 
No versículo anterior foi dito que desistir dos nomes e formas do mundo é rechaka. E uma vez que prestar atenção ao Ser incessantemente é realizar existência – consciência – bem-aventurança, que é a realidade tanto do mundo como de si mesmo, mergulhar interiormente investigando "Quem sou eu?", é dito aqui ser o correcto puraka. Dado que existência, consciência e bem-aventurança na verdade não são três coisas diferentes, mas apenas o Ser, permanecer sempre como Ser é dito aqui ser o correto kumbhaka. Assim, neste versículo, jnanapranayama, de acordo com o caminho de Sri Ramana é explicado de uma forma mais prática.



Quando alguém, que foi iludido e julga que é a mente, e que esteve vagueando [através de nascimentos e mortes], desiste da sua vida de sonho ilusório, investiga o Ser, o seu próprio estado, e permanece sempre como o Ser, esse é o verdadeiro pranayama. Assim deveria saber.  (702) 


Neste versículo, desistirmos da nossa vida de sonho ilusório é entendido como rechaka, investigar o Ser, o nosso próprio estado, é entendido como puraka, e permanecer sempre no Ser é entendido como kumbhaka.



Guruvachaka Kovai, 700 - 701 - 702
Grinalda das Palavras do Guru, de Muruganar









Ele [o Jnanique permanece como Siva em Si mesmo, tendo destruído a mente [o conhecimento limitado "Eu sou tal-e-tal"], reside igualmente em todos os jivas [como o seu Eu real, o conhecimento ilimitado "Eu Sou"]. 

[Por isso] ao meditar sobre a forma [swarupad'Ele, que brilha claramente como um Mukta, [por Sua Graça] a verdadeira luz [do Auto-conhecimento] brilhará a partir de dentro [como o sphurana 'Eu-Eu'].



swarupa do Jnani pode aqui significar tanto Sua forma física como a Sua verdadeira natureza. Mas uma vez que a verdadeira natureza do Jnani é o Ser, a nossa própria verdadeira natureza, que é comum a todos (samanya), e uma vez que este versículo aponta para a swarupa do Jnani em particular (visesha), aqui é mais adequado a palavra "swarupa" significar a Sua forma física. Além disso, quando lemos os outros versículos deste capítulo, podemos perceber que estão todos relacionados com a grandeza da forma física do Jnani e o benefício inestimável a ser adquirido pela associação com essa forma. 
Sri Bhagavan louvava frequentemente a grande eficácia do sat-sang (associação ou contacto com um Jnani), e Ele também costumava salientar que o contacto mental é melhor do que o mero contacto físico (ver Day by Day, 9-3-46) . É por isso que Sri Bhagavan assegura neste versículo que através do pensamento na forma do Jnani, a verdadeira luz do Auto-conhecimento brilhará de dentro. Essa é também a razão pela qual Sri Bhagavan afirmou que pelo mero pensamento na forma de Arunachala, Mukti seria alcançado. 
Portanto, os devotos não precisam recear que o sat-sang de Sri Bhagavan não esteja disponível agora que a Sua forma física desapareceu; o Seu sat-sang está sempre disponível para os voltam a sua mente em direcção a Ele.  
Sri Muruganar:
swarupa de um Mukta reside como o swarupa de Siva em todos os jivas. A fim de revelar que a razão pela qual a verdadeira luz vai brilhar por si própria no coração de quem pratica meditação sobre o Seu swarupa, diz-se, "Aquele que permanece como o próprio Siva", e, "Ele reside dentro de todos os jivas igualmente" 


Guru Vachaka Kovai, 1126
Grinalda das Palavras do Guru, de Muruganar









Apenas a realização do nosso próprio swarupa, que é Brahman, o Conhecimento da Libertação, é o verdadeiro Jnana-Siddhi. Todos os outros oito tipos de siddhis pertencem apenas à mente instável e ao seu poder de imaginação.
  
Guru Vachaka Kovai, 224
Grinalda das Palavras do Guru, de Muruganar



Tradução: Blog 'Texto Meditativo'

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